Com 2.000 animais silvestres apreendidos, Ceará já superou total de capturas de todo o ano passado

A quantidade de animais silvestres apreendidos pelo Batalhão de Polícia do Meio Ambiente do Ceará de janeiro a setembro deste ano já é superior a todo o acumulado do ano passado. Em média, são quase 8 animais apreendidos por dia, número que expressa o alto volume do tráfico de animais no Ceará.
Nos nove primeiros meses de 2022 – até o dia 18 de setembro – foram 2.061 animais apreendidos e, ao longo de 2021, 1.318. Os dados foram obtidos pelo Diário do Nordeste através da Lei de Acesso à Informação.
As cidades com maior número de animais apreendidos são Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral. Já as espécies de animais silvestres mais apreendidos são Sabiá, Galo de Campina e Bigodeiro.
Apesar da crescente no número de apreensões, não há informações de pessoas presas ou atuadas por este crime, cuja pena de detenção pode chegar a 12 meses, mais pagamento de multa.
“Considerando que os dados estatísticos de ocorrências são apurados em números globais, relativos a toas os procedimentos realizados pelas composições policiais do BPMA, fica impossibilitado a contagem específica” de quantas pessoas foram autuadas, justificou o órgão.
Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida é crime com pena de detenção de seis meses a um ano.
Múltiplos danos
A bióloga Camila Barbosa Pinheiro Jereissati explica que o tráfico de animais representa uma ameaça não apenas à biodiversidade, mas, também, à saúde humana.
A especialista ressalta que a partir do momento em que uma determinada espécie é retirada da natureza, há uma quebra da cadeia. “A relação ecológica é afetada e isso impacta na rede de interação que existe na natureza”, detalha Camila.
A redução desses animais – sobretudo as espécies nativas – acelera o processo de extinção e causa um desequilíbrio do ecossistema. “Várias aves são responsáveis por fazer a disseminação de sementes, por exemplo. Quando há essa quebra de interação, o impacto também é visto na diversidade das plantas. São múltiplos danos”, alerta a bióloga.
Camila Barbosa ressalta, ainda, que a retirada das mais variadas espécies da natureza reflete diretamente na diminuição da variabilidade genética. “Menos animais acasalando, menos animais interagindo isso reduz a variação genética”, acrescenta.
Saúde coletiva
Essa mudança genética pode afetar diretamente a saúde humana. Camila Pinheiro observa que, a partir do momento em que o ser humano é exposto a animais portadores de novos vírus ou com mutações, há uma maior tendência do surgimento de novas doenças.
“Animais contrabandeados são vendidos sem nenhum controle sanitário. Essa falta de controle [sanitário] aumenta enormemente o risco de zoonoses, como a raiva, e diminui o sistema imunológico dos animais, o que propicia a proliferação de vírus e novas mutações. Há pesquisas que sugerem que a Covid-19 pode ter surgido a partir da relação de animais com humanos, portanto, o tráfico de animais representa diversas ameaças”, conclui a especialista.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), há três principais consequências da retirada desses animais de seu habitat:
Risco sanitário: animais ilegais vendidos sem nenhum tipo de controle sanitário podem transmitir doenças graves, inclusive desconhecidas, para pessoas e criações;
Econômica/social: o tráfico de animais movimenta recursos financeiros sem que impostos sejam recolhidos aos cofres públicos;
Ecológicas: a captura sem critérios acelera o processo de extinção das espécies, causando danos às interações ecológicas e a perda de herança genética.
Ações para reduzir os números
Camila Barbosa destaca que o incentivo e o aumento de investimento em pesquisas que promovam a conscientização ambiental poderia ser um caminho para reduzir esse alto volume de animais contrabandeados.
Questionado quanto aos principais desafios encontrados pela Polícia Ambiental para que este alto número seja minimizado, a assessoria do BPMA limitou-se apenas a dizer ser “diverso”, no entanto, não especificou quais desafios são esses.
“Somente é possível [reduzir os números] através de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, atuando por meio de ações de conservação, proteção e preservação ambiental”, pontuou o órgão.
Serviço:
Denúncias podem ser feitas através do número 190 ou pelo telefone (85) 3101-3545. A ligação pode ser anônima.
Por André Costa
Fonte: Diário do Nordeste