Conselho de Medicina Veterinária repudia castração irregular de cachorro por estudantes e cobra providências de universidade

Conselho de Medicina Veterinária repudia castração irregular de cachorro por estudantes e cobra providências de universidade
Materiais usados na castração foram localizados na república de estudantes universitários — Foto: Polícia Ambiental

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) divulgou nesta terça-feira (15) uma nota de repúdio em relação à castração irregular de um cachorro feita por estudantes universitários em Presidente Prudente (SP) e cobrou a adoção de “providências cabíveis” da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), instituição de ensino superior da qual os envolvidos são alunos.

“Fotos e vídeos publicados nas redes sociais mostram a prática de uma castração irregular de um cão, causando nítido sofrimento, além de ser fora do ambiente supervisionado da universidade ou de estabelecimento médico-veterinário, colocando em risco o bem-estar e a saúde animal. O Conselho repudia veementemente os atos praticados”, salienta o CRMV-SP.

“Os estudantes não são passíveis de sanção do CRMV-SP, entretanto, foi solicitada às coordenações dos cursos de Medicina Veterinária e de Zootecnia da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) a adoção de providências cabíveis em relação aos identificados”, pontua a instituição.

Na nota de repúdio, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo relata que tomou conhecimento na manhã desta terça-feira (15) do caso de maus-tratos a um cão, envolvendo estudantes de medicina veterinária e de zootecnia de Presidente Prudente, e cita que oficiou a universidade e a Polícia Civil “de forma a solicitar as providências cabíveis em relação aos alunos identificados pelo crime de maus-tratos e por exercício ilegal da profissão”.

“Além disso, foi destacada a necessidade de reforçar a orientação aos demais discentes quanto às questões éticas, ao imprescindível papel da Medicina Veterinária e da Zootecnia sobre o bem-estar dos animais, assim como acerca dos dispositivos legais e normativos relativos a crueldade, abuso e maus-tratos contra animais”, acrescenta o CRMV-SP.

De acordo com o conselho, “é fundamental que os graduandos, desde o início do curso de graduação, sejam instruídos a entenderem que também devem zelar pelo prestígio das classes médica-veterinária e zootécnica, e pela Saúde Única, apresentando comportamento social e condutas exemplares e compatíveis com as profissões”.

“Adicionalmente, o Conselho, apesar de não ter ingerência para apuração dos casos e penalização ética, visto que não se tratam de profissionais graduados e registrados, colocou-se a disposição da delegada de Polícia Civil de Presidente Prudente para dar todo o suporte técnico que se faça necessário com relação ao animal e a fundamentação da situação de crime de maus-tratos, reforçando tratar-se também de uma contravenção penal pelo exercício ilegal da profissão”, ressalta a instituição.

“O CRMV-SP mantém seu compromisso para com a saúde e o bem-estar animal e está tratando o caso com toda a atenção merecida”, conclui.

A Polícia Civil apura o caso. 

 

O caso
 
Um cachorro foi resgatado pela Polícia Militar Ambiental, na noite desta segunda-feira (14), em Presidente Prudente. Conforme a corporação, o animal foi castrado em uma república de estudantes universitários.

A polícia informou que recebeu denúncias de que o proprietário de um cão estaria postando vídeos nas redes sociais, que mostravam o animal sendo mutilado. No local indicado, no Jardim Vale do Sol, a equipe constatou que se tratava de uma república de estudantes e que os autores dos vídeos não estavam na residência.

Nas imagens, é possível ver o cachorro em dois momentos (assista ao vídeo acima).

O primeiro, antes de ser sedado. A pessoa fala: “Últimos momentos do cachorro branco estar feliz. Preparando o centro cirúrgico”. Ao fundo, é possível ver uma mesa e alguns materiais e ouvir a pessoa rindo.

Já na mesa, a mesma voz relata que nunca viu o cachorro tão “quietinho”. “O que aconteceu? Você não tem mais o controle do seu corpo? Você está drogado? O que foi?”, fala a pessoa enquanto ri novamente.

Os policiais localizaram dois cães no quintal, sendo um deles de cor branca, da raça labrador, “aparentando estar sedado e com dificuldade de locomoção e com uma sutura próximo ao órgão genital, aparentando ter sofrido castração”.

“Foi localizada também a mesa em que foi feito o procedimento cirúrgico, bem como os materiais utilizados como luvas cirúrgicas, gazes sujas de sangue, embalagens com agulhas, fio de sutura, seringas e em uma lata de lixo estava o testículo do animal”, explicou a Polícia Ambiental.

A corporação afirmou também que um médico veterinário foi até o local e “atestou que o animal passou pelo procedimento de castração”. O profissional também é membro do Conselho Municipal de Proteção Animal e presidente do grupo de proteção animal “Beco da Esperança”, que ficou responsável pelo cão até sua total recuperação.

“A ocorrência foi apresentada na Delegacia Seccional de Presidente Prudente e, tão logo os autores sejam localizados, as providências administrativas serão tomadas”, salientou a polícia.

Conselho de Medicina Veterinária repudia castração irregular de cachorro por estudantes e cobra providências de universidade
Polícia Ambiental resgatou o cachorro que foi castrado em uma república de estudantes universitários em Presidente Prudente — Foto: Polícia Ambiental

‘Covardemente’
 
“A Polícia Ambiental realizou uma ação juntamente com o policiamento territorial de um resgate de dois cães, um deles sofreu maus-tratos através de mutilação em procedimento cirúrgico, em local completamente inadequado, causando sofrimento ao animal. São quatro indivíduos, estudantes, universitários, em um pensionato realizaram esse procedimento, filmaram, publicaram, de maneira que zombam até do animal, do sofrimento que causam no animal e essa prática configura maus-tratos”, disse o capitão Júlio César Cacciari de Moura, oficial da Polícia Ambiental.

“A Polícia Ambiental resgatou esses cães, estão encaminhados agora para mãos que cuidam, que defendem o interesse e a causa animal”, complementou.

“A Polícia Ambiental sempre adverte, a modificação na lei hoje trouxe uma pena de reclusão de 2 a 5 anos. Esses indivíduos, infelizmente, covardemente, fugiram do local, se evadiram do local que praticaram o ato, mas a Polícia Ambiental já elaborou o auto de infração, a Polícia Civil, através de inquérito, irá apurar e responsabilizar cada um deles”, salientou Moura.

Ainda de acordo com o capitão, a Polícia Ambiental se coloca à disposição de toda a população, através do telefone 3906-9200.
 
Vídeo: Polícia resgata cachorro castrado em república em Presidente Prudente.

Universidade
 
A Universidade do Oeste Paulista, que oferece o curso de medicina veterinária, em Presidente Prudente, se manifestou oficialmente na noite desta segunda-feira (14) sobre os conteúdos de “fotos e vídeos divulgados nas redes sociais de uma castração irregular de animal fora do ambiente da universidade, provavelmente em local domiciliar”.

“Informamos que não compactuamos e repudiamos atitudes que denigram a saúde mental ou física de qualquer ser vivo. Temos, inclusive Comitês de Ética que regulam todo tratamento com animais na universidade. Mesmo que tal fato tenha ocorrido fora do ambiental acadêmico, se comprovado ato ou crime, os estudantes estarão sujeitos às penalidades da lei e do regimento geral da instituição. Lembramos que a Unoeste é referência no atendimento a animais de pequeno e grande porte na região. Seus serviços colaboram para o bem-estar dos animais e consequentemente do ser humano. Trataremos o caso com toda a atenção merecida”, afirmou a instituição de ensino superior em sua página em uma rede social.

Ao G1, nesta terça-feira (15), a universidade salientou que já identificou parte dos envolvidos neste fato realizado fora do ambiente acadêmico e aguarda confirmação das autoridades policiais que cuidam do caso quanto aos demais envolvidos.

“Desde o momento em que a universidade foi informada sobre o caso, na noite desta segunda-feira (14), gestores da instituição juntamente com os departamentos jurídico e de segurança estão em contato com as autoridades policiais e, neste momento, realizam uma reunião interna para definir as medidas cabíveis com relação aos estudantes identificados”, disse a Unoeste.

“Conforme nota oficial emitida na noite passada pela Unoeste, mesmo que o fato tenha ocorrido fora do ambiente acadêmico, o envolvimento de estudantes os tornam sujeitos a penalidades. A Unoeste repudia atitudes que colocam em risco a saúde mental e física de qualquer ser vivo, inclusive a universidade é referência no atendimento a animais de pequeno e grande porte na região, com diversas prestações de serviço gratuitos e programas sociais em benefícios dos animais”, completou a universidade ao G1.

Fonte: G1

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