Defensores dos animais protestam contra ameaça de extermínio de 300 cães em Porto Alegre, RS

Defensores dos animais protestam contra ameaça de extermínio de 300 cães em Porto Alegre, RS

Cerca de 50 pessoas, entre protetores, ambientalistas, ativistas veganos e simpatizantes da Causa Animal realizaram um ato de protesto nesta quarta-feira, 24, contra a ameaça de extermínio de cães com suspeita de Leishmaniose.

Munidos de faixas, cartazes, velas, cruzes, apitos e máscaras de cachorro, os manifestantes gritaram palavras de ordem e cantaram uma versão “matadora” do jingle da campanha do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB). “Conseguimos reunir diversos grupos, desde protetoras que ajudam os cães que estão sob a ameaça de morte no Morro Santana (foco do mosquito-palha), pessoas que mantêm abrigos, participantes de brechós em prol de animais, veganos e ONGs, porque todos estão indignados com o fato da prefeitura defender a matança de inocentes ou impor como segunda opção que os protetores paguem pelos custos de um problema de saúde pública”, disse uma das organizadoras do ato. Participaram da manifestação integrantes da Vanguarda Abolicionista, Vila dos Peludos, Gatos & Amigos, Associação Pró-Bicho Gaúcho, Mira-Serra, Greenpeace, Núcleo de Ecojornalistas do RS e protetores de Canoas e Viamão (cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre).

LeishManinhos – Quem ama não mata, trata

O ato em frente à Prefeitura de Porto Alegre foi a primeira ação do “Projeto LeishManinhos – Quem ama não mata, trata”, destinado a conscientizar a opinião pública sobre a importância da prevenção, limpeza urbana, combate ao desmatamento e, por conseguinte, ao foco do mosquito. Emergencialmente, o Projeto LeishManinhos vai buscar padrinhos para custear o atendimento (testes + tratamento) dos cães com suspeita de Leishmaniose de tutores que não possuam condições financeiras e adoção especial para os cães contaminados (em situação de rua) que irão necessitar de acompanhamento veterinário para o resto de suas vidas.

O evento foi marcado às pressas, um dia após o Secretário Municipal de Saúde, Erno Harzheim, declarar que os cães com “suspeita” de Leishmaniose somente não serão eutanasiados se seus tutores ou ONGs se responsabilizem pelo tratamento dos animais. Do contrário, a eutanásia será a medida adotada pela Vigilância Sanitária. Segundo Harzheim, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não tem condições, nem legais, de assumir o tratamento, pois constituiria improbidade administrativa. Para os defensores dos animais, é inexplicável que a SMS – que publicou edital em 2/5 para matar 300 cães supostamente soropositivos para LCV (Leishmaniose Visceral Canina)-, após exames duvidosos, não tenha um centavo para tratá-los.

Medidas inexequíveis

Na reunião técnica para tratar da Leishmaniose, realizada em 23/5, a SMS determinou como protocolo: “o tratamento dos animais positivados será facultado aos proprietários, desde que todas as seguintes medidas sejam obedecidas: acompanhamento por médico veterinário privado, chipagem do animal, coleira repelente, manutenção do/s animal/is a pelo menos 500 metros de distância de áreas de mata nativa, manutenção do tratamento, apresentação de exames a cada quatro meses. A eutanásia só será utilizada caso não sejam atendidas as normas técnicas de segurança definidas (…).” As medidas foram criticadas pelos protetores, em vista dos tutores dos cães supostamente soropositivos não possuírem condições financeiras para arcar com o tratamento.

Segundo os manifestantes, a prática de eutanásia só é admissível quando não há possibilidade de tratamento, o que não é o caso da LCV. Ou como garantiu o juiz José Antônio Coitinho, ao deferir PEDIDO LIMINAR em 9/5: “o que irá determinar a erradicação da doença não é o holocausto dos caninos”. Uma das ativistas presentes reforçou: “o que a SMS (SS) propõe é o extermínio, o holocausto animal” (dizeres de um dos cartazes da manifestação). Para os protetores, além do tratamento dos cães, devem ser adotadas políticas públicas de prevenção, como campanhas de conscientização (a exemplo do que é feito com a Dengue), aliadas à distribuição de coleiras e combate efetivo aos focos do mosquito-palha – com saneamento básico, recolhimento do lixo e fiscalização de áreas de desmatamento.

Cães estão sob ameaça de morte desde 2 maio. Veja o histórico:

  • 2/5 – SMS publica um edital de “dispensa de licitação” no DOPA (Diário Oficial de Porto Alegre) anunciando a contratação de uma clínica veterinária para “serviços de eutanásia” de até 300 caninos soropositivos para LVC.
  • 7/5 – Defensores dos animais descobrem durante a madrugada que 14 cães seriam mortos e se dividem em dois grupos para impedir o extermínio dos animais. Às 9h, cerca de 30 vão para a Animed (clínica contratada sem licitação) e outros 20 para a Unidade de Medicina Veterinária (UMV) da Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda). Graças à mobilização, às 13h, a SMS emite comunicado desistindo de assassinar os cães. A Arca Brasil, promotora da campanha ”O cão não é o vilão” desde
  • 2012, se solidariza com os animais de Porto Alegre, enviando coleiras, folders e cartazes.
  • 8-15/5 – SMS recebe alguns parlamentares e defensores de animais.
  • 9/5 – Juiz José Antônio Coitinho defere PEDIDO LIMINAR suspendendo a matança dos cães.
  • 13/5 – Veterinários da Seda e protetores de animais se reúnem com empresa fabricante do medicamento para LCV.
  • 18/5 – Seda promove encontro com cerca de 40 veterinários, defensores dos animais e empresa fabricante do medicamento para LCV para orientações sobre o controle da doença.
  • 21/5 – Seda realiza ação na Vila das Laranjeiras, próxima ao Morro Santana, como parte do plano para controle da LCV no foco do mosquito-palha.
  • 23/5 – SMS realiza reunião técnica para tratar da Leishmaniose, impondo medidas irrealizáveis para tutores de cães em situação de vulnerabilidade social, como os residentes no Morro Santana.

Por Gelcira Teles (Fotos: Jonathan Souza, Tatiane Leria, Juliana Coube, Márcia Porciúncula / Vídeos: Daniela Pedroso)

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