Conselho Municipal de Proteção Animal sugere punição ao tutor de animais que sofreram maus-tratos em Venâncio Aires, RS

Conselho Municipal de Proteção Animal sugere punição ao tutor de animais que sofreram maus-tratos em Venâncio Aires, RS
Imagens de bovinos em situação de maus-tratos circularam em grupos de WhatsApp e foram parar nas redes sociais da ONG Amigo Bicho, que denunciou o caso às autoridades competentes (Foto: Reprodução/Facebook)

O Conselho Municipal de Proteção Animal (Compa) espera ter encerrado o episódio da denúncia de maus-tratos, no rodeio do CTG Lenço Branco, promovido no fim de semana passado, em Cerro dos Bois, no interior de Venâncio Aires. Nesta sexta-feira, 8, em reunião realizada na Secretaria de Meio Ambiente – da qual participaram, além de integrantes do Compa, fiscais do Município e o patrão do CTG, Jonas Heinen -, o conselho decidiu pedir a responsabilização do tutor do gado – que foi contratado pela entidade – e do veterinário que acompanhava o manejo de animais no dia em que as imagens e vídeos que mostram bovinos em situação de maus-tratos foram captadas e divulgadas nas redes sociais.

“Após os depoimentos dos envolvidos nesta situação, tomamos as providências cabíveis para o caso em questão”, afirmou a presidente do Compa, Kátia Diedrich. As providências às quais ela se refere são envio de ofícios ao Conselho Regional de Medicina Veterinária, solicitando que apure a conduta do profissional durante as atividades, e ao Ministério Público (MP) e à Patrulha Ambiental (Patram) para que analisem as sanções em relação ao tutor do gado. “No âmbito do conselho e órgãos municipais, entendemos que as medidas necessárias foram observadas. A análise das informações a respeito deste caso nos mostrou que foi um fato isolado, pois isso não acontece com frequência nos rodeios”, disse.

ONG Amigo Bicho

A denúncia de maus-tratos foi feita pela ONG Amigo Bicho, que procurou as autoridades depois de receber fotos e vídeos de bovinos em condições de sofrimento. Uma pessoa que estava no rodeio foi quem captou as imagens, segundo a tesoureira da entidade, Nais de Andrade. A ONG publicou em sua página no Facebook o material recebido e informou que era possível ver uma pessoa usando um equipamento para dar choques nos animais, método considerado extremamente cruel. Nais afirmou que sabe que os rodeios são importantes para a cultura do Rio Grande do Sul e que eventos assim evidenciam o tradicionalismo, entretanto defendeu que os exageros devem ser prevenidos e, caso constatados, punidos.

CTG Lenço Branco divulga nota

Após a ONG Amigo Bicho encaminhar denúncia de maus-tratos a animais à Secretaria de Meio Ambiente, o CTG Lenço Branco, promotor do rodeio no qual aconteceu o episódio, se manifestou sobre o caso, ainda na noite de quarta-feira, 6, por meio das redes sociais, através de nota oficial assinada pelo patrão da entidade, Jonas Heinen.

Na nota, a entidade esclareceu que não compactua com as atitudes tomadas no manejo do gado durante o evento e que as devidas medidas já estavam sendo tomadas junto aos órgãos públicos. “A entidade também vem a público esclarecer que o aluguel do gado, bem como os serviços de mangueira (manejo do gado) são terceirizados. Portanto, o CTG Lenço Branco não se responsabiliza pelos vídeos que circulam nas redes sociais, uma vez que a comissão organizadora, juntamente com o veterinário responsável, avisou o proprietário do gado para que parasse de usar choques durante o manejo do gado assim que ficaram sabendo do uso”, afirma a publicação do CTG.

Ainda de acordo com a nota, a entidade “sempre se comprometeu em realizar eventos que promovam a cultura, respeitando as legislações e atendendo ao bem-estar dos animais”.

Na tarde de quinta-feira, 7, a ONG Amigo Bicho compartilhou nas suas redes sociais a nota emitida pelo Lenço Branco, agradecendo o esclarecimento sobre os fatos ocorridos. A ONG ainda mencionou que “o CTG, assim como nós, da ONG Amigo Bicho, zela pelo bem-estar animal e estaremos sempre ao lado daqueles que não têm voz!”.

Mais sobre o caso

• Além das informações oficiais repassadas pelo Conselho Municipal de Proteção Animal (Compa), a reportagem da Folha do Mate apurou outras medidas encaminhadas em relação ao episódio de maus-tratos.

• A Inspetoria Veterinária de Venâncio Aires também será oficiada e, no documento, o pedido é para que apoie as autoridades na fiscalização durante os eventos, além da já tradicional vistoria para emissão da Guia de Transporte Animal (GTA).

• O gado utilizado no rodeio é de propriedade de duas pessoas, mas somente uma delas foi apontada durante as investigações, pois foi quem manejou o gado no dia do evento e aplicou os choques.

• Um contratado para auxiliar no manejo do gado no rodeio mantinha uma pista de laço clandestina, em Linha Tangerinas, que foi interditada pela fiscalização da Prefeitura durante a semana.

Por Carlos Dickow e Marina Mayer

Fonte: Folha do Mate


Nota do Olhar Animal: Procedimentos considerados “normais” nos rodeios também são extremamente danosos para os animais. Como, por exemplo, o uso de bridão e freio, conforme mostra o artigo abaixo. O uso de sedém, esporas e barrigueiras idem e, aliás, foram recentemente considerados como maus-tratos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Além dos danos físicos, há também os psicológicos, causados não só pela inflição de dor, mas pelo ambiente hostil dos rodeios, com música alta, fogos, iluminação forte, alarido do público, etc. Fazer parte o não da “cultura” não justifica a barbárie dos rodeios. O avanço do processo civilizatório passa pelo fim dos rodeios e de todas as formas de exploração dos animais.

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