Já não perseguimos baleeiros japoneses, mas nunca vamos desistir.

Já não perseguimos baleeiros japoneses, mas nunca vamos desistir.
O Capitão Paul Watson lidera a equipe da Sea Shepherd em sua luta para salvar baleias contra um baleeiro japonês, em 2008. (Fotos: Sea Shepherd)

A organização Sea Shepherd conseguiu algo absolutamente notável ao longo dos últimos doze anos.

Em 2005, buscamos enfrentar a maior e mais destrutiva frota de caça às baleias do mundo. Alguns governos e umas poucas ONGs nos disseram que era impossível.

Praticamente ninguém sabia sobre o abate ilegal pelos Japoneses no Oceano Austral.  Estava fora da vista e fora da imaginação. Eles visavam abater 1.035 baleias em um ano, incluindo uma cota anual de 50 baleias-jubarte e 50 baleias-comuns, ambas em perigo de extinção.

Tínhamos poucos recursos, mas levamos o nosso navio maltratado e lento, o Farley Mowat, e perseguimos os baleeiros pelo Oceano Antártico, indo atrás deles apenas por algumas horas de cada vez, até que eles se afastassem de nós.

 

Foto 1: As águas deslumbrantes do Oceano Antártico que foram protegidas pela Sea Shepherd.
As águas deslumbrantes do Oceano Antártico que foram protegidas pela Sea Shepherd.

Em 2006 conseguimos comprar o navio Steve Irwin e as coisas começaram a mudar para melhor, pois  a cada ano nos tornávamos mais fortes e mais eficazes. Adicionamos os navios Bob Barker, Sam Simon, Brigitte Bardot e Ocean Warrior.

A Sea Shepherd foi implacável em reduzir significativamente as quotas anuais em 2012 e 2013, e os baleeiros japoneses foram para casa com apenas cerca de 10% de sua intenção de matar. Fizemos isso ao mesmo tempo em que o Tribunal Federal dos EUA colocava obstáculos legais significativos no nosso caminho.

Os resultados falam por si. Mais de 6.000 baleias foram salvas. Nem uma única jubarte e apenas 10 baleias de barbatana, ambas ameaçadas de extinção, foram mortas em uma década em que 500 estavam previstas para morrer. Além disso, os baleeiros japoneses perderam dezenas de milhões de dólares.

Nós expusemos as atividades ilegais do Japão ao mundo com a série de TV Whale Wars (Defensores de Baleias) e a nossa documentação.

Nós ajudamos a Austrália a levar o Japão ao Tribunal Internacional de Justiça (ICJ), onde suas operações foram julgadas ilegais. O Japão foi ordenado pelo ICJ a cessar e desistir da caça.

Eles fizeram isso por um ano e depois retornaram com um novo programa (também ilegal) que reduziu a sua falsa auto-atribuída quota de matanças para 333 por ano. Isso significa que, desde 2015, outras 1400 baleias foram poupadas pelos arpões letais e que 702 baleias continuarão a ser salvas todos os anos.

Infelizmente, em um esforço para evitar as intervenções da Sea Shepherd, eles duplicaram os campos de matança, o que implica em terem mais tempo e mais área para matar essa sua cota reduzida.

Apesar disso, a Sea Shepherd enviou o Steve Irwin e o Ocean Warrior em busca dos baleeiros em 2016 e 2017, e, embora tenha demorado e custado muito mais, os baleeiros japoneses ainda conseguiram obter a sua quota.

O que descobrimos é que o Japão agora está empregando monitoramento militar para vigiar os movimentos dos navios da Sea Shepherd em tempo real por satélite, e se eles ficam sabendo  onde nossos navios estão em um determinado momento, poderão facilmente nos evitar. Durante a Operação Némesis, os navios da Sea Shepherd se aproximaram, e nosso helicóptero até conseguiu obter provas de suas operações de caça ilegal às baleias, mas nós não pudemos  fechar fisicamente o cerco. Não poderíamos competir com o nível da tecnologia militar deles.

Este ano, o Japão aumentou sua resistência com a passagem de novas leis antiterroristas, algumas das quais são especificamente destinadas a condenar as táticas da Sea Shepherd. Pela primeira vez, declararam que podem enviar seus militares para defender suas atividades ilegais de caça à baleia.

Os baleeiros japoneses não só têm todos os recursos e subsídios que o governo pode fornecer, mas também têm o poderoso apoio político de uma grande superpotência econômica. A Sea Shepherd, no entanto, é limitada em recursos e temos governos hostis contra nós na Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos.

A decisão que temos de enfrentar é: gastamos nossos recursos limitados em outra campanha para o Oceano Antártico, que terá poucas possibilidades de ser uma intervenção bem sucedida, OU nos reagrupamos com diferentes estratégias e táticas? Se algo não está funcionando, o único recurso é procurar um plano melhor, porque quando um plano já não funciona, a única alternativa é uma melhoria no curso de ações.

Precisamos formular este novo plano, e nós o faremos.

Não enviaremos navios para o Oceano Antártico este ano, mas não estaremos abandonando o Southern Ocean Whale Sanctuary. Precisamos cultivar os recursos, as táticas e a habilidade de bloquear significativamente as operações ilegais de caça às baleias da frota baleeira japonesa. Enquanto isso, é hora de o governo australiano cumprir suas promessas. A Sea Shepherd foi ao Oceano Antártico fazer o que o governo australiano tem responsabilidade de fazer, mas se recusou, que é manter as leis de conservação australiana e internacional. Em vez de apoiar a Sea Shepherd, o governo australiano tem apoiado os baleeiros japoneses por nos assediar e obstruir a nossa capacidade de angariar fundos negando nosso status de filantropia.

O que a Sea Shepherd realizou nos últimos doze anos demonstra o que pessoas determinadas podem realizar com poucos recursos, apesar da forte oposição multigovernamental.

Os baleeiros japoneses foram expostos, humilhados, e mais importante, lhes foram negadas milhares de vidas, que nós privamos de seus mortíferos arpões. Milhares de baleias estão agora nadando e se reproduzindo; se não fosse nossas intervenções, elas agora estariam mortas.

Uma das belas baleias salvas dos baleeiros pela Sea Shepherd, com um de seus navios, o Steve Irwin, ao fundo.
Uma das belas baleias salvas dos baleeiros pela Sea Shepherd, com um de seus navios, o Steve Irwin, ao fundo.

E, talvez mais significativamente do que qualquer outra coisa, agora existem vozes no governo japonês que se opõem à continuação da caça às baleias. Nossos esforços têm sido como agulhas de acupuntura presas à sociedade japonesa, sondando e provocando respostas. Expusemos o incrível desperdício de dinheiro, a corrupção e a vergonha que este negócio sujo trouxe para todo o povo japonês. Nossos esforços foram tão significativos que um funcionário japonês disse que o Japão tem dois inimigos: a China e a Sea Shepherd!

Os esforços contínuos da Sea Shepherd para perseguir e fechar os baleeiros continuarão, e não apenas contra a caça japonesa, mas também contra as caças Norueguesa, Dinamarquesa, e Islandesa. Isto é o que temos feito por quarenta anos. Nunca iremos desistir até que a abominável caça às baleias seja abolida para sempre por qualquer pessoa, em qualquer lugar, por qualquer motivo.

A Sea Shepherd está fazendo coisas incríveis no oceano com recursos limitados, além de abordar atividades ilegais de caça à baleia. A vaquita, ameaçada de extinção, agora estaria extinta se não fosse nossa intervenção. Nós bloqueamos toda a frota pirata de caça à merluza-negra no Oceano Antártico. Nós interceptamos e impedimos os caçadores furtivos na África Ocidental, nas reservas marinhas das Galápagos, Sicília e Panamá. Nós removemos centenas de toneladas de redes fantasma e plástico do mar, e o mais importante é que mostramos ao mundo o que algumas pessoas apaixonadas e corajosas podem fazer.

Nosso objetivo é continuar a servir e proteger toda a vida oceânica da exploração ilegal e gananciosa de humanos destrutivos.

A Sea Shepherd é guiada por essa realidade: se o Oceano morre, nós morremos!

Por Capitão Paul Watson, Sea Shepherd / Tradução de Alba Rosa

Fonte: The One Green Planet

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