Pedreiro encontra tatu e ouriço mortos no bairro do Rodeio, em Mogi das Cruzes, SP

Pedreiro encontra tatu e ouriço mortos no bairro do Rodeio, em Mogi das Cruzes, SP
Jurandir Luiz dos Santos registrou os animais. (Foto: Juradir/ Divulgação)

Cada dia mais presentes na área urbana de Mogi das Cruzes, animais que integram a fauna da região abrangida pela Serra do Itapeti estão morrendo em razão das dificuldades que enfrentam para conviver com seres humanos, automóveis e até mesmo outros animais, como os cães já acostumados com a vida na Cidade.

Foi o que constatou, na manhã desta quarta-feira, o pedreiro e jardineiro Jurandir Luiz dos Santos, enquanto percorria o Bairro do Rodeio, em busca de emprego.

Ao passar pela Avenida Antonio de Almeida, em direção ao Mogilar, o morador de Jundiapeba foi surpreendido com dois animais pouco comuns, mortos à beira do caminho. Um tatu (Dasypus novemcinctus) e um ouriço (Erinaceus europaens) estavam abandonados em meio ao mato que margeia aquela via. O primeiro não apresentava sinais de violência, enquanto o outro era apenas uma carcaça, onde se destacavam os muitos e perigosos espinhos, sua principal arma de defesa contra ataque de predadores.

“O tatu apresentava mau cheiro, pois acho que deve ter morrido no dia de ontem, já o ouriço estava totalmente deformado. Acho que foi cobra que se alimentou de sua carne”, comentou Jurandir que, impressionado com o que via, sacou o celular e tratou de fotografar o que restou dos animais para denunciar o ocorrido.

Na opinião de Jurandir, pelo menos o tatu pode ter sido atingido por um veículo, quando tentava atravessar a Avenida, durante o período noturno.

“Acho um absurdo isso. As pessoas que usam carros precisam reduzir a velocidade e deixar o bicho passar”, diz ele, indignado também com o fato de vias como aquela, próxima de áreas verdes e de matas, não apresentarem algum tipo de sinalização específica para alertar os motoristas sobre a passagem de animais silvestres na região. Há também a falta de passagens subterrâneas, específicas para os bichos.

“No mês passado, foi uma capivara que morreu por ali, me disse um senhor que reside naquelas proximidades”, completou Jurandir, lembrando que por vias como aquela, próximas da Serra do Itapeti, costumam passar diferentes tipos de animais que não sabem conviver com o movimento de veículos.

O caso da capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) do Rodeio, se realmente existiu, não é o único. Na semana passada, o médico veterinário Jeferson Leite, do Núcleo de Prevenção e Controle de Arboviroses, da Prefeitura de Mogi, foi chamado para atender a um animal semelhante, que apresentava sérios ferimentos. Ele teria sido atingido, possivelmente por um veículo, quando tentava atravessar a Avenida João XXIII, no Distrito de César de Souza. Como o motorista não parou para socorrer, a capivara permaneceu por vários dias à margem da via e já apresentava graves necroses quando foi socorrida. Mesmo recebendo tratamento adequado, o animal não suportou as feridas e morreu, dias depois.

Ratão-do-banhado

Ainda ontem, o mesmo Jeferson voltou a campo, acionado pela Guarda Municipal, para prestar atendimento a um ratão-do-banhado (Myocastor coypus), animal de porte muito maior que o rato comum – chega a pesar 6,4 quilos -, existente em grande quantidade na periferia da Cidade. Ontem, o bicho estava sendo apedrejado por crianças, nas proximidades de uma escola do Jardim Aeroporto III, no Distrito de Braz Cubas.

Por pouco, não morreu. Trazido para a clínica do veterinário, constatou-se que apresentava lesões superficiais, tratadas antes que fosse solto novamente em um habitat a ele favorável.

“A uns 600 metros de onde o animal estava, há uma várzea. Acredito que ele tentou atravessar uma área urbanizada e acabou vítima das pedras atiradas pelas crianças. O ratão-do-banhado é um animal tranquilo, mas quando acuado, pode morder quem o ataca”, alerta o veterinário.

Sinalização

O veterinário que tem se especializado em atender animais silvestres vítimas dos mais diferentes tipos de agressões na Cidade, concorda com Jurandir dos Santos, em relação à necessidade de sinalização adequada para alertar os motoristas sobre a existência desses bichos em vias públicas, especialmente em bairros como Rodeio, Ponte Grande, César de Souza e Vila Industrial, que estão localizados próximos de grandes áreas verdes, ou são cortados pelo Rio Tietê, outro chamariz para eles.

Jeferson diz que já solicitou essa sinalização ao Departamento de Trânsito, mas ainda não foi atendido.

“Há muitos bairros situados em áreas periurbanas, com resquícios de mata, onde vivem muitos desses animais que costumam sair à noite em busca de comida. As avenidas Yoshiteru Onishi e a Lothar Waldemar Hoehne são algumas percorridas durante a noite por bandos de capivaras. De repente, o motorista faz uma curva e dá de cara um esses bichos que costumam ficar sobre o asfalto, até para se aquecerem. Há risco para ele e para os animais também”, diz o profissional.

Causas

As razões podem ser muitas. Mas seja pela devastação e ocupação desordenada na área da Serra do Itapeti, desmatamento ou pela falta de alimentos, o certo é que a presença de aves e animais silvestres na área urbana de Mogi das Cruzes tem crescido assustadoramente, nos últimos meses.

O que mais chamou a atenção foi a presença de uma onça-parda (Puma concolor), que atacou aves e cães na região do Bairro Jardim Aracy, localizado no sopé da Serra do Itapeti.

A mesma onça foi vista, tempos depois, nas proximidades do Motel Primavera, também junto ao Jardim Aracy. O animal teria seguido para a região do Parque Municipal, principal reserva verde do Município, após promover ataques semelhantes na região da Fazenda Tabor, em março passado.

A presença de tucanos (Ramphastos toco) já se tornou rotina em praças e parques de Mogi, assim como os saguis-da-serra-escuro (Callithrix aurita), animais ameaçados de extinção, passaram a ocupar o espaço do Parque Centenário e conviver com os seus visitantes.

Nos últimos tempos, moradores têm postado nas redes sociais fotos de jacus (Penelopinae), pássaros de grande porte, que se aproximam de residências do Rodeio e da região próxima da Barragem do Taiaçupeba, certamente em busca de comida. Dona MariaTerezinha José, moradora do Rodeio, e João Batista do Prado, de Taiaçupeba, são testemunhas da visita dessas aves.

Prado, que mora junto da Barragem, num local mais distante da área urbanizada, costuma aguardar o entardecer para acompanhar a descida de um bando de 12 ou mais jacus num local próximo de sua casa, onde ele deixa comidas que atraem as aves. Dia desses, uma delas acabou se enroscando no interior do jardim de sua casa. Depois de fotografado com a ave no colo, João tratou de devolver o jacu para a natureza.

Fonte: O Diário de Mogi

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