Emocionante: laboratório de testes em animais é transformado em santuário animal

Emocionante: laboratório de testes em animais é transformado em santuário animal

Voluntários transformaram um antigo laboratório de testes em animais, em um verdadeiro santuário de reabilitação para gatinhos e cachorrinhos.

A história começa em 2010, quando a fundadora e ativista de um projeto de resgate de animais, Shannon Keith, começou a enviar cartas para laboratórios nos Estados Unidos. O pedido era simples: ao final dos testes, que os bichinhos fossem libertados.

A mulher foi bem respondida por um dono de um laboratório em Oklahoma. Os dois continuaram a conversar e, em 2024 ela fez um pedido especial ao homem: “Por que você não se aposenta e me deixa comprar a instalação?”. O pedido foi aceito, e o que antes era um local de pavor para os bichinhos, foi transformado em segurança e amor!

Animais eram sacrificados

Segundo Shannon, muitas das empresas não sabem que após os testes, os animais podem ser enviados para abrigos.

A mulher contou que, na indústria, o normal é que os pets sejam sacrificados assim que as pesquisas e estudos acabam.

Foi assim que ela começou a distribuir cartas para diversos laboratórios que realizam testes em animais nos Estados Unidos.

O objetivo de Shannon, à esquerda, é encontrar um lado para todos os cachorrinhos e gatinhos do abrigo. Foto: Beagle Freedom Project / Reprodução
O objetivo de Shannon, à esquerda, é encontrar um lado para todos os cachorrinhos e gatinhos do abrigo. Foto: Beagle Freedom Project / Reprodução

Manteve contato

Uma dessas cartas foi respondida por um dono de um laboratório em Oklahoma.

No local, os bichinhos eram submetidos a testes por empresas farmacêuticas e de pesticidas.

O dono começou a liberar alguns animais para a mulher, que os acolhia no projeto Beagle Freedom Project (Projeto Beagle Livre, em tradução literal).

Pedido especial

Um dia, quando foi recolher alguns animais que já estavam livres de testes, ela provocou o dono do laboratório.

“O que você acha de se aposentar, deixar de lado a licença para testes em animais e me vender a propriedade?”.

Shannon ainda pediu que todos os animais que estivessem no local, fossem colocados sob a tutoria dela.

Após uma pequena negociação, a propriedade tinha uma nova dona.

Do terror, ao amor

Ao todo, mais de 200 animais viviam no local, incluindo cães, gatos e até alguns coelhos.

Agora, os momentos de terror ficaram no passado.

A propriedade ganhou um novo nome: “Freedom Fields” (campos da liberdade, em tradução livre).

“Nosso objetivo, é claro, é conseguir um lar para todos esses animais. Mas não é fácil,alguns deles estão com muito medo, outros, só querem amor”, disse a ativista.

Cada um dos pets recebe um tratamento especial, personalizado e que leva em conta todas as suas dificuldades.

Santuário e educação

O local também virou um santuário, além de ter foco na educação e conscientização sobre a indústria de testes em animais.

A instalação, que antes era privada, agora recebe famílias em busca de pets para adoção.

Além disso, palestras são realizadas com o objetivo de denunciar a crueldade que os pets envolvidos em testes passam.

Agora, os bichinhos que passaram grande parte das vidas em jaulas, estão ganhando a liberdade e conhecendo que o mundo não é aquilo que eles viveram!

O espaço agora é destinado a proteção, acolhimento e adoção dos animais. Foto: USA Today / Reprodução
O espaço agora é destinado a proteção, acolhimento e adoção dos animais. Foto: USA Today / Reprodução

O uso de animais em pesquisas e experimentos médicos vem sendo aplicado há muitos anos. Quase todos os remédios, dispositivos médicos, procedimentos cirúrgicos e terapias que temos hoje foram obtidos através de testes e pesquisas em animais.

Se você já tomou antibióticos, vacinas, fez uma transfusão de sangue, quimioterapia ou mesmo usa algum produto cosmético, provavelmente se beneficiou da pesquisa com animais.

Apesar de possibilitar inúmeros avanços para a medicina e biologia, ajudando a entender o funcionamento do corpo, o mecanismo de diversas doenças e o desenvolvimento de novos medicamentos, ainda hoje o seu uso é alvo de intensos debates éticos.

Felizmente, diversos métodos alternativos têm sido desenvolvidos para mudar essa realidade. Muitos pesquisadores estão procurando maneiras de reduzir o uso de animais em testes e pesquisas. Devido a inovações na ciência, testes em animais estão sendo substituídos em áreas como testes de toxicidade, neurociência e desenvolvimento de drogas.

A cultura de tecidos é uma dessas alternativas e está impactando positivamente a saúde humana, além de reduzir o número de animais em pesquisa.

Porque os animais são usados em pesquisa?

Embora animais e humanos possam parecer diferentes, em um nível fisiológico e anatômico eles são muito parecidos.

Os animais, de ratos a macacos, têm os mesmos órgãos (coração, pulmões, cérebro, etc.) e sistemas de órgãos (respiratórios, cardiovasculares, nervoso, etc.) que desempenham as mesmas funções quase da mesma maneira.

A semelhança significa que mais de 90% dos medicamentos usados para tratar animais são os mesmos ou muito semelhantes aos desenvolvidos para tratar pacientes humanos. Existem, claro, pequenas diferenças, mas são superadas pelas semelhanças.

Cerca de 95% de todos os animais de laboratório são ratos e camundongos. Pesquisadores gostam de estudá-los, pois a maneira como seus corpos parecem e trabalham internamente é muito semelhante ao funcionamento do nosso. Isso porque compartilhamos aproximadamente 99% do nosso DNA com camundongos.

O genoma desses animais contém basicamente os mesmos genes encontrados no genoma humano. Portanto, estudar como esses genes funcionam em animais, como camundongos, pode também auxiliar na descoberta de novas funções e características envolvidas com problemas que afetam a saúde de humanos.

Aspectos éticos da pesquisa com animais

Desde o princípio da medicina, antes mesmo da Grécia antiga, os animais eram usados em experiências. Seja para entender a fisiologia dos órgãos e sistemas ou mesmo para aprimorar as habilidades em cirurgias. O renomado bacteriologista Louis Pasteur também contribuiu para a validação dos métodos científicos com o uso de animais, ao estabelecer relações entre as enfermidades humanas e as doenças em animais.

A crueldade com os animais e questões éticas envolvendo as pesquisas foram discutidas desde sempre. No entanto, os avanços que os testes proporcionavam também eram indiscutíveis, ajudando a salvar milhares de pessoas a cada nova descoberta.

No século XIX a prática da ciência biomédica, a farmacologia e toxicologia ganharam mais importância e com elas houve o aumento do número de cobaias para testes.

Então em 1842, a Inglaterra cria a primeira organização protetora dos animais, a Sociedade Britânica para Prevenção da Crueldade com Animais.

Em 1959, a publicação do livro “Principles of Human Experimental Technique” pelos pesquisadores William Russel e Rex Burch iniciou o movimento de proteção aos animais usados em pesquisa, implantando o princípio dos 3Rs.

Hoje existem diversas leis de proteção aos animais e a condição de estudos com cobaias exige acompanhamento e regulamentação realizada por diversos órgãos competentes.

Princípio dos 3R (Replacement, Reduction e Refinement)

Os 3R correspondem às suas iniciais em inglês Reduction (redução), Refinement (refinamento) e Replacement (substituição).

O objetivo da redução é diminuir o uso de animais utilizados. Embora eles sejam necessários, podem-se usar outros meios antes de se chegar a essa fase. O refinamento busca minimizar a dor e o estresse do animal através de melhores condutas na pesquisa. E por fim, a substituição, que procura métodos alternativos substituindo assim o uso de animais nos experimentos.

Além de promover o bem-estar do animal, esses princípios estimulam o desenvolvimento de melhores modelos e ferramentas que se aproximam mais da biologia humana, com maior possibilidade de previsão da eficácia e segurança.

Cultura de células e tecidos como alternativa à pesquisa com animais

A cultura de células e tecidos é uma alternativa muito eficiente que levou a avanços científicos significativos, impactando positivamente a saúde humana. Sua aplicação possibilitou ainda a redução do número de animais utilizados em pesquisa.

Ao utilizar células e tecidos cultivados in vitro os resultados também podem ser mais relevantes e reprodutíveis, uma vez que o controle do experimento é maior e mais fácil, além de se aproximar mais das características humanas.

Embora o cultivo in vitro tenha algumas limitações e não consiga ainda simular inteiramente a complexidade do sistema in vivo (como a resposta do sistema circulatório ou nervoso), apresenta-se como uma ótima alternativa para substituição ou mesmo redução do uso de animais.

No cultivo celular, as células podem ser retiradas diretamente de um animal ou ser humano (células primárias) e usadas para uma variedade de experimentos. O cultivo de linhas celulares imortalizadas (HeLa), por exemplo, evolui continuamente, sendo aplicada em um número cada vez maior de pesquisas contribuindo com os princípios dos 3R.

Outro ponto positivo é que a técnica é amplamente aceita na comunidade científica. Pois, fornece resultados confiáveis e reprodutíveis, gerados em um tempo menor, além de ter um custo mais baixo se comparado a experimentos com animais.

Células cerebrais a partir da pele no estudo do Alzheimer

Estudar a progressão de doenças cerebrais como a doença de Alzheimer é extremamente difícil, pois as amostras de células cerebrais são coletadas diretamente do paciente ou só estão disponíveis após a morte.

A Dra. Selina Wray, de Londres, está desenvolvendo uma maneira muito mais segura de estudar células cerebrais de pacientes usando apenas uma amostra de pele. A técnica pode transformar células da pele em células cerebrais em pleno funcionamento, compartilhando as mesmas características genéticas que o cérebro do paciente.

“Usando nossa técnica, as pessoas serão capazes de rastrear rapidamente as drogas em potencial antes de precisar testá-las em animais. Isso reduzirá muito o número de animais necessários, bem como acelerará significativamente o desenvolvimento de drogas para a demência”, explica Wray.

Pele em 3D para teste de cosméticos

A cada dia novas alternativas são desenvolvidas para substituir os testes em animais. A pesquisadora brasileira Carolina Catarino foi premiada pelo Lush Prize 2017, destinado a descobertas de testes que eliminem o uso de animais.

O uso de coelhos e ratos para testes de cosméticos ainda é realizado em alguns países. Em sua pesquisa, Catarino desenvolveu um modelo de pele humana reconstruída in vitro para testar toxicidade. Assim, produtos podem ser testados quanto à irritação e corrosão antes de chegar ao paciente.

No Brasil, a Anvisa, que regula a produção de cosméticos, determina alguns critérios quanto ao uso de animais para esse fim. As cobaias só são permitas para avaliar irritação e corrosão da pele, irritação ocular e toxicidade aguda.

No entanto, uma nova norma estabelece que a indústria de cosméticos deve usar métodos alternativos, reconhecidos pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), abandonando assim uso de animais. As empresas terão até setembro de 2019 para abolir totalmente os testes com animais que já foram reconhecidos.

A pele em 3D tem a composição muito mais próxima da pele humana e pode substituir o uso de animais, principalmente em testes realizados pela indústria de cosméticos.

Fonte: Cerqueiras Portal de Notícias

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