Cães em idade avançada ou com deficiência são esquecidos em feiras de adoção

Cães em idade avançada ou com deficiência são esquecidos em feiras de adoção
Apadrinhar um animal, aos finais de semana, pode dar início à relação (Foto: Fernanda Luz/AT)

Bob é um poodle que foi invisível em boa parte da sua vida. Durante anos, tentava ganhar um lar em feiras de adoção de animais, mas ninguém percebia a existência dele. Ninguém levava o bicho para casa porque ele não tem um dos olhos.

Toda vez que a Coordenadoria de Defesa da Vida Animal (Codevida)m em Santos, SP,  faz feira de adoção de cães idosos ou com alguma deficiência, acontece algo parecido: quase todos voltam para a baia sem um dono e um lar. Os cachorros mais velhos são sempre colocados de lado.

Para Leila Abreu, coordenadora da Codevida, é preciso discutir o que é preponderante na hora de escolher um cachorro para casa. “As pessoas precisam entender que a gente não é eterno. A gente tem que se preocupar com a vida deles. A preocupação deveria ser: eles têm de ir embora antes de mim, porque não sei o que vai ser deles se eu for primeiro”, diz.

Segundo Leila Abreu, até mesmo os cidadãos idosos não curtem muito a ideia de levar um cão mais velho para casa. “Quando eles chegam nas feiras, na hora, se decepcionam, porque eles vieram procurar filhotes”, argumenta.

Ela explica que o comportamento do brasileiro na hora de adotar um cachorro é estimulado por uma série de mitos e preconceitos. “Um cachorro preto de porte médio está fadado a viver em baia de adoção para o resto da vida. Machos também”, relata.

De maneira geral, as pessoas costumam preferir fêmeas porque ainda acham que macho levanta a perna pra fazer xixi em qualquer lugar. “Os machos castrados já não têm mais isso, muito pouco mantêm esse comportamento”.

Outro erro citado por ela é a pessoa adotar com base no tamanho do bicho. “Na Europa e Estados Unidos, as adoções acontecem por temperamento. Às vezes, você adota um pastor alemão dócil, que mora em um quitinete e sai três vezes por dia, sendo equilibrado. Pode adotar um pinscher e ter um problema para o resto da vida”.
Terceira idade

A vida do poodle Bob mudou quando a dona de casa Mônica Macedo, do Marapé, começou a fazer trabalho voluntário na Codevida. “Ele ficou na minha cabeça. Ele tem um olho só e as pessoas não tinham interesse por ele”, conta.

Primeiro, Mônica pegou ele como “madrinha” de fim de semana. Foi amor à primeira vista. “Quando o cachorro é adulto, você já sabe se ele é dócil. O problema é o temperamento. Às vezes, você pega um filhote e não sabe como ele vai ser”.

Durante 17 anos, antes da chegada do Bob, Mônica teve outro cachorro, o Schumi. Quando cresceu, ele mudou de temperamento e chegou a morder o filho da dona de casa. “O Schumi envelheceu e com as doenças ficou mais agressivo”, conta.

Os veterinários da Codevida estimam que Bob tem entre seis e sete anos. “Com certeza, vou sofrer quando ele for embora, mas o tempo que viver com ele vai ser precioso”, admite Mônica, que adotou o cão em abril deste ano.

Por Gustavo T. de Miranda

Fonte: A Tribuna

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