Após cães mortos em freezer, Canil Municipal de Juiz de Fora (MG) é alvo de nova denúncia

Após cães mortos em freezer, Canil Municipal de Juiz de Fora (MG) é alvo de nova denúncia
Vereadora Kátia Franco (sem partido) esteve no Canil Municipal e registrou em fotos e vídeos a situação dos animais. (foto: Vereadora Kátia Franco/Arquivo Pessoal)

O Canil Municipal da Prefeitura de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, é alvo, mais uma vez, de denúncias de maus-tratos contra animais. Conforme a vereadora Kátia Franco (sem partido), dois cães, cada um em uma gaiola, passam quase 24 horas trancados e sem espaço para locomoção. Nesse sentido, um pit bull estaria preso há cinco dias, enquanto o outro cachorro, da raça rottweiler, permanece na mesma condição há 10 dias.

A nova denúncia vem à tona após um escândalo de grande repercussão no município, quando, em 25 de janeiro, animais mortos foram encontrados dentro de um freezer no espaço. À época, a vereadora, que é dedicada às causas dos animais, também foi a responsável por acionar a Polícia Militar (PM). Como resultado, uma operação foi realizada no local pela Polícia Civil, e a então veterinária e gerente do canil pediu exoneração do cargo.

Agora, em um novo capítulo, a vereadora, que visitou o local no último domingo (3/4), enfatiza que, além dos cachorros passarem boa parte do tempo dentro da gaiola, a qualidade do atendimento a eles está comprometida devido ao número insuficiente de servidores. “Ao todo, 16 funcionários foram retirados do local e apenas cinco vagas foram preenchidas. Os poucos servidores que aqui trabalham estão em seus limites de esgotamento”, afirma.

Operação da Polícia Civil foi deflagrada no Canil Municipal da Prefeitura de Juiz de Fora em 25 de janeiro. (foto: Polícia Civil/Divulgação)
Operação da Polícia Civil foi deflagrada no Canil Municipal da Prefeitura de Juiz de Fora em 25 de janeiro. (foto: Polícia Civil/Divulgação)

Em entrevista ao Estado de Minas, a presidente do Conselho Municipal de Proteção dos Animais (Compa), Michelle Patricia – que acompanhou a vereadora na visita realizada ao canil no domingo – disse que abriu um boletim de ocorrência. “Inclusive, a Polícia Militar de Meio Ambiente nos acompanhou e constatou a situação dos animais”, inicia.

“Cães das raças pitbull, rottweiler, boxer e entre outras não podem ficar em baias coletivas, sendo necessário um local individual. Por terem um comportamento mais agressivo e territorialista, eles seriam um risco para cachorros menores. O canil, no entanto, continua lotado. As baias especiais estão ocupadas e não há previsão de quando outras serão construídas ou, ainda, se surgirá vaga em alguma baia especial para que eles possam sair da gaiola”, explica.

”Falta vontade política”

Tanto a parlamentar quanto a presidente do Compa dizem que o canil está limpo, mas ‘carece’ de uma atenção maior do Executivo. O novo panorama se difere do anterior, quando, no fim de janeiro deste ano, o espaço foi encontrado em condições insalubres, com muitos cachorros, por exemplo, convivendo com as próprias fezes.

“Obras no espaço são urgentes. Infelizmente, a prefeitura deixou a coisa chegar a esse ponto. São apenas seis funcionários lá atualmente, e eles estão esgotados. Um deles me disse que, na medida do possível, os dois animais são levados para dar uma volta. Mas isso está longe de ser o ideal. Animais mantidos há vários dias em gaiolas é algo grave. Isso é maus-tratos!”, destaca.

Prefeitura critica o que qualificou como “invasão”

Em nota encaminhada à reportagem, a Prefeitura de Juiz de Fora diz que “lamenta e repudia mais uma invasão do Canil Municipal”. Segundo o Executivo, “o Corpo de Bombeiros, atendendo solicitação da população, levou os animais para o canil, mesmo ciente de que não haveria vaga no local”.

Logo, a pasta também destaca que “por serem cães de ataque e oferecerem risco aos demais, teriam que permanecer na gaiola”. Por fim, a prefeitura ressalta que “o uso político [das denúncias] é deplorável novamente”. (leia o comunicado completo no fim da reportagem).

A presidente do Compa, no entanto, rechaça a alegação do Executivo de que o canil foi invadido. “Em nenhum momento forçamos a nossa entrada. Tanto a vereadora quanto eu estávamos apenas cumprindo o nosso papel, que é fiscalizar! A nossa entrada foi autorizada”, rebate.

“Fomos lá porque, na semana passada, tomamos conhecimento por um funcionário do canil que, a princípio, um rottweiler estava dentro de uma gaiola há vários dias. Então, não fiz nada além de cumprir a minha obrigação como presidente do Conselho Municipal de Proteção dos Animais”, finaliza.

Proposta de CPI não avança no Legislativo

Em 26 de janeiro, o vereador Sargento Mello Casal (PTB) requereu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias de maus-tratos que resultaram em uma batida da Polícia Civil no canil. À época, Kátia Franco também protocolou um pedido de CPI endossando a iniciativa do colega junto ao Legislativo da cidade.

Porém, dos 19 vereadores da Casa, apenas dois assinaram o requerimento. Para ser efetivada, uma CPI precisa de, no mínimo, um terço das assinaturas dos parlamentares.

Leia na íntegra o comunicado da Prefeitura de Juiz de Fora

“A Prefeitura de Juiz de Fora lamenta e repudia mais uma invasão do Canil Municipal ocorrida na tarde deste domingo, 03 de abril. O fato se repete em data e formato, novamente constrangendo o servidor público de plantão.

Os dois animais que estão isolados em duas caixas são da raça Pitbull e Rottweiler. O Corpo de Bombeiros, atendendo solicitação da população, levou os animais para o Canil, mesmo ciente de que não haveria vaga no local e sabendo que, por serem cães de ataque e oferecerem risco aos demais, teriam que permanecer na gaiola. A despeito disso, estão sendo bem cuidados.

É preciso enfatizar que o constrangimento a servidores e a espetacularização de acusações em nada contribuem para a causa animal e para o Canil Municipal.

A Prefeitura segue cuidando com todo zelo a superlotação do espaço, com ração, medicamento e tratamento. O uso político é deplorável novamente.”

Por Bruno Luis Barros

Fonte: Estado de Minas

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