Conheça a história do leão ‘criado como cachorro’ que fugiu pelas ruas de Goiânia e matou criança

Conheça a história do leão ‘criado como cachorro’ que fugiu pelas ruas de Goiânia e matou criança
Leão "Guru" matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Fazer uma simples caminhada ou carinho ao lado de um cachorro é normal. Mas e com um leão? Simples não é, mas acontecia em Goiânia na década de 1980. Na época, a TV Anhanguera acompanhou o caso, que acabou em tragédia, o “rei da selva” chamado de “Guru” fugiu pelas ruas e matou uma criança (assista abaixo uma reportagem da TV Anhanguera obtida pelo g1).

VÍDEO: Conheça história de leão que era criado como cachorro e matou menina em Goiânia

“O leão tava em cima das madeiras, de repente ele pulou, tinha uma senhora e três crianças, mas acertou só a Suzana, arrastou numa distância, mas a gente não podia fazer nada, ele tava puxando a criança, não tinha como fazer nada”, detalhou uma testemunha à TV Anhanguera na época.

O g1 vasculhou as edições do jornal O Popular e assistiu reportagens da TV Anhanguera da época, que narram o dia em que aconteceu a tragédia na capital. A pequena Suzana Fernandes Junqueira, de 2 anos, foi atacada no dia 13 de junho de 1986, após o bicho fugir da loja de construção em que morava.

A repórter Mirian Tomé, que trabalhava na TV Anhanguera e cobriu o caso, disse que a menina estava brincando quando o leão atacou, começando uma longa tensão na rua para que ele fosse enjaulado.

“A polícia e o Corpo de Bombeiros tentaram enjaular o leão, uma verdadeira operação de guerra, mas o animal, assustado, se escondeu. Depois de 3 horas de muita tensão, conseguiram capturar, isso somente porque veio ao local um domador de leão de um circo que está aqui na cidade”, disse Mirian na reportagem.

Leão "Guru" matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Leão “Guru” matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Testemunhas dão detalhes do caso:

VÍDEO: Veja como leão fugiu de loja e matou menina em Goiânia

Como o leão foi parar lá?

Na época, a jornalista Cileide Alves trabalhou na cobertura do caso e define o caso como uma “tragédia chocante”. A jornalista contou que o dono, o empresário Mário Ângelo Simionato, pegou o leão ainda filhote, levou para casa e criava como se fosse um animal de estimação.

“O bichinho era pequenininho, engraçadinho, dormia com os filhos dele [o dono]. À medida que foi crescendo, a família ficou preocupada porque poderia ser um risco, ele era dócil com todo mundo, mas era um leão. Eles o levaram para a loja. A loja era cercada de tela. Então você via o bicho solto nessa área, como realmente um cão de guarda da loja”, detalhou.

Leão "Guru" matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Leão “Guru” matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

O leão da “Marial”, nome da loja que marcou o caso, pode ter ficado sem comer durante o fim de semana, saiu da área cercada e foi para a rua, conforme informações da época. Suzana, que era filha do porteiro de um prédio da região, deu de cara com o bicho.

“Ela viu o leão e achou bonitinho, começou a bater palma e cantar parabéns para o leão. O leão se assustou e pulou na jugular dela e a matou. Depois, o leão foi levado para o zoológico de Goiânia”, contou.

Cerca de local onde leão "Guru" morava antes de matar a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Cerca de local onde leão “Guru” morava antes de matar a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Zoológico

No ano da morte de Suzana, a repórter Mirian Tomé foi ao zoológico para acompanhar a adaptação do leão na nova casa. A reportagem mostrou que ele estranhou o ambiente e até os bichos da mesma espécie.

“Ele virou atração no zoológico, o povo ia lá ver o leão que matou a menina. Aquela curiosidade mórbida. Criou-se essa curiosidade sobre o bicho”, relembrou.

“Eu me lembro das pessoas torcendo para matá-lo. Um absurdo, mas o maior absurdo é um animal daquele estar onde estava, na condição em que estava, e a morte da menininha”, completou.

Leão "Guru" matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Leão “Guru” matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

No vídeo exibido em 1986, um veterinário que trabalhava no local falou sobre o caso.

“Eu creio que ele ficou muito assustado. Ele procurou pular do recinto, mas pode ter sido pela procura de alimento também”, disse o profissional, sem o nome divulgado.

Assista à reportagem exibida na época pela TV Anhanguera:

VÍDEO: TV Anhanguera acompanhou caso de leão que matou menina em Goiânia

Repercussão

No velório da menina, uma testemunha contou à TV Anhanguera que o leão já havia atacado uma idosa. Ao g1, Cileide contou que a notícia ganhou repercussão nacional.

“A forma como a criança morreu e a existência de um leão em uma loja que era muito conhecida na época, chamou muita atenção. Foi um episódio bem rumoroso”, disse Cilede.

“Foi horrível, gerou muita comoção. Um animal aprisionado daquele jeito em uma área urbana, foi uma sequência de erros que gerou aquela tragédia. Na época eu fiquei muito baqueada”, completou Mirian.

Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Justiça

Para entender o decorrer do caso, o g1 analisou reportagens da época no jornal O Popular. Uma matéria publicada em 21 de julho de 1988 descreve que Mário foi condenado a prestar um ano de serviços em instituição de caridade pelo ataque do Guru. Advogado do empresário, Wanderley de Medeiros recorreu da decisão.

No texto, o repórter explica que o animal era criado em uma jaula na empresa Marial. A condenação original era de pena de reclusão, mas por “possuir bons antecedentes, ótima conduta social e personalidade”, o juiz a substituiu pela prestação de serviços.

Leão "Guru" matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Leão “Guru” matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Em um texto de 22 de julho de 1988, o advogado preparou um novo recurso para questionar a falta de denúncia contra o vigia da empresa.

“O vigia recebeu ordens expressas de não tocar na jaula por não possuir habilidade necessária e a convivência com o leão nos seus dois meses na empresa. Mesmo assim, descumpriu as ordens e soltou o animal para exibir a amigos e curiosos e por fim provocou a sua fuga”, detalha um trecho da reportagem. Na época, o vigia negou que abriu a jaula.

Um segundo recurso é o tema de outra matéria, publicada em 25 de agosto de 1988. O advogado apontou erros na denúncia contra Mário e pediu a absolvição do cliente.

Leão "Guru" matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Leão “Guru” matou a pequena Suzana Fernandes Junqueira, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Na sexta-feira, 27 de outubro (dessa vez, em 2023), o g1 procurou o escritório do advogado Wanderley de Medeiros, mas descobriu que ele faleceu. A reportagem pediu informações ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) sobre o processo, mas como é um caso que aconteceu há 37 anos, o processo não está mais disponível para acesso.

O g1 não conseguiu localizar a família do dono do leão, nem descobriu o destino dele após o zoológico. Questionada se o animal estava empalhado na unidade, a Agência Municipal de Turismo, Eventos e Lazer negou.

Por Michel Gomes

Fonte: G1


Nota do Olhar Animal: Animal silvestre NÃO É animal de estimação. Situações como a desta tragédia não são raras. E, além das vítimas humanas, quase sempre os animais são abatidos. E são mortos também com frequência por mera vingança. São perdas de vidas para todos os lados…

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.