De crocodilos a emas: é assim que 2.500 animais exóticos dividem um lar em uma fundação nas Ilhas Canárias Espanholas

De crocodilos a emas: é assim que 2.500 animais exóticos dividem um lar em uma fundação nas Ilhas Canárias Espanholas
O presidente da Fundação Neotrópica, Jaime de Urioste, possui um exemplar de Chelydra serpentina, uma tartaruga mordedora, que está localizado na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas nas Ilhas Canárias. Cerca de 2.500 animais de mais de 100 espécies exóticas, entre crocodilos, primatas, tartarugas e até emas, coexistem nas instalações da Fundação Neotrópica, único centro de conservação e resgate de espécies exóticas que existe nas Ilhas Canárias. Foto: EFE/Miguel Barreto

Cerca de 2.500 animais de mais de 100 espécies exóticas, entre crocodilos, primatas, tartarugas e até emas, coexistem nas instalações da Fundação Neotrópica, único centro de conservação e resgate de espécies exóticas que existe nas Ilhas Canárias.

A grande maioria dos animais, provenientes de todos os continentes do mundo, chegam à Fundação apreendidos através de tráfico ilegal, normalmente trazidos em malas quando ainda muito pequenos, por serem espécies exóticas invasoras ou por serem potencialmente perigosos, embora exista também uma pequena cota de capturas por fuga ou abandono no ambiente natural, e outras que seus proprietários renegam e ali depositam.

Em visita guiada, o presidente da Fundação Neotrópica, Jaime de Urioste, conta à EFE a história de animais exóticos que entraram ilegalmente nas ilhas e que até foram maltratados, como é o caso de Roli, um macaco-prego confiscado de um bordel e acorrentado às plantas de uma jacuzzi para criar “uma atmosfera tropical”.

Jaime explica que na Fundação Neotrópico, fundada em 2000, trabalham com o objetivo de proteger a biodiversidade nativa e global por meio de quatro eixos de atuação: o resgate e a reabilitação da fauna exótica; formar tanto os alunos que frequentam o programa de emprego em zootecnia como as forças de segurança do Estado; educação ambiental e pesquisa e transferência.

Espécime de Macaca sylvanus, macaco da Barbária ou de Gibraltar, encontrado na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas nas Ilhas Canárias.
Espécime de Macaca sylvanus, macaco da Barbária ou de Gibraltar, encontrado na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas nas Ilhas Canárias.

Sacrifício zero

Os ingressos de animais no centro são diários, o que aliado à política de “sacrifício zero” eleva para 2.500 o número de espécies “em lar permanente” nas instalações, no entanto, a fundação também tenta devolver estes animais ao seu habitat na medida em que possível ou a sua deslocalização para outros centros, sempre através do Ministério da Transição Ecológica.

O presidente da Fundação Neotrópica detalha que em 2023 chegaram 1.500 animais e que nos primeiros três meses de 2024 já chegaram mais espécies do que no mesmo período do ano anterior, “números que continuam aumentando”, o que acaba dificultando o trabalho nas ampliações de algumas instalações para que estas cheguem a 16.000 metros quadrados, com o objetivo de ter capacidade suficiente para os animais.

Após a apreensão de espécies exóticas pelas autoridades, o 1-1-2 aciona os serviços da fundação, que se deslocam “sem saber se vamos encontrar um periquito ou uma emu de 60 quilos”. Procedem então à sua remoção e gestão, seja em Tenerife, outras ilhas ou território peninsular, chegando mesmo a prestar aconselhamento internacional às alfândegas dos Países Baixos, Alemanha ou Bélgica, entre outros países europeus.

Jaime de Urioste garante que pelas instalações da fundação já passaram todos os tipos de animais, desde pumas, preguiças ou pítons de quatro metros até crocodilos ou mais de oito espécies de primatas: “Quando você pensa que já viu de tudo, eles ainda te surpreendem”, acrescentou.

 Espécime de Balearica regulorum, grou-coroado, encontrado na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas das Ilhas Canárias. Uma asa foi cortada para impedi-lo de voar.
Espécime de Balearica regulorum, grou-coroado, encontrado na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas das Ilhas Canárias. Uma asa foi cortada para impedi-lo de voar.

Não são mascotes

“As pessoas não percebem que esses animais não são animais de estimação e têm seus comportamentos selvagens e hiperagressivos pela frustração de estarem em ambientes pouco estimulantes e sem seu contato social normal”, denuncia.

Outro foco de atuação da Fundação centra-se na manutenção dos ecossistemas canários, uma vez que a biodiversidade canária, que é “muito exclusiva mas também muito delicada”, é violada pela introdução de espécies exóticas invasoras que provocam competição, risco para a saúde, depredação e alterações de habitat.

Além disso, Jaime salienta que em alguns casos pode haver hibridizações de espécies locais e exóticas que provocam “a contaminação genética e o desaparecimento de espécies canárias”, razão pela qual indica que é importante que “os subsídios continuem apoiando esta atividade para servir de barreira à chegada de espécies exóticas invasoras ao ambiente natural.”

Salienta que a nova lei de bem-estar animal desenvolve uma lista positiva, que afirma que qualquer animal presente pode ser considerado animal de estimação, o que “deveria produzir uma limitação destas espécies e que haja menos disponíveis”.

No entanto, ele teme que possa haver um abandono massivo de espécies não protegidas. “Não sabemos muito bem como é que a situação vai acontecer, mas por enquanto o número de animais só aumenta”, alerta.

Espécime de Cyclura cornuta, iguana rinoceronte, macaco verde africano, encontrado na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas das Ilhas Canárias.
Espécime de Cyclura cornuta, iguana rinoceronte, macaco verde africano, encontrado na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas das Ilhas Canárias.

4.000 metros quadrados e unidade de quarentena

A Fundação Neotrópico possui instalações de 4.000 metros quadrados que abrigam recintos adaptados às condições exigidas pelas diversas espécies, dois prédios para escritórios e terrários com condições de maior umidade, uma clínica equipada para tratamentos e cirurgias, e ainda uma unidade de quarentena de nível 3 de biossegurança, única nas Ilhas Canárias certificada com este nível para o controle de animais.

Esta unidade de quarentena permite conter doenças infecciosas mortais com tratamentos e aloja os animais “por um período de 30 a 60 dias” como medida preventiva contra a possibilidade de chegarem com doenças como o Ébola ou a malária.

No seu trabalho científico, explica Jaime, procura-se também o enriquecimento ambiental com a mistura de espécies compatíveis no mesmo habitat “para que o dia-a-dia seja mais estimulante”, como por exemplo, primatas e tartarugas que realizam a retroalimentação e cumprem suas funções vitais e sociais.

O presidente da Fundação Neotrópica, Jaime de Urioste, possui um exemplar de Lasiodora parahybana, uma tarântula rosa-salmão comedora de pássaros, que está localizada na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas nas Ilhas Canárias.
O presidente da Fundação Neotrópica, Jaime de Urioste, possui um exemplar de Lasiodora parahybana, uma tarântula rosa-salmão comedora de pássaros, que está localizada na Fundação Neotrópica, único centro de conservação de espécies exóticas nas Ilhas Canárias.

O trabalho da Fundação Neotrópico é apoiado por fundos do Ministério da Transição Ecológica e das restantes administrações públicas das Ilhas Canárias, além de doações e financiamentos relacionados com o trabalho de formação das forças de segurança das Ilhas Canárias ou com o Ministério da Educação na sua área de educação ambiental.

Olhando para o futuro, Jaime anuncia que a Câmara Municipal de Santa Cruz de Tenerife lhes cedeu um terreno de 12.000 metros quadrados que esperam ter disponível o mais rapidamente possível para atenuar “o aumento das chegadas” e manter raposas, pássaros, répteis ou morcegos que residem em suas instalações.

Por Pablo Herrera / Tradução de Alice Wehrle Gomide

Fonte: EFE

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