Bem-estarismo e exploração animal

Bem-estarismo e exploração animal

E se escolhêssemos o caminho do meio entre a exploração animal e o fim da exploração animal? E se continuássemos explorando animais evitando seu sofrimento desnecessário? 

Nos artigos anteriores introduzimos os conceitos de direitos animais, sua fundamentação, a ideia de senciência e de interesses dos animais a serem defendidos, dentre os quais, o interesse na continuidade da própria vida, na liberdade, em não serem submetidos a trabalhos forçados, torturas, castigos, etc.

Em termos práticos, a consideração e o respeito quanto a estes interesses se traduz em não consumir a carne, o leite, os ovos e outros produtos de origem animal, não utilizar pele, couro, seda, marfim, dentes, ossos, não utilizar animais em experimentos científicos e demonstrações didáticas prejudiciais, não caçá-los, não aprisioná-los em zoológicos, não usá-los em números e espetáculos, rodeios, touradas, rinhas, não montá-los, não utilizá-los em rituais religiosos ou similares, não comercializa-los, e tantas outras atividades que são moralmente mais ou menos aceitas em nossa sociedade e que atendem a muitos interesses econômicos.

Frente ao aumento da importância que o conceito de direitos animais tem recebido nos últimos anos, tem igualmente crescido uma reação por parte de indivíduos e empreendimentos que pretendem relativizar os interesses dos animais e nosso direito de submetê-los às nossas finalidades.

Assim, nesta forma de pensar, o errado não é abater um animal para consumir sua carne, pois o interesse do ser humano em consumir carne é entendido como superior ao interesse do animal em continuar com sua própria vida. Nesta forma de pensar o errado seria criar e abater o animal sem atenção ao seu bem estar e a uma forma supostamente mais humanitária de abatê-lo. 

Da mesma forma leite, ovos e outros produtos e usos do animal poderiam ser eticamente justificados pela legitimação do maior interesse do ser humano em continuar usufruindo de sua exploração, desde que atentando ao seu bem estar. Por ser bem-estar um termo recorrente nesta vertente de pensamento, ela passou a ser conhecida como bem-estarismo.    

Dessa forma, de acordo com o movimento bem-estarista, o erro não está em matar animais para comer, mas sim na forma como esses animais são criados e mortos; o erro não está em utilizá-los em experimentos científicos, mas na forma como eles são mantidos em laboratórios e utilizados nos experimentos; o erro não está em domesticá-los para fazê-los trabalhar, mas em submetê-los a más condições e horas excessivas de trabalho.

Obviamente que este movimento possui muitas inconsistências filosóficas, sendo a principal delas que ela alimenta a crença da supremacia humana frente ao restante das formas de vida, e que ela contraria os próprios interesses dos animais, que se pudessem optar não pediriam para serem explorados em espaços maiores, recebendo alimentação melhor ou abatidos de uma forma supostamente mais humanitária, mas sim pediriam para que não fossem mais explorados. 

Na continuidade de nossos artigos descreveremos em mais detalhes de que forma animais são explorados para satisfazer aos interesses humanos. Não percam.

Por Sérgio Greif

Fonte: Diário Popular

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