Prefeitura de Manacapuru (AM) tira abrigo de protetora de animais

Prefeitura de Manacapuru (AM) tira abrigo de protetora de animais
O espaço era usado há seis anos por “Norinha” para abrigar os animais abandonados nas ruas. A prefeitura cedeu outro espaço provisória por apenas 30 dias (Foto arquivo pessoal)

Após seis anos cuidando de um abrigo de animais em Manacapuru, na Região Metropolitana de Manaus (AM), a aposentada Eliana Marques, 60 anos, se viu sem saber o que fazer quando a gestão do atual prefeito, Beto D´Ângelo (Republicanos), pediu o espaço de volta. O local havia sido cedido pelo o ex-prefeito, Josiel Alencar, e funciona por meio de doações – e pelo esforço de “Norinha”, como a protetora de animais é conhecida na região. Além disso, amigos dela de Manacapuru e de Manaus se mobilizam para contribuir financeiramente. A revolta dos protetores é grande, pois o abrigo já chegou a ter 50 animais e hoje acolhe 28 cachorros, sendo que oito deles ficam na casa da própria Eliana.

Norinha abriga animais abandonados nas ruas de Manaus e Manacapuru (Foto arquivo pessoal)
Norinha abriga animais abandonados nas ruas de Manaus e Manacapuru (Foto arquivo pessoal)

Ela conta que decidiu criar o abrigo quando trabalhava como assistente administrativa em um hospital e, com o apoio de colegas, solicitou o espaço localizado atrás do Centro de Controle de Zoonoses da cidade, usado para receber animais que vão passar pela eutánasia – procedimento realizado nos que estão gravemente doentes. O espaço foi cedido para que fosse instalado um lugar de acolhimento de animais. “Arrumamos o abrigo que estava muito deteriorado na época, começamos a recolher os animais para castrar e criamos esse grupo”, conta a aposentada.

A protetora de animais passou por várias dificuldades para conseguir manter o abrigo. Ela falou sobre isso nas redes sociais, conseguindo assim receber ajuda de outras pessoas, que contribuíram com doações de ração, entre itens para cuidar dos bichinhos. E, apesar de resgatar voluntariamente os animais das ruas do município, se surpreendeu quando recebeu a notificação avisando que deveria entregar o espaço. Isso aconteceu quando ela se apresentou ao Ministério Público de Manacapuru após ser chamada para ser ouvida pelo promotor e foi avisada sobre o prazo para sair do local – o dia 25 de fevereiro. Segundo a informação que recebeu, ela seria remanejada para um galpão disponibilizado pela prefeitura, onde pode ficar apenas por 30 dias. O lugar, além de não ser apropriado para os animais, também não conta com iluminação.

“Hoje eu estou desesperada, questionei: Dê 60 dias para eu correr atrás e alocar esses animais”, conta. Eliana afirma que a resposta não foi positiva. “Ele disse que não poderia fazer nada e em 30 dias eu vou precisar deixar esse local, porque é do município. E o município não é uma ong. E eu não tenho coragem de jogar esses animais na rua, da rua eles já vieram”, diz ela.

Clóvis Neto, 47 anos, voluntário no abrigo, enfatiza que todo o trabalho realizado tem sido por força de vontade de Eliana, com a ajuda que recebem de pessoas que também amam os animais.

“Nunca tivemos apoio de nenhum órgão público, os animais são vacinados com recursos próprios, vamos trabalhando na medida do possível. Em Manacapuru é triste ver o descaso com os animais, eles necessitam de ajuda, tentamos diariamente ajudar da melhor maneira possível. Mas, infelizmente, além de não colaborar, eles ainda nos tiram a oportunidade de acolher esses animais”.

Segundo Eliana, a prefeitura afirmou que no local será construído uma creche e que também planejam construir um abrigo para animais, mas não foi informada sobre quando isso irá acontecer. Ao receber o comunicado, ela não recebeu alternativas sobre o que fazer.

Ao longo dos anos, a protetora realizou diversos mutirões de venda de comida e roupas para poder castrar e vacinar todos os animais.

“Não acredito que o prefeito não veja isso, é um trabalho que fizemos ao longo de anos, eles não têm compaixão, vão me tirar desse local e me alojar em qualquer canto apenas por 30 dias”, lamenta.

Clóvis afirma que, embora não possam reverter a situação, deseja que pelo menos as pessoas fiquem sabendo do que está acontecendo. “Nós não temos recursos, como vamos ter recursos em 30 dias para tirar os animais de lá? Estou desacreditado”.

Uma das pessoas que contribui com o abrigo é Andrea Belém, 53 anos, professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Ela conhece o trabalho de Eliana há cerca de seis anos e, junto com outros colegas da universidade, começou a arrecadar dinheiro e enviar mensalmente. Os recursos são usados para a compra de ração. Segundo Andrea, no início o espaço abrigava mais de 30 animais, mas vários foram adotados.

“Eu acho o trabalho dela muito sério, muito comprometido, ela nunca abandona eles, não é justo o que estão fazendo. Era um lugar abandonado, sujo e agora que ela ajeitou, querem que saia de lá?”, questiona Andrea.

A Amazônia Real procurou a Prefeitura de Manacapuru buscando mais informações sobre o motivo da retirada do abrigo do local e sobre o planejamento para o futuro desses animais, mas até o momento não houve retorno, apesar da insistência nas perguntas enviadas pela reportagem à assessoria de imprensa do prefeito Beto D´Ângelo.

A situação de Norinha revoltou defensores dos animais em Manaus e em Manacapuru (Foto arquivo pessoal)
A situação de Norinha revoltou defensores dos animais em Manaus e em Manacapuru (Foto arquivo pessoal)

Por Alicia Lobato

Fonte: Amazônia Real

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