Advogada aluga micro-ônibus para se mudar com 29 animais

Advogada aluga micro-ônibus para se mudar com 29 animais
Advogada especialista em Direito Animal, Graça Paixão (ao centro) é tutora de 10 cães e 19 gatos resgatados da rua . Crédito: Acervo Pessoal

Tudo pronto. São 7h da manhã e o micro-ônibus já está na porta aguardando os passageiros. Água, comida, carteirinha de vacinação em dia, kit de primeiros socorros, cobertores. Uma viagem em família? Sim, só que uma família multiespécie. A advogada e assistente social especialista em Direito Animal, Graça Paixão, 56 anos, montou uma megaoperação para transportar seus 10 cães e 19 gatos resgatados da rua na mudança de Lauro de Freitas para uma nova casa em Ibicoara, município na Chapada Diamantina onde vai morar.

“A mudança para a Chapada é a realização de um sonho antigo. Ter mais contato com a natureza e mais tempo para me dedicar às atividades que amo, como cuidar de plantas e viver em um lugar onde o clima, a paisagem e as relações são mais calmas. Filhos não se deixam para trás. Os animais não são brinquedos, coisas, ou um móvel velho que não cabe mais na casa nova. Por isso, iremos todos juntos”.

Graça saiu da casa antiga neste sábado (17) e contou com a ajuda de 18 pessoas, entre amigos e familiares, na jornada de viagem que durou de 7h a 8h até chegar na Chapada. Todos os animais foram devidamente acomodados nas poltronas com cintos de segurança, conforme determina o Código Brasileiro de Trânsito, e os felinos, cada um, em sua caixa de transporte.

“Somos uma família. O afastamento do animal pode causar trauma, depressão e até levá-lo à morte. Comprei as 19 caixas de transporte e os cintos de segurança para os cães. Providenciei medicação para acalmá-los, de acordo com a orientação veterinária. Amigos e familiares foram comigo para ajudar a acomodar os animais. Quatro carros acompanharam o micro-ônibus para auxiliar nas paradas para os cães saírem e fazerem as necessidades e tomarem água”.

Na preparação antes da viagem, Graça pensou em tudo considerando os mínimos detalhes: itens como tapetes higiênicos, vasilhames, coleiras, guias, erva de gato também não ficaram de fora da lista. “Fiz uma pesquisa no mercado e escolhi um motorista que gostasse de animais e que ficasse feliz em participar desse momento. A alimentação foi oferecida 3 h antes da viagem e todos tomaram medicação para evitar náuseas.”

A advogada fez questão de viajar no mesmo micro-ônibus que seus bichinhos. “Decidimos não parar para almoçar, a fim de diminuir o tempo. Durante a viagem eles permaneceram super calmos. São muito carinhosos e a minha presença os deixou seguros. Naturalmente, não poderia abandoná-los. Os animais esperam de nós o nosso melhor. Somos seu porto seguro. Não temos o direito de não corresponder a essa confiança”, ressalta a advogada.

Casa nova

Graça está alojada num imóvel alugado, de 250 m². Mas isso é só enquanto ergue sua própria casa, onde pretende abrigar adequadamente a prole. “Os cães e gatos vivem em harmonia e respeito. A casa nova está sendo toda construída para atender as necessidades dos meus filhos. Fiz um gatil lindo, onde os felinos poderão usufruir em paz e segurança de área verde e sol, além de terem um quarto da casa só para eles.”

Além do gatil, todo telado, com área coberta, a área da casa foi completamente cercada, para os cães brincarem livremente. “Um ambiente com caminhas, nichos, redes, cabaninhas, mantas e almofadas, além de balanços, prateleiras e bancos: tudo, em madeira e papelão, providenciado especificamente para eles”, descreve a advogada. “Todos vivemos juntos no interior e na área externa da casa. Trabalho a maioria do tempo em home office e eles estão o tempo todo comigo. Dormimos juntos, e a casa é sempre uma alegria.”

Coração de mãe

A relação de amor de Graça com os animais começou ainda na infância, aos 12 anos, com um casal de gatinhos e uma cadelinha — esta, após ter contraído uma doença, acabou sendo entregue, por sua mãe, à adoção. “Fiquei muito sentida e me prometi que só teria animais quando eu pudesse assumi-los para sempre, em quaisquer circunstâncias”, relembra.

Assim, em 2011, ela começou a adotar os 29 pets atuais, a quem chama de filhos. Um casal de cães foi quem abriu a contagem: Verbena e Pietro, hoje com 12 anos. Em 2012, veio o primeiro felino: Artur, que, à época, tinha apenas 15 dias de nascido. Todos eles, além de nome, têm sobrenome: Paixão, como Graça, que faz valer a máxima de que em coração — e casa — de mãe sempre cabe mais um. “Os demais eu resgatei com a intenção de tratar, castrar e disponibilizar para adoção. Mas nem sempre conseguimos adoção para todos, e esses acabaram ficando. Depois de um tempo, se tornaram minha família”, explica.

“Tenho compaixão pelos seres em situação de vulnerabilidade. Ver os animais em situação de rua, sofrendo maus-tratos, fome, frio sempre me incomodou. Fui cofundadora de uma ONG de proteção animal em Lauro de Freitas. Resgatava, trazia para casa, tratava, vacinava, castrava e disponibilizava para adoção”, recorda-se a advogada.

Especializada em Direito Animal e como advogada, Graça começou a defendê-los judicialmente. “Elaboramos o texto da lei de proteção animal de Lauro de Freitas vigente, resgatei um número incontável de animais. E assim minha família multiespécie foi constituída. Para mim, toda vida importa. Todos são importantes e merecem viver e viver dignamente, com amor, segurança, felicidade e, ao menos, com suas necessidades básicas atendidas. É como penso que devemos viver”, considera.

Cuidados no transporte

Na hora de transportar um bichinho em uma situação de mudança, a advogada destaca alguns cuidados: “É fundamental estar presente durante a viagem para que o animal permaneça calmo e seguro. Também fique atento ao comportamento, respiração e ao olhar para verificar qualquer alteração fora do padrão. Oferecer sempre água para hidratar. Atentar-se para a temperatura, levando cobertores. Inclusive, utilize cobertores já usados, mantendo o cheiro dos animais, pois isso promove segurança para eles”, orienta.

Outro cuidado que merece atenção durante a viagem é falar com os animais, para que eles ouçam a voz do tutor. “Indico ainda colocar mantras e música clássica para acalmar o ambiente. Atente para a segurança e reforço das guias, cintos e caixas de transportes para evitar fugas. As caixas dos felinos nunca devem ser abertas antes de chegar ao destino”, completa.

Por Brenda Viana, Priscila Natividade e Marcos Felipe Soares

Fonte: Correio 24 Horas

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