Cães de abrigos são mais vulneráveis à leishmaniose, diz estudo da Fiocruz

Cães de abrigos são mais vulneráveis à leishmaniose, diz estudo da Fiocruz
Foram feitos exames sorológicos em 627 animais, que vivem em 17 abrigos espalhados por Minas Gerais. (foto: Fiocruz Minas/ Divulgação)

Cães que vivem em abrigos, com grande número de animais são mais propícios a contrair leishmaniose, do que aqueles que residem em casas. A conclusão vem de uma pesquisa inédita, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais (Fiocruz Minas), que avaliou o comportamento da infecção em cães abrigados, comparando com resultado de censos anteriores, feitos com cães já adotados. Entre os animais que moram em abrigos, o percentual foi de 33,6% de infectados, enquanto, nos que vivem em casas, essa taxa foi de 10%, em média.

De acordo com a Fiocruz, as leishmanioses são um conjunto de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania e da família Trypanosomatidae. De modo geral, essas enfermidades se dividem em leishmaniose tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas, e leishmaniose visceral (ou calazar), que ataca órgãos internos. As leishmanioses tegumentares causam lesões na pele, mais comumente ulcerações e, em casos mais graves (leishmaniose mucosa), atacam as mucosas do nariz e da boca. Já a leishmaniose visceral, como o próprio nome indica, afeta as vísceras (ou órgãos internos), sobretudo fígado, baço, gânglios linfáticos e medula óssea, podendo levar à morte quando não tratada.

Foram feitos exames sorológicos em 627 animais, que vivem em 17 abrigos espalhados por Minas Gerais, em regiões com epidemia de leishmaniose. Após a análise das amostras, foram constatados 211 positivos. Ao todo, 93 apresentavam sinais clínicos de leishmaniose visceral. Nos 118 restantes, os exames clínicos foram inconclusivos e, por isso, os pesquisadores coletaram amostras de tecidos dos animais, para a realização de uma análise por PCR-RFLP, visando verificar a espécie do parasito presente.

Os resultados mostraram que a Leishmania infantum, uma das principais espécies que circulam no Brasil e provoca a leishmaniose visceral, predominou em 66,1% dos animais. Outra descoberta importante foi a detecção de Leishmania amazonensis em oito cães.

Esta variante, Leishmania amazonensis, favorece a infecção por meio do mosquito vetor. Isso significa que ela pode estar “facilitando a vida” dos protozoários, atuando como um reservatório da espécie, que fica no tecido e se dispersa rapidamente pela pele do animal, e pode ser perigosa inclusive para seres humanos.

Os tipos de teste utilizados foram DPP (tipo de teste rápido que testa de 15 a 20min, com amostras soro, plasma ou sangue total venoso) e ELISA (utilizado principalmente para detecção de anticorpos, quando se deseja realizar um levantamento soroepidemiológico prático, menos oneroso e rápido).

Principais causas

O pesquisador Gustavo Paz, do grupo de Estudos em Leishmanioses, explicou uma das possíveis causas para que os cães de abrigo estejam mais vulneráveis. “Nosso estudo mostrou que os abrigos para cães podem estar funcionando como abrigos para os parasitos também. Hoje, não existe nenhuma regulamentação para esses espaços, em que se define, por exemplo, infraestrutura adequada ou cuidados necessários a serem adotados. Essa falta de orientações facilita a disseminação do parasito entre os cães e também entre os seres humanos, uma vez que a transmissão se dá por um vetor, conhecido como mosquito palha, bastante comum nesses locais.”

Para Gustavo, as descobertas deste estudo podem contribuir para a elaboração de políticas públicas de saúde, já que no Brasil há uma carência sobre os cuidados específicos para esta população veterinária que vive em abrigos.

O estudo foi realizado em parceria com a Ceva Saúde Animal e contou com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). Todos os procedimentos envolvendo os animais foram realizados de acordo com as diretrizes do Conselho Nacional de Controle de Experimentação ao Animal (CONCEA) e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

Como prevenir ? Quais os sintomas ?

A doença é transmitida por meio da picada de insetos conhecidos popularmente como “mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui” dentre outros. Estes insetos são pequenos e têm como características a coloração amarelada ou de cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semiabertas.

A transmissão acontece quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados, e depois picam o homem, transmitindo o protozoário Leishmania chagasi, causador da leishmaniose visceral. Como ainda não há uma vacina para leishmanioses humanas, os melhores métodos de prevenção são:

  • Controle dos vetores nos ambientes
  • Diagnóstico precoce
  • Tratamento dos doentes e isolamento, se necessário, do restante dos saudáveis
  • Vacinar os cães
  • Uso de repelentes
  • Utilização de mosquiteiros de tela fina e, dentro do possível, a colocação de telas de proteção nas janelas
  • Manter o ambiente de convivência do animal limpo e seguro
  • Não acumular lixo orgânico, que pode ser um chamativo para roedores e pequenos mamíferos, também transmissores da doença

Os principais sintomas, para os dois tipos de leishmanioses, são:

  • Aumento do fígado e baço
  • Perda de peso
  • Fraqueza
  • Redução da força muscular
  • Anemia
  • Febre de longa duração

Por Cler Santos, sob supervisão de Ellen Cristie

Fonte: Estado de Minas


Nota do Olhar Animal: Muitas prefeituras fazem exames e, se diagnosticada a leishmaniose no animal, oferecem ao tutor a “opção” dele próprio fazer o dispendioso tratamento ou então seu animal deve ser deixado e exterminado. Grande parte dos tutores não pode arcar financeiramente com o tratamento. Seria razoável que as prefeituras exterminassem crianças humanas de famílias de baixa renda por estas não poderem custear tratamentos? Óbvio que não, e não há porque pensar diferente em relação aos animais não humanos. Com a transferência da responsabilidade da “decisão” para o tutor, as prefeituras procuram se eximir da responsabilidade pela morte dos bichos, oferecendo uma “escolha” impossível de ser feita por muitos tutores, carentes de recursos financeiros. Isto acaba, na prática, representando uma velada, odiosa e elitista política de extermínio contra os cães de tutores de baixa renda. Cabe às prefeituras oferecerem alternativa acessível para o tratamento e, caso isto não ocorra, resta aos tutores acionarem judicialmente todas as prefeituras que oferecem esta “escolha” impossível. Lembrando que os fortes laços dos tutores com os animais os fazem temer que seus bichos sejam abatidos pelas prefeituras e, por isto, estes acabam deixando de submeter os animais aos necessários exames, agravando a questão de saúde pública, além da condição de saúde do próprio animal e de todos em seu entorno.

Outro fato lamentável a se destacar é total perda de combatividade de algumas ONGs em relação a esta camuflada política de extermínio promovida pelas prefeituras. Estes grupos, seduzidos pelo clientelismo, por pequenos quinhões de benesses e de poder, ou até pelo simples afago no ego de seus dirigentes (com homenagens, por exemplo), acabam sendo controlados pelas gestões municipais, que assim neutraliza as críticas à escandalosa prática de controle populacional pela via da matança. Uma coisa é ocupar espaço político e administrativo participando das decisões e ações em parceria com o Poder Público, atuando efetivamente na solução das questões que envolvem os animais, num caminho reto para protegê-los. Outra é manter relações promíscuas e fazer vistas grossas às arbitrárias, incompetentes e preguiçosas ações governamentais. Manifestamos nosso repúdio a todos que se calam para manter sua “boquinha”, pois essa omissão é responsável direta pela morte de milhares de animais. Soluções éticas podem ser encontradas desde que haja pessoas éticas as exigindo.

Sobre a “eutanásia”, não é contra ela que os protetores lutam. Eles lutam é contra o EXTERMÍNIO, contra o MASSACRE de animais promovido comumente pelas prefeituras usando a leishmaniose como pretexto, ação essa tecnicamente equivocada e eticamente indefensável, e que é bem diferente da eutanásia. A eutanásia é um ato de caráter misericordioso e que deve atender aos interesses de quem o sofre, e não aos interesses de quem o pratica. Só pode ser chamado de “eutanásia” o ato de abreviar a vida de um animal com doença incurável e em estado irreversível de sofrimento, o que comumente não é a situação de um cão com leishmaniose. Os órgãos públicos de saúde disseminaram o entendimento errado do termo “eutanásia” a fim de tentar minimizar a IMORALIDADE de suas ações de extermínio. Infelizmente, até mesmo protetores usam erradamente esta terminologia.

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