Prefeitura de Blumenau (SC) abre sindicância para apurar eutanásia em cadela paraplégica que fugiu de casa

Prefeitura de Blumenau (SC) abre sindicância para apurar eutanásia em cadela paraplégica que fugiu de casa
Dona da cadela manifestou tristeza nas redes sociais quando soube da morte da cadela de estimação (Foto: Facebook/Reprodução)

O prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes, determinou a abertura de uma sindicância interna para apurar a eutanásia de uma cadelinha feita pelo Centro de Prevenção e Recuperação de Animais Domésticos (Cepread). Aline, que era paraplégica, se perdeu de casa e no mesmo dia foi sacrificada. A tutora do animal foi informada no dia seguinte, quando foi ao Cepread com a intenção de buscar Aline. “Foi um choque para mim, para minha família”, conta Fabiana Bueno.

O caso ocorreu na terça-feira (13) na cidade do Vale do Itajaí. Aline estava com a família de Fabiana desde outubro do ano passado. Ela foi adotada após ficar cinco meses internada. Mesmo sem o movimento das patas traseiras, ela caminhava, se arrastando.
Por volta das 11h de terça, o jardineiro foi embora da casa da família e a cadela acabou fugindo. “Ele confirmou que ela saiu junto e ele achou que ela poderia sair, dar uma voltinha. Moro no final de rua”, diz a tutora.

No mesmo dia, Aline foi encontrada cerca de cinco quilômetros distante de casa e levada para o Cepread. “O pedreiro de uma empresa resgatou a cachorra, chamou o Cepread que foi até o local. Estava no Bem Estar Animal, a gente imaginou que ela estava segura”, diz a auxiliar de veterinária Gabriela Kalvelage, que ajudou da adoção de Aline por Fabiana.
Na manhã seguinte, a família foi informada que Aline havia sido sacrificada. “Eles decidiram fazer a eutanásia e foi um choque. Depois disso, não me recordo mais o que eles falaram, porque eu jamais imaginei que duas pessoas que estudam e que fazem o juramento para salvar animais, para dar a eles um pouco de qualidade de vida nessa situação, iriam optar por fazer a eutanásia”, afirma Fabiana.

Família não foi procurada

Segundo Luis Carlos Kriewall, responsável pelo Cepread, a decisão pelo sacrifício do animal foi tomada após avaliação de três veterinários.

“Ela estava com escoriações, pois justamente estava se arrastando. A gente não sabe há quanto tempo estava solto naquela condição e consideramos isso um estado de sofrimento. Se os três veterinários que fizeram aquela avaliação viram realmente que ela estava sofrendo e que não haveria um tratamento específico, como inclusive está posto em lei, nós então fizemos essa opção”, declara Kriewall.

Segundo ele, a família não foi procurada pelo Cepread. “Isso não é de protocolo, sairmos atrás de proprietário. Se houver uma manifestação de um proprietário, aí assim nós vamos verificar se realmente é o proprietário e a gente faz a entrega do animal”, afirma.
Ainda segundo Kriewall, a decisão foi tomada rapidamente por “sobrelotação” do Centro.

Família vai procurar a Justiça

A família quer entrar na Justiça contra a prefeitura e os responsáveis. Conforme a advogada da família, em casos de eutanásia existe uma legislação sobre medicamentos e protocolos utilizados.

“Vamos entrar com uma ação criminal e uma civil contra o Cepread, a prefeitura junto, o veterinário responsável pelo órgão. Quero ver se vão juntar para nós esses protocolos. Duvido que eles tenham seguido os procedimentos exigidos pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária”, alega Rosane Magaly Martins, advogada da família.

Uma manifestação também está sendo mobilizada pela família para quarta-feira (19).

Reunião na prefeitura

Após a repercussão do caso na cidade, uma reunião foi realizada na prefeitura no domingo (18) e foi decidido pela sindicância interna.

Em nota, a prefeitura de Blumenau informou que “a equipe do Cepread seguiu protocolo validado pela lei Nº 1.489 (do Código do Bem Estar Animal, aprovado há pouco mais de um ano pela Câmara de Vereadores após ampla e longa discussão no legislativo) para realizar o procedimento na cachorra que estava em sofrimento, tendo sido consultada uma junta de veterinários”.

Ainda segundo a prefeitura, uma campanha deve ser realizada para incentivar os moradores a identificarem seus animais de estimação.

Fonte: G1


Nota do Olhar Animal: Mais uma vez o termo “eutanásia” é usado para se tentar amenizar um ato hediondo. Se um animal está em condição de sofrimento e a situação é irreversível, dá-se o nome “eutanásia” ao ato de interromper sua vida. É uma ação de caráter misericordioso. Fora dessas condições, o ato pode ser chamado de “extermínio” ou “assassinato”, mas nunca de “eutanásia”. O fato do animal ser paraplégico não significa que está em estado de sofrimento. Ter “escoriações” muito menos. Pior ainda é a alegação de “sobrelotação do CCZ”, como se a eutanásia servisse para atender às conveniências de quem a pratica e não aos interesses de quem a recebe. Mais uma vida se foi por conta da mentalidade que continua impregnando a maior parte dos CCZs pelo país. A cadela foi morta porque nenhuma medida que a salvaria, mesmo simples, estava prevista “no protocolo”. Lamentavelmente, é desta forma que funciona a cabeça de quem os mata. Mas o que se espera de quem lida com seres sencientes é que priorize a preservação da vida, que tenha bom senso e sensibilidade no cumprimento de suas “obrigações protocolares”, o que não pode ocorrer de forma robotizada.

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