ONG participa de Projeto de Lei para proibir dedetizadoras de capturar gatos em São Paulo, SP

ONG participa de Projeto de Lei para proibir dedetizadoras de capturar gatos em São Paulo, SP

Na tarde da última terça-feira a ONG Bicho Brother reuniu-se com o vereador Abou Anni (PV-SP) e seus assessores na Câmara Municipal de São Paulo para juntos elaborar um Projeto de Lei (PL) que proíba controladoras de pragas de capturar, transportar, deslocar, tratar e guardar animais domésticos e silvestres.

A sugestão do projeto foi dada pelo vereador e apoiada pela ONG. Nos próximos meses vão acontecer reuniões periódicas para detalhar o PL e submetê-lo a todos os trâmites necessários até a almejada sanção do chefe do executivo, o atual prefeito da cidade de São Paulo, João Dória.

A necessidade de formular e apresentar uma lei que obrigue as dedetizadoras a atuarem apenas e restritamente no controle de pragas é sentida há tempos.

Entretanto, nos últimos anos a situação recrudesceu e passou a incomodar grupos que trabalham com gatos de rua promovendo o controle ético dos felinos. Vários casos foram identificados por ativistas que monitoram as colônias de gatos espalhadas pelas cidades brasileiras.

O caso mais recente

Em julho deste ano uma dedetizadora foi contratada por um condomínio em Aquiraz, cidade próxima de Fortaleza (CE), para “reduzir o efetivo populacional dos gatos realizando a captura para doação a órgãos oficiais de acolhimento dos mesmos”, segundo o comunicado da administração emitido para os moradores.

Ativistas locais e a ONG carioca Oito Vidas tentam, sem sucesso até o momento, saber do paradeiro de mais de 15 gatos que viviam no condomínio.

Silvestres também são alvos

Em novembro de 2014, Carla Sássi, médica veterinária e então gerente da Vigilância Ambiental de Conselheiro Lafaiete (MG), tomou conhecimento que uma desinsetizadora havia capturado um lobo-guará no município de Jeceaba (MG). Imediatamente, a hoje vereadora pelo PSB, contatou a Polícia Militar Ambiental, e em uma ação coordenada, devolveram o animal ameaçado de extinção exatamente para o local em que foi indevidamente capturado. O lobo-guará era uma fêmea e as vidas dos seus filhotes foram salvas.

Carla enviou um ofício relatando o caso para a Promotoria de sua cidade. Pediu providências legais. O documento foi repassado à comarca de Jeceaba, que apenas advertiu a controladora de pragas.

Chamar a sociedade para debater

A ONG Bicho Brother, especialista em Captura, Esterilização e Devolução (CED), trava uma luta incessante para ajustar a conduta das controladoras de pragas impedindo-as de cometer crimes contra a fauna doméstica e silvestre. No ano de 2016 a ONG foi condenada a pagar R$ 20.000,00 para uma dedetizadora sediada em um bairro da Zona Norte da capital paulista. A dedetizadora venceu a disputa judicial em uma ação que acusava a ONG de lhe causar danos morais.

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A luta da ONG chamou atenção do vereador Abou Anni: “Vamos trazer os envolvidos para uma discussão, ONGs, Proteção Animal, autoridades sanitárias e controladoras de pragas. Um projeto de lei serve para apresentar um tema de relevância e ouvir a sociedade”.

Por que um Projeto de Lei?

As empresas controladoras de pragas são regidas por portarias emitidas por órgãos de vigilância sanitária dos municípios brasileiros. Da maneira como estão escritas e dispostas, essas portarias dão brechas à interpretações, como a do biólogo, vice-presidente e responsável técnico da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (APRAG), que em 2015, em entrevista à jornalista Fátima Chuecco, afirmou o seguinte:

“A captura de gatos não é atividade regulamentada, portanto, não está autorizada e nem proibida sua realização por parte de dedetizadoras em locais privados, desde que todos os critérios técnicos sejam cumpridos. Os animais não podem ser feridos porque isso é crime de maus-tratos e não podem ser levados no mesmo veículo onde estão os venenos. Além disso, precisam ser entregues numa ONG. Quem contrata esse serviço tem que ser informado sobre o local da entidade. Tem que ser tudo feito da forma mais correta possível”.

Como sabemos, nada do que as dedetizadoras tem feito é da “forma mais correta possível”. Elas simplesmente estão sumindo com gatos de rua. Essas empresas não têm preparo técnico e nem amparo legal para lidar com a população de animais domésticos e silvestres que povoam as ruas e matas do nosso país.

Elas precisam auferir lucros, e para tanto não podem operar como as ONGs e órgãos públicos que tentam controlar de maneira ética os animais. Gatos e lobos-guará não são pragas.

Quanto custa um gato capturado com uma armadilha adequada, transportado em um veículo seguro, examinado e esterilizado por um médico veterinário, vacinado, catalogado, microchipado, marcado na orelha esquerda e depois devolvido para a colônia onde foi capturado?

Se as controladoras de pragas soubessem o quanto custa praticar Captura, Esterilização e Devolução (CED) como mandam as regras e convenções internacionais, fugiriam em alta velocidade com seus veículos carregados de venenos e seus funcionários que ignoram o que é a Proteção Animal.

Além disso, quando o biólogo desavisado Sérgio Bocalini afirma que os gatos “precisam ser entregues numa ONG”, ele demonstra todo o seu desconhecimento sobre o conjunto de problemas que envolvem gatos de vida livre. Há gatos que não podem ser enclausurados. Não há mais ONGs decentes com vagas em seus abrigos. E qual ONG aceitaria animais de uma controladora de pragas? A problemática dos animais de rua está fora do escopo de atuação e compreensão das dedetizadoras.

Por que essas empresas não respeitam a Portaria Ibama 93/1998, publicada no Diário Oficial da União, que lista o gato como doméstico?

Sabemos que o que essas controladoras de pragas fazem é “livrar” os estabelecimentos de seus clientes de animais historicamente vítimas do descaso social, do crescimento descontrolado das cidades e da ignorância humana.

Portanto um Projeto de Lei é muito bem-vindo. É um sinal claro do amadurecimento de uma sociedade que não quer mais conviver com a intolerância e o lucro advindo da exploração dos animais. Existe um mundo que deseja tratar seus bichos de rua de maneira ética.

Gato não é praga.

Por Eduardo Pedroso


Nota do Olhar Animal: Mesmo outros animais considerados como “pragas” são SENCIENTES, base para considerar que são detentores de direitos morais e que não podem ser simplesmente exterminados, como se previamente houvesse uma justificativa eticamente defensável para tal. Comumente, os animais considerados “pragas” são os sinantrópicos, aqueles que se ambientaram naturalmente à urbanização e ao convívio com o ser humano (à revelia deste). Tal como os ratos. Mas não há diferença relevante alguma entre gatos e ratos que justifique que seja dado um tratamento diferente às duas espécies. É necessário, portanto, que outras iniciativas legislativas incentivem o desenvolvimento e forcem a utilização de técnicas de controle populacional não letais para os animais sinantrópicos.

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