‘Quanto mais recolhemos, mais casos de abandonos chegam’, diz coordenador do canil de Santa Cruz do Sul, RS

‘Quanto mais recolhemos, mais casos de abandonos chegam’, diz coordenador do canil de Santa Cruz do Sul, RS
Por semana, são protocoladas entre 15 e 16 solicitações de recolhimento de animais. - Foto: Lula Helfer

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade de Santa Cruz do Sul recebe diariamente solicitações de recolhimento de cães e gatos, desde animais sadios até pets debilitados, machucados, atropelados ou doentes, bem como de fêmeas gestantes ou recém-paridas. Somente este ano, entre janeiro e o fim de abril, foram protocolados aproximadamente 250 solicitações de recolhimento de animais junto ao Canil Municipal. “Fruto dessas solicitações, foram recolhidos em torno de 270 animais”, conta o médico-veterinário Tiago Alberto Haas Marques.

Animais aguardam para serem adotados. – Foto: Lula Helfer

Por semana, são protocoladas entre 15 e 16 solicitações de recolhimento de animais no município. “O que mais nos preocupa é que quanto mais recolhemos, cuidamos e disponibilizamos para adoção responsável, ou quanto mais disponibilizamos esterilizações/castrações, mais casos de abandonos chegam ao nosso conhecimento. Nos preocupa como uma parcela da população enxerga a relação entre humanos e animais, tratando os animais, seres sencientes, como meros objetos”, lamenta.

Marques ressalta que ocorrem casos de pessoas que ligam para que sejam recolhidos seus pets particulares, alegando diferentes motivos. “Muito provável que esses sejam cães e gatos serão abandonados.” O veterinário lembra que abandono é crime enquadrado como maus-tratos a animais, com leis federais, estaduais e municipais que preveem multa e prisão de até um ano. “Estudos já retratam que indivíduos capazes de promover ações de maus-tratos a animais também são propensos a promover ações de maus-tratos contra humanos.”

Canil Municipal segue superlotado

O Canil Municipal trabalha, no momento, com uma população de abrigados acima de sua capacidade de albergagem ideal, que seria de 48 animais. “Hoje temos sob nossa responsabilidade 94 animais, sendo 25 albergados em lares temporários ou em clínica veterinária conveniada em tratamento de alta complexidade”, explica o médico-veterinário Tiago Alberto Haas Marques.

Dos 69 animais que vivem nas instalações do Canil, um total de 32 são filhotes com idade entre três e 45 dias. De todos os animais sob responsabilidade da entidade, 21 são idosos com idade superior a 12 anos, que precisam de cuidados intensivos.

Conforme Marques, uma das maneiras mais eficazes de ajudar os animais é a adoção e posse responsável. No Canil Municipal, as adoções podem ser realizadas de segunda a sexta-feira, das 9 horas às 11h30 e das 14 horas às 16h30. Além disso, há as feiras de adoção, que acontecem de duas a três vezes por mês, sempre nos fins de semana, no próprio Canil ou na Praça Central.

“O ato da adoção responsável é de suma importância, pois propicia uma chance de uma nova vida com carinho, atenção, amor e cuidados a um animal que, muitas vezes, nunca teve acesso a esses sentimentos ou cuidados, ou mesmo nunca teve uma família.”

Como denunciar?

Quem flagra maus-tratos que coloquem em risco eminente a vida dos animais deve entrar em contato com a Brigada Militar e solicitar a presença de uma guarnição no local, para que seja feito o flagrante e tomadas as medidas necessárias. Já quem presencia algum ato de maus-tratos que não ofereça risco imediato à vida dos animais, como abandono, deve providenciar provas como fotos, filmagens e testemunhas. Em seguida, precisa registrar um Boletim de Ocorrência (BO) junto a uma Delegacia da Policia Civil ou pelo site www.delegaciaonline.rs.gov.br.

De posse desse BO, a pessoa deve procurar a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade e protocolar uma denúncia, que uma equipe de fiscalização vai fazer as diligências necessárias. Também é possível efetuar denúncia junto ao Ministério Público Estadual ou junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), através da ouvidoria/ Linha Verde pelo telefone 080061-8080. O veterinário Tiago Marques salienta que o processo corre por conta do Estado. “Quem processa o infrator é o Estado, sendo que o denunciante pode ser uma testemunha, se assim optar.”

Saiba mais

Guarda responsável: é o conjunto de deveres e responsabilidades que os tutores dos animais de estimação devem ter durante toda a vida dos seus pets, incluindo alimentação, cuidados com a saúde, lazer, higiene, assistência veterinária, entre outros;

Ser senciente: senciência é a capacidade dos seres de sentir sensações e sentimentos de forma consciente. Em outras palavras, é a capacidade de ter percepções conscientes do que lhe acontece e do que o rodeia, como fome, sede, frio, calor, medo, entre outros.

Por Michelle Treichel

Fonte: GAZ

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