Com despesa mensal superior a R$ 30 mil, abrigo com 400 cães e gatos corre risco de fechar em Salvador, BA

Com despesa mensal superior a R$ 30 mil, abrigo com 400 cães e gatos corre risco de fechar em Salvador, BA
Cães no canil do abrigo São Francisco de Assis, em Salvador (Foto: Maiana Belo/G1 BA)

O destino de 400 cães e gatos que vivem em um abrigo de Salvador está incerto por conta de graves problemas financeiros que impedem o custeio dos cuidados que garantem a sobrevivência deles. O abrigo São Francisco de Assis, que leva o nome do protetor dos animais, tem uma despesa de R$ 33 mil neste mês de maio, que precisa ser quitada até o dia 10 de junho.

Segundo a Associação Brasileira Protetora dos Animais (ABPA-BA), que mantém o local, caso o pagamento não seja realizado, o abrigo corre risco de fechar. A falta de verba, segundo relatam, ocorre por conta do aumento no número de animais no abrigo, além da queda nas doações para os cães e gatos.

A associação informou que, se não conseguir pagar a dívida deste mês, pretende acionar o Ministério Público da Bahia para analisar quais medidas serão tomadas referentes ao espaço e aos animais. O MP-BA informou que ainda não pode se manifestar sobre o caso até que a ABPA-BA procure o órgão.

Diante do problema, a associação, junto a outros voluntários que ajudam a manter as atividades no local, decidiu criar uma campanha de arrecadação na internet. Através da página do Facebook da ABPA-BA, os voluntários informam que as doações podem ser feitas em dinheiro ou objetos.

 

Aos domingos, a ABPA-BA faz uma feira na Praça Ana Lúcia Magalhães, no bairro da Pituba, para arrecadar ração, remédios entre outros. No local, também há uma feira de adoção de animais. Todos os cães e gatos são direcionados para a doação já vermifugados, vacinados e castrados. Quem quiser adotar deve pagar uma taxa de R$ 60. O valor é para ajudar os animais que ainda estão no local.

ABPA-BA fez campanha de arrecadação em redes sociais (Foto: Maiana Belo/G1 BA)

No abrigo, que surgiu na década de 70, a associação mantém seis funcionários que atuam nas áreas de limpeza e veterinária. Todos recebem salários mensalmente. Os demais, cerca de 20 pessoas, são voluntários. Entre eles, está a jornalista Luana Oliveira, que há seis anos colabora com as atividades do abrigo.

“Setenta por cento das nossas doações caíram e, entre março e abril, recebemos mais 60 animais, entre cães e gatos. O problema é que se chega 60 [animais], mas não são todos que são adotados. A conta não bate porque o número de abandono sempre é maior do que o de adoção”, relatou.

A presidente da ABPA-BA, Urânia Almeida, explica que o valor necessário para sustentar o abrigo varia a cada mês. “Temos que pagar os funcionários, ração, comprar vacinas. O gasto diário é grande, só de ração é, em média, 50Kg. Nosso custo médio mensal é entre R$ 30 e R$ 35 mil. Se quitarmos a folha deste mês, ótimo. Mas mês que vem teremos de pagar novamente. Precisamos de ajuda”, contou.

O veterinário do Abrigo São Francisco de Assis, Carlos Augusto, reforça o aumento dos gastos. “Mesmo já comprando os remédios no distribuidor, a gente gasta muito. Tem dias que dou de 13 a 15 vacinas múltiplas viral mais raiva que custa por volta de R$ 25. Tem dia que faço 13 cirurgias de castração, aí você soma o material e a gente chega a gastar R$ 1.000 por dia”, revelou.

Luana conta que a limpeza também é algo que custa caro para a associação. “Todos os dias, os canis são limpos. O pessoal colhe as fezes, lava, deixa tudo ajeitado porque a sujeira também prolifera doenças”, disse.

G1 registra cadela logo depois que foi abandonada nas proximidades do abrigo São Francisco de Assis (Foto: Maiana Belo/G1 BA)

Abandono e maus-tratos

Mesmo ainda podendo contar com a ajuda de algumas pessoas, a associação sofre com a falta de verbas. Contudo, a maior dificuldade que enfrenta é o aumento do abandono dos animais. Devido ao problema, o grupo nem faz mais resgates, só mantém os cuidados com aqueles que já estão no abrigo e os que são deixados lá.

Segundo Luana, a associação evita divulgar o endereço e até mesmo ter qualquer placa de sinalização para as pessoas não deixarem animais no local. Ainda assim, alguns descobrem o abrigo e deixam o animal amarrado ao portão do espaço. Há animais que são deixados com grandes sinais de maus-tratos, como fios amarrados pelo corpo e ferimentos.

Quando a reportagem do G1 chegou ao abrigo, um animal havia sido abandonado no local. “Por mais que a gente não tenha dinheiro, como é que fecha os olhos para uma cadela daquela que estava amarrada lá na porta? Seca, esturricada, sem força para se manter em pé? A gente não tem onde tirar dinheiro mais. Mas como é que vamos fechar os olhos para isso?”, argumenta Luana.

Apesar de estar bem magra, a cadela deixada na porta estava, aparentemente, em melhor condição de saúde do que muitos animais que foram abandonados no abrigo. Segundo Luana, ela já viu uma cadela chegar com problemas de pele, cachorro sendo comido por formigas, gatos amarrados em saco, com fios pelo corpo e outros.

Ela também explica quais são os primeiros cuidados que os animais recebem quando chegam no abrigo. “A gente coloca ele para dentro em uma caixa separada. O veterinário avalia, faz exame de sangue e dá alimentação reforçada, porque boa parte deles chega bem maltratado. Depois que a gente confirma que o animal não tem nada, que tem condições cirúrgicas, ele é castrado. Depois da recuperação [após castração] a gente tenta ressocializá-lo em algum canil”, relata.

Entre os animais que foram abandonados no abrigo, a técnica de veterinária que trabalha no local, Bárbara Lima, lembra de “Caramelo”. O cãozinho foi deixado na porta do espaço em 25 de janeiro deste ano, com um fio amarrado na pata direita traseira. “A pata já estava em decomposição e teve que ser amputada”, relatou.

Após receber o tratamento no abrigo, Caramelo foi colocado para adoção e já conseguiu um lar. Cerca de dois meses após a cirurgia de amputação, Caramelo já estava correndo pela praia.

Sobre a adoação, Luana explica que, mesmo após a animal deixar o local, a associação não encerra o trabalho com o bichinho adotado. “Nossa intenção não é se livrar do bicho. A gente continua o contato com o dono, troca figurinhas, dá dicas, tira dúvida”, garante.

Segundo conta, esse contato é uma forma de continuar dando assistência ao animal. Além disso, caso a pessoa decida não ficar mais com o cão ou o gato, pode entrar em contato com a associação e devolvê-los para o abrigo.

Caramelo, o cãozinho que foi abandonado no abrigo com sinais de maus-tratos e precisou amputar a pata (Foto: Divulgação/ABPA-BA)
Gatinhos filhotes que foram abandonados no abrigo São Francisco de Assis, em Salvador (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Cãozinho já foi adotado, mas tutor preferiu devolvê-lo ao abrigo por não ter condições de criar ele (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Gato no abrigo São Francisco de Assis, em Salvador (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Quando chegam no abrigo, animais recebem tratamento médico, são castrados e colocados para adoção em Salvador (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Cão em um dos canis do abrigo, em Salvador (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Luana brinca com gatinha deixada no abrigo com sinais de maus-tratos (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Animais em um dos canis do abrigo para cães e gatos, em Salvador (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Funcionários da associação limpando o canil no abrigo São Francisco de Assis, em Salvador (Foto: Maiana Belo/G1 BA)

Fonte: G1

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