Quais as alternativas da indústria farmacêutica para aposentar testes com animais

Quais as alternativas da indústria farmacêutica para aposentar testes com animais
Imagem: Slyfox/Unsplash/Reprodução

O uso dos testes em animais pode estar chegando ao fim –pelo menos na indústria farmacêutica. Pesquisadores já identificam falhas nesse modelo, especialmente nos desafios para comprovar a eficácia de medicamentos contra o câncer, mostrou reportagem do jornal britânico Financial Times.

O estudo de remédios oncológicos já encontrou um possível substituto mais eficaz: são os chamados organoides –estruturas em 3D cultivadas in vitro semelhantes ao tecido primário retirado de pacientes com câncer.

Pesquisas indicam que esses materiais têm até 80% de sucesso em prever a eficácia de um medicamento. Os testes em animais têm apenas 8% de precisão.

O uso desse método comprovou a eficácia de um medicamento da Lift Biosciences, com sede em Cambridge. A farmacêutica testou antes em camundongos, mas o remédio não funcionou. O motivo: os glóbulos brancos dos animais consumiram a terapia antes mesmo que ela começasse a funcionar. Quando testado em organoides, porém, a droga “destruiu completamente” o câncer.

Testes com animais são uma etapa essencial na testagem de medicamentos antes que eles passem para a fase de testes clínicos. Mas a confiabilidade é baixa: muitos remédios eficazes em ratos nem sempre funcionam bem em humanos, e vice-versa.

O que já existe

Os organoides integram o novo campo chamado MPS, ou sistemas micro fisiológicos. Ali são cultivados a partir de células-tronco para criar tecido 3D parecido com os órgãos humanos, só que em miniatura.

Esses termos parecem novidade, mas não são tanto assim. Desde o início da pandemia, em 2020, a medicina viu esse material tecnológico ganhar espaço, especialmente no tratamento de doenças raras.

“Existem 7 mil doenças raras e apenas 400 estão sendo pesquisadas ativamente porque não há modelos animais”, disse James Hickman, cientista-chefe da Hesperos, uma empresa de organoides da Flórida. “Não estamos falando apenas de substituir ou reduzir o uso de animais, mas preencher um vazio onde não existem modelos de animais para a realização desses testes”.

Não só isso, há a questão ética. Ativistas pelos direitos dos animais e ambientais pressionam a indústria para encerrar de vez a exploração animal nos testes em laboratório. A organização Cruelty Free International estima que existem mais de 100 milhões de testes e experimentos em animais no mundo –e pouca ou nenhuma mudança nos últimos anos.

Como afeta a indústria

O corte de gastos em pesquisa e desenvolvimento é uma possibilidade –e um chamariz que interessa à indústria. O uso de organoides no teste de medicamentos tende a afetar a produtividade das farmacêuticas em curto e médio prazo.

“Ao permitir testes em materiais biológicos, podemos ter resultados mais lucrativos dentro de cinco anos, o que seria transformador na lucratividade e nos custos das terapias”, disse o pesquisador de biotecnologia Mark Treherne.

Grandes indústrias, como a britânica AstraZeneca e a alemã Merck, já usam a tecnologia para testes. A AstraZeneca está usando organoides simples para prever a segurança de um remédio no cérebro e rins. Outro estudo prevê a criação de um modelo para o sistema imunológico.

O grupo Merck, por sua vez, decidiu em 2020 que eliminaria gradualmente os testes em animais. A empresa está usando organoides de forma limitada, além de tecidos animais e humanos para testar os efeitos dos compostos.

Por Julia Possa

Fonte: Gizmodo Brasil


Nota do Olhar Animal: É bastante contraditória a afirmação de que os testes com animais sejam “uma etapa essencial na testagem de medicamentos antes que eles passem para a fase de testes clínicos. Mas a confiabilidade é baixa: muitos remédios eficazes em ratos nem sempre funcionam bem em humanos, e vice-versa.” Mais adiante, o texto indica a estimativa de que apenas 8% dos testes com animais preveem a eficácia dos medicamentos. Ora, se o resultado é tão desastroso (e é!), certamente não é “essencial”. Na verdade é inaceitável tanto (e principalmente) pelo aspecto ético como pelo técnico. Há décadas, os testes tecnicamente válidos ocorrem na fase de testes  clínicos. Ou seja, os testes eficazes têm sido aqueles feitos, na realidade, nos humanos. E, portanto, os métodos que substituem o modelo animal estão colocando a Ciência nos trilhos. E isso graças principalmente ao movimento de defesa dos animais.

O modelo animal

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