Mais de 40 cachorros mortos são jogados em terreno e tutores e deputado de Roraima cobram investigação: ‘tratado como lixo’

Mais de 40 cachorros mortos são jogados em terreno e tutores e deputado de Roraima cobram investigação: ‘tratado como lixo’
Animais foram descartados próximo à uma estrada — Foto: Reprodução/Marcinho Belota

“Eu imaginei que meu cachorro não fosse ser tratado como um lixo.” A declaração é de uma tutora que identificou seu cãozinho morto em um terreno no bairro Anel Viário, zona Oeste de Boa Vista, em meio a outros 43 cadáveres de animais. O caso teve repercussão em Roraima neste fim de semana após o deputado estadual Marcinho Belota (PRTB), ativista da causa animal, ir até o local e divulgar vídeos dos cães mortos para que os tutores os identificassem (veja o vídeo abaixo).

VÍDEO: Mais de 40 cachorros mortos são jogados em terreno em Roraima

O parlamentar usou a tribuna da Assembleia Legislativa de Roraima nessa terça-feira (28) para lamentar a forma de descarte de animais na região. A suspeita é que os cachorros tenham sido jogados no Anel Viário por empresas que recolhem animais mortos em clínicas veterinárias.

O caso foi denunciado pelo deputado ao Ministério Público de Roraima (MPRR) e registrado na delegacia no sábado (25) por um veterinário da equipe do ativista e também pela tutora de um dos cachorros. Os dois cobram por uma investigação do caso.

Procurado, o MPRR informou que a Promotoria de Justiça do Meio Ambiente marcou uma reunião com deputado nesta quarta-feira (29) para apurar a denúncia. “A partir daí, tomando conhecimento da denúncia, o MPRR tomará as medidas cabíveis sobre o caso”, esclareceu.

A Polícia Civil informou que o caso foi encaminhado para investigação na Delegacia de Polícia do Meio Ambiente e que “somente com o aprofundamento das investigações é que a Polícia Civil vai se manifestar”.

Nas imagens divulgadas nas redes sociais de Belota, é possível ver dezenas de cães mortos, entre carcaças e cadáveres ainda em bom estado de conservação. Foi por esses vídeos que uma advogada, que preferiu não se identificar, encontrou seu cãozinho Koda. O pastor-branco-suíço morreu em casa devido à problemas na próstata.

“Esse cachorro esteve com minha família há 12 anos, sendo nosso protetor, da nossa casa e é a coisa que nós mais sentimos falta hoje. Aquele animalzinho foi fonte de amor para uma família, mas eles não pensaram nisso, eles só descartaram como se fosse lixo”, lamentou.

Morte e suposta cremação

Ao g1, a tutora conta que o sofrimento da família começou na segunda-feira (20), quando Koda começou a passar mal. Ela chamou uma ambulância destinada a animais para levá-lo à clínica veterinária, mas com a demora para o socorro chegar, o cachorro acabou morrendo em casa.

Ao chegar na casa da família, o motorista da ambulância constatou a morte do animal e então propôs a cremação. O cadáver foi levado para a clínica e a dona do cachorro acompanhou o trajeto. No local, a clínica veterinária apresentou um orçamento de R$ 515 pelo procedimento de cremação. Os valores incluíam o peso do animal (R$ 15 por kg), transporte e taxa para a empresa.

“Até então eu não sabia que aqui poderia cremar, então ele jogou isso pra gente. Como a gente estava no desespero, nós não pensamos duas vezes porque nós não queríamos enterrar nosso cachorro, até porque não pode”, disse a advogada.

Após alguns dias, na quinta-feira (23), a advogada entrou em contato novamente com a clínica para verificar se poderia ficar com as cinzas do animal, o que foi negado.

A atendente informou que a cremação seria comunitária com outros animais e por isso não seria possível. Apesar de não lembrar de ter sido comunicada sobre a cremação comunitária, a tutora aceitou a condição.

“Me disseram que o cachorro ia ser levado na quinta-feira pela manhã, ficou guardado lá no hospital e seria cremado a tarde. Apesar de ter um documento dizendo que ele seria levado ao destino final, a mulher todo o tempo falou que o cachorro ia ser cremado e incinerado”, contou.

Descarte irregular

As dezenas de cachorros mortos foram encontrados na sexta-feira (24) por uma pessoa que passava pelo Anel Viário, uma área de lavrado, localizado próximo à RR-205, em Boa Vista. Um vídeo foi enviado ao deputado e no mesmo dia ele conseguiu ir até o terreno.

A suspeita inicial era que fosse uma chacina, mas ao verificar a situação, junto a um médico veterinário, o deputado suspeitou que fosse descarte de animais vindos de clínicas veterinárias. A maioria dos animais estavam “gelados” e a maioria eram de raças.

“Pegamos alguns animais para amostra, fizemos um vídeo e a população começou a reconhecer esses animais. Eles pagaram por esse serviço, mas nós não estamos aqui para penalizar, julgar a clinica veterinária. Com toda a certeza, pode ser a empresa que faz a coleta e nós vamos atrás de descobrir quem é o responsável”, disse o deputado durante a sessão na Ale-RR.

Após a repercussão, a mãe da advogada reconheceu Koda em um dos vídeos e no mesmo dia entrou em contato com o parlamentar. Os cães foram levados pela equipe do deputado para outra clínica veterinária, onde os donos poderiam ir fazer o reconhecimento. Então, os tutores de Koda foram até o local e o reconheceram.

“Ele estava sem olhinhos porque foi a única coisa que os urubus conseguiram comer dele, porque como ele estava congelado não conseguiu perfurar o corpinho dele, ele estava em perfeitas condições”, explicou a advogada.

Agora, o corpo de Koda segue em uma clínica veterinária sob a responsabilidade da equipe do ativista e deputado até o desfecho do caso. Sem a opção de cremar, agora a família quer dar um enterro digno para o companheiro. Na sessão, Belota chegou a mencionar o caso do pastor-branco-suíço.

“O reconhecimento do seu tutor foi extremamente desastroso, triste. Ver o animal sem olhos, sem membros, que viveu com ele por 12 anos. O senhor tem um cachorro e você imagina deixar ele em um local para ser enterrado com dignidade e ele aparecer assim?”, questionou a outro parlamentar.

“Há uma lei 9605, que diz: causar poluição de qualquer natureza em níveis que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana ou que provoque a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora a pena é de 1 à 4 anos ou multa”, completou.

Agora, tanto a tutora como o ativista esperam pela responsabilização dos culpados e justiça pelos pets jogados no terreno. A advogada adiantou ainda que deve processar a clínica veterinária por maus-tratos.

Por Samantha Rufino

Fonte: G1

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