Ibama demite servidora investigada por suposta participação em esquema de tráfico de animais revelado a partir da apreensão de uma naja, no DF

Ibama demite servidora investigada por suposta participação em esquema de tráfico de animais revelado a partir da apreensão de uma naja, no DF

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Ibama, demitiu a servidora Adriana da Silva Mascarenhas, investigada por suposta participação em um esquema de tráfico de animais, no Distrito Federal. O caso é investigado desde 2020, quando o estudante de medicina veterinária Pedro Krambeck foi picado por uma naja, uma serpente exótica, originária da África e da Ásia.

VÍDEO: Naja que picou estudante de veterinária no DF sai de caixa no Zoológico

Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul, que tinha 22 anos à época, criava a cobra, em Brasília, sem autorização e, a partir do acidente que quase levou à morte do jovem, a Polícia Civil abriu um inquérito para apurar o tráfico de animais. A servidora do Ibama foi investigada por participar de um esquema que a polícia chamou de “lavagem de animais”, dentro do próprio órgão (saiba mais abaixo).

A demissão da servidora foi publicada no Diário Oficial da União no dia 6 de julho. A portaria foi assinada pelo ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite. O g1 não conseguiu falar com Adriana da Silva Mascarenhas até a última atualização desta reportagem.

VÍDEO: Naja de Brasília agora é naja do Butantan

Denúncias contra a servidora do Ibama

Em 2020, durante a investigação do chamado “caso naja”, a Justiça Federal, em Brasília, disse que existiam fortes indícios de que a servidora estivesse envolvida com “fatos relacionados à uma organização de tráfico internacional de animais silvestres”. À época, Adriana da Silva Mascarenhas foi acusada de praticar ato de improbidade ao emitir licenças para o transporte de animais que não fazem parte da fauna brasileira.

De acordo com a polícia, a investigação sobre o caso da cobra criada ilegalmente no Distrito Federal revelou um esquema de fraude no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), ligado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo o delegado Willian Ricardo, responsável pelo caso, no Cetas ocorria uma espécie de “lavagem de animais”, já que bichos que chegaram ao país ilegalmente tinham a situação regularizada por meio da emissão de documentos por uma servidora do órgão.

“O animal entrava ali [no Cetas] ilegal e saía com documento de forma que enganava qualquer policial, inclusive do Batalhão Ambiental. Tem lá o timbre do Ibama […] então, na minha visão, isso chama lavagem de animais, semelhante lá com a lavagem de dinheiro”, disse o delegado, à época.

Conforme a polícia, “apenas agentes do próprio Ibama, mais experientes, poderiam descobrir que a situação do animal era irregular”. De acordo com as investigações, a responsável pela emissão das licenças era a servidora Adriana Mascarenhas.

A portaria com o desligamento dela diz que a demissão ocorreu porque Adriana infringiu o artigo 116 da Lei 8.112, que trata do serviço público. O artigo aponta que o servidor deve exercer, com zelo e dedicação as atribuições do cargo, ser leal às instituições observar as normas legais e regulamentares.

A justificativa para a demissão se baseia ainda no artigo 117 da lei, que diz que o servidor é proibido de valer-se do cargo “para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública”.

O caso naja

Em julho de 2020, o estudante de medicina veterinária Pedro Krambeck foi picado por uma naja que ele criava, ilegalmente, em casa. O acidente desencadeou uma investigação que revelou um esquema de fraude no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), ligado ao Ibama.

Em agosto de 2020, a Polícia Civil do Distrito Federal indiciou 11 pessoas suspeitas de participação nos crimes. Entre eles, o estudante Pedro Henrique Krambeck Lehmkuhl, picado pela serpente, a mãe dele, Rose Meire dos Santos Lehmkuhl e o padrasto, o tenente-coronel da Polícia Militar Eduardo Condi.

Seis colegas do jovem e uma professora da faculdade onde eles estudavam também foram indiciados. Pedro e um amigo chegaram a ser presos, mas acabaram soltos após apresentar habeas corpus (veja abaixo como cada um foi indiciado).

Inicialmente, o delegado William Andrade Ricardo, que investigou o caso, havia informado que a servidora do Ibama, Adriana da Silva Mascarenhas, também havia sido indiciada. No entanto, por ser funcionária de órgão federal, o caso passou para a Polícia Federal.

Veja no que cada um foi indiciado:

Pedro Henrique Krambeck

  • Tráfico de animais
  • Associação criminosa
  • Maus-tratos
  • Exercício ilegal da medicina veterinária

Rose Lehmkuhl e Eduardo Condi, mãe e padrasto de Pedro

  • Associação criminosa
  • Tráfico
  • Maus-tratos
  • Fraude processual
  • Corrupção de menores

Gabriel Ribeiro, amigo de Pedro

  • Posse ilegal
  • Guarda ilegal
  • Maus-tratos
  • Fraude processual
  • Associação criminosa

Outros 6 amigos do estudante

  • Fraude processual
  • Posse ilegal

Fabiana Volkweis, professora do curso de veterinária

  • Fraude processual

Por Isabella Melo e Fernanda Irineu

Fonte: G1

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