Quinta morte de boto pescador no ano em Santa Catarina acende alerta entre pesquisadores

Quinta morte de boto pescador no ano em Santa Catarina acende alerta entre pesquisadores
Foto: Ronaldo Amboni / Divulgação / Divulgação

Mais um golfinho da espécie Tursiops truncatus, conhecida por boto da tainha ou boto pescador, foi encontrado morto nesta quinta-feira em Laguna, no Sul do Estado. A fêmea com idade entre 2 e 3 anos é o quinto indivíduo da espécie recolhido sem vida este ano pelos pesquisadores da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Ela ficou emalhada em uma rede na foz do Rio Tubarão, e a necropsia apontou afogamento e edemas subcutâneos causados pelo equipamento de pesca.

O animal foi avistado por moradores na manhã de quinta-feira, e além dele, outro boto também estava preso à rede. Os pescadores conseguiram soltar o segundo boto, mas a fêmea não resistiu. Ela tinha 1,97m de cumprimento, 87 quilos, e ainda não se encontrava em período de reprodução, o que ocorre por volta dos seis anos. Nascido no complexo lagunar, o boto era um dos cooperados reconhecidos pelos locais, que junto com a mãe, ajudava os pescadores na localização dos cardumes.

Para o professor de Engenharia de Pesca e Biologia Marinha Pedro Volkmer de Castilho, pesquisador do comportamento dos botos, é preciso agir rápido. A média de botos monitorados é entre 48 e 52 na região, porém além das cinco mortes já confirmadas este ano, mais dois animais estão desaparecidos há pelo menos dois meses. Isso significa que o número de mortes já ultrapassou os 10% ao ano, índice que pode levar à extinção da espécie dentro de uma década, se nada for feito.

— A gente passa a entrar em uma fase de inviabilidade populacional, entrando em vias de extinção. Se não fizer nada, em dez anos a população a população estará extinta. Esse cenário de ontem nos preocupa mais, pois nos outros casos eram machos, adultos, velhos, dessa vez é uma fêmea jovem, nem em idade reprodutiva estava ainda, não teve nem chance de procriar, isso preocupa — explica o pesquisador.

Segundo ele, a luz amarela de alerta já foi acessa no início do ano, quando houve a confirmação de três mortes. Chegando a cinco, o alerta já é vermelho, explica. Para ele, a suspensão das atividades com rede de pesca na área de vida do boto seria uma das ações imediatas a serem tomadas, até que se encontre outro modelo. Ele lembra que Laguna foi denominada a Capital Nacional dos Botos Pescadores no ano passado, e que a espécie precisa ser preservada.

Pescador de final de semana

A rede colocada na foz do Rio Tubarão, que emalhou os animais, pode ser obra de pescadores de final de semana, apontam os moradores. Em conversa com os pesquisadores, eles relataram que a colocação de redes em locais perigosos para os botos é mais comum durante os feriados e finais de semana, quando a fiscalização é menor. Quem depende da pesca em parceria com o boto para o sustento da família é um defensor dos animais, explica o professor Castilho.

— Nós temos o apoio dos pescadores locais, eles sabem que esse tipo de rede é colocado por pescador que não é de Laguna, que não interage com o boto, coloca à noite e vai embora. Tem que investigar, tem que ir a fundo, e quem observar a irregularidade também tem que denunciar. Não é pescador profissional, é de final de semana. Quem conhece a região não atravessa uma rede na boca do rio — analisa.

Por Lariane Cagnini

Fonte: DC

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *