Projeto polêmico quer proibir uso de carroças em Mogi Mirim, SP

Projeto polêmico quer proibir uso de carroças em Mogi Mirim, SP

Um polêmico projeto da vereadora e presidente da Câmara, Sônia Módena (CID), que proíbe a tração animal em todo o Município foi aprovado, em primeiro turno, por 12 votos a 4 na sessão de segunda-feira (29). Uma emenda dos vereadores que não são da base governista foi também foi rejeitada pela maioria dos vereadores.

Eles pediam que donos de um só animal e uma só carroça, que não possuísse outro meio de transporte, ficassem de fora da abrangência dessa lei. No entanto, a autora do projeto argumentou que, atualmente, uma moto custa menos que um cavalo e que, por isso, não iria apoiar a emenda.

Sônia argumentou ainda que a tração animal vem causando muito sofrimento aos animais. Ela disse que não é raro flagrar abusos de quem trabalha com carroças e que, segundo a vereadora, levam os animais à exaustão. A vereadora, que é ligada à ONGs de proteção aos animais, revelou que, somente este ano, flagrou oito casos de abuso contra equinos e que desse total, oito animais vieram a óbito.

No entanto, o vereador Tiago Costa (MDB), contra-argumentou que a lei de Sônia vai causar mais sofrimento à população que depende desse meio de transporte para sobreviver, principalmente em um período tão difícil como na pandemia. “Muitos dependem disso para ganhar o pão de cada dia. São pessoas que coletam material reciclável e não possuem veículos motorizados”, observou.

O emedebista ressaltou ainda que não conseguiria coibir o ganha-pão de quem tem apenas um cavalo e uma carroça. Na mesma linha de raciocínio, foi o vereador Geraldo Bertanha, o Gebê (DEM). Ele disse que conhece muitas pessoas que vivem da reciclagem e usam a tração animal para recolher esses materiais.

“Tem um senhor que vem de Martim Francisco com seu cavalo e o animal está em ótima forma. Ele trabalha para sobreviver. E como ficará agora, com a aprovação dessa lei?”, questionou o democrata. Para Gebê, lei municipais, estaduais e federais já garantem punição a quem maltrata animais e que não há necessidade de uma outra legislação sobre esse assunto.

“Ainda mais uma tão drástica como essa, que proíbe tudo”, criticou.

ANALFABETO

Os vereadores Tiago, Gebê e Joelma Franco da Cunha (PTB), citaram legislações estaduais e federais para criticar a iniciativa da presidente da Câmara. “O Poder Público tem o dever de zelar pelo bem-estar animal e isso já acontece, independentemente dessa lei”, disparou Joelma.

Um carroceiro, que não quis se identificar, criticou a argumentação de Sônia Módena, quando ela diz que uma moto é mais barata de se manter do que um cavalo. “Como vou pagar R$ 7 pelo litro da gasolina, mais quase R$ 2 mil para tirar a carteira de habilitação a e ainda ter que comprar uma moto?”, questionou.

Esse mesmo carroceiro admitiu que é analfabeto e que jamais vai poder ter acesso a uma CNH (Carteira Nacional de Habilitação. “Essa lei vai me aleijar”, desespera-se. “Os vereadores precisam levar isso em consideração”, acrescentou. Gebê afirmou que não tomará parte dessa “injustiça”, como ele classifica o projeto. De qualquer maneira, o projeto voltará a ser objeto de análise e discussão na próxima sessão da Câmara, dia 6 de dezembro, quando será votado em segundo turno.

Fonte: Portal da Cidade


Nota do Olhar Animal: Na contramão do crescente repúdio à exploração de animais para tração, vereadores querem manter a tortura contra estes animais usados em carroças, em especial contra cavalos. Sob que pretexto? Econômico-social? Só alguém muito despreparado para agir sobre a questão pode alegar algo assim. Além da crueldade contra os animais, a tração animal está intimamente ligada à manutenção da condição de miserabilidade dos carroceiros, perpetuada pela escandalosa incompetência e pela moral rasa de gestores públicos, que de um lado não mostram sensibilidade alguma para com os interesses dos animais e de outro revelam sua gigantesca ignorância sobre o quanto esta atividade impacta negativamente na vida de quem a pratica. Exemplo positivo: em Paquetá, no RJ, onde a tração animal foi substituída pela elétrica, os charreteiros, que antes se opunham ferrenhamente a qualquer mudança, hoje são agradecidos por ela, pois a qualidade de vida deles melhorou significativamente e podem desfrutar inclusive de período de férias, algo impensável nos tempos em que as despesas com os cavalos e a limitação das horas de trabalho mal permitiam os cuidados veterinários e o sustento da família. É deplorável que os vereadores não se importem com o sofrimento dos cavalos. E, mesmo agindo de forma totalmente especista para supostamente favorecer os carroceiros, a posição dos vereadores que se opõe ao fim da tração animal revela serem bastante desinformados sobre os impactos sociais de sua manutenção.

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