Soltar pipas é cultural

Por Leonardo Maciel  

Chegam as férias escolares de julho, este ano antecipadas pela copa do mundo, e começa o festival de pipas. Crianças correndo por todo lado, os parques cheios e os céus coloridos de pipas de todas as cores. Afinal, soltar pipas é cultural e um programa para pais e filhos. Ensina-se que não se deve soltar pipas perto da rede elétrica e que não se deve usar o cerol. Muitos motociclistas foram vítimas do cerol e hoje ele é combatido pelo risco à vida humana.

O que não é divulgado é que nesta época, os acidentes envolvendo aves crescem assustadoramente. Centenas delas são vítimas das linhas de pipas em suas asas e chegam aos centros de triagem de animais selvagens, recolhidos por populares e pelas polícias ambientais presos em um emaranhado de linhas. Não se computa os que não chegam sequer a ser recolhidos, morrendo lenta e dolorosamente por feridas e inanição. Muitas destas aves são sacrificadas por perderem a capacidade de vôo, uma vez que não há santuários em número suficiente para recebê-las.

leonardo pipas cerol1

Existe atualmente uma grande quantidade de espécies de aves que se adaptaram ao meio urbano, como corujas, gaviões, falcões, bem-te-vis, pombas, rolinhas, sabiás, urubus, garças, entre outras. Nós, porém, não temos o hábito (ou tempo) de observá-las em nossa rotina alucinante. Elas chegam feridas, sangrando, desidratadas e com muita dor. Em apenas uma ONG de apoio à polícia militar ambiental na região metropolitana de Belo Horizonte, no ano de 2013, foram acolhidas mais de 1500 aves, a maioria feridas com linha de pipa.

Não é somente o cerol a causar ferimentos. A linha pura igualmente fere a pele delicada das aves e é também uma armadilha fatal espalhada pelas árvores urbanas, como um campo minado.

leonardo pipas cerol2

Há um tempo atrás, considerava-se cultural soltar balões e devido aos incêndios que causavam foram banidos. Hoje ensina-se às crianças que soltar balões não é legal, mas não se ensina que soltar pipa é maléfico porque na nossa cultura antropocêntrica a dor do outro não importa muito, principalmente quando o outro não é da nossa espécie.

Temos a tendência de colocar acima de qualquer suspeita o que identificamos como “cultural “, que na verdade se tornou uma justificativa para nossos prazeres ou atitudes nem sempre justificadas se analisarmos por uma ética mais ampla. A nossa espécie já deveria estar suficientemente crescida para saber decidir o que é culturalmente aceitável, o que queremos que nos represente ou não. Os questionamentos sobre o que é culturalmente aceitável acontecem quando nossa espécie é a prejudicada, direta ou indiretamente. Um exemplo bem claro são as queimadas, que são combatidas por prejudicarem o solo que usamos e não por matar de maneira covarde e dolorosa os animais.

Talvez seja a hora de questionarmos o que seja cultura na espécie humana porque podemos decidir, escolher, modificar e fazer de nossa cultura uma cultura de paz ampla.

leonardo pipas cerol3 


{article 957}{text}{/article}

Olhar Animal – www.olharanimal.org


 

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *