Justiça libera funcionamento de clínica acusada de vários crimes contra os animais em Nova Lima, MG
Em novembro de 2019, a prisão do casal de médicos veterinários Marcelo Simões Dayrell e Francielle Fernanda Quirino dos Santos, proprietários da Animed Hospital Veterinário, em Nova Lima (MG), levantou a polêmica sobre como algumas empresas do ramo atuam nos bastidores.
Com 12 anos de atividades no mercado e ampla infraestrutura, a clínica veterinária 24 horas, aparentemente, estava acima de qualquer suspeita. A surpresa veio quando a operação Arca de Noé, realizada pela Polícia Civil, em 2019, revelou que no local eram cometidos diversos crimes, entre eles estelionato, maus-tratos e crimes ambientais.
A investigação culminou na suspensão do exercício da profissão dos veterinários responsáveis e suspensão do exercício da atividade na empresa Animed. A determinação foi dada pela justiça, tendo em vista que mesmo já havendo, anteriormente, três processos éticos para apuração de denúncias, o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG) declarou não ter encontrado nenhuma irregularidade no local. Os veterinários foram soltos, mas seguem com os registros suspensos.
Recentemente, nota divulgada pela Animed informou que havia sido autorizada pela Justiça a retomar suas atividades. Desta vez, tendo como diretora clínica a veterinária Tatiane Manzano. Ainda segundo o comunicado, as denúncias feitas através de investigação realizada pela Polícia Civil e Ministério Público são falsas, e afirma que a clínica tem sido vítima de campanha difamatória.
Contudo, o processo segue em andamento, e o recurso que levou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a determinar o retorno das atividades na clínica deverá ser novamente apreciado pelo órgão, com possibilidade de reversão da decisão, após manifestação da procuradoria do Ministério Público.
Entre as acusações apresentadas contra a Animed constam a realização de cirurgias em animais sem haver indicação para o procedimento. Diagnósticos errados, congelamento de animais que os tutores acreditavam estar vivos para cobrança indevida de diárias, coleta de sangue – sem autorização – de pets levados para banho e tosa, reaproveitamento de próteses de animais mortos em novos pacientes – com grave risco de contaminação e descarte irregular de lixo hospitalar.
Comissão pede justiça
Durante o processo investigativo realizado pela Polícia Civil para apurar as denúncias feitas contra a clínica, ex-clientes, profissionais da área veterinária, protetores e simpatizantes da causa animal, criaram a Comissão Justiça para as Vítimas da Animed. “Sabemos que nenhum juiz decreta a prisão de alguém sem que haja provas robustas. Por isso, é inadmissível que um lugar como aquele seja reaberto como se nada tivesse acontecido”, diz a educadora canina, Juliana Reis, integrante da comissão. “Um desrespeito à vida e incentivo à impunidade”.
A tragédia de Malu
Em julho de 2019, no dia 6, a cadelinha Malu, dois anos, da raça beagle, foi atropelada e sofreu várias fraturas. Em busca do melhor atendimento para salvá-la, o clínico geral David Pires Barreto, deixou Lagoa da Prata, cidade onde reside, para encaminhá-la à clínica Animed, em Nova Lima.
A esperança é que após tantos quilômetros rodados e mediante o pagamento antecipado de R$ 10 mil, a cadelinha se recuperasse da melhor forma possível. Chegando à clínica, no mesmo dia Malu foi operada para correção de fratura do fêmur e bacia, ambas do lado esquerdo.
“Posteriormente eu soube que, já neste procedimento, o pós operatório evoluiu para paralisia total da pata traseira esquerda e anemia grave. No entanto, o veterinário Marcelo Dayrell negou a hemorragia e alegou que Malu havia perdido metade do sangue por conta de uma doença chamada erliquiose, provocada por carrapato”, diz Davi.
O sofrimento de Malu não parou por aí. Três dias depois, em 09 de julho, outra cirurgia foi realizada – após uma transfusão de sangue – para correção de fratura na bacia. Desta vez no lado direito. “O quadro de anemia piorou e a ferida cirúrgica do lado esquerdo já estava com clara evolução de necrose dos tecidos”, conta o tutor.
No dia 13 de julho, outra notícia alarmante. “Recebi uma ligação anônima de alguém que sabia informações minhas e detalhes da internação da Malu, e me alertou que outra cirurgia seria feita para encobrir erros cirúrgicos. Apesar de eu ter ligado para impedir o procedimento, a cirurgia foi realizada sem a minha autorização”. Davi acabou levando a cadelinha para outra clínica, mas a mesma não resistiu. Foi a óbito em 19 de julho.
Segundo Davi, as informações sobre os procedimentos realizados na Malu, enquanto estava na Animed, foram retiradas de depoimentos fornecidos à Polícia Civil e CRMV-MG por profissionais que trabalhavam no local. O tutor também encaminhou o corpo da cadelinha para necropsia realizada na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Todas as denúncias foram confirmadas. Haviam parafusos e placas soltas, infecção maciça com necrose, pontos rompidos, entre outros fatores que evoluíram para uma infecção generalizada e sua consequente morte”. Para ele, se o CRMV-MG tivesse agido preventivamente diante das primeiras denúncias contra a clínica, muito sofrimento poderia ter sido evitado. “Com certeza a Malu não teria sido mais uma vítima”.
Por Daniela Costa
Fonte: Blogs Uai