Desmonte: em 2019, Cetas teve menor entrada de animais silvestres da década

Desmonte: em 2019, Cetas teve menor entrada de animais silvestres da década
O único Cetas do CE fica no bairro Guajiru, em Fortaleza. Fechado há mais de um ano, o local não tem nenhuma identificação visual. Foto: Natinho Rodrigues

O total de animais com entrada no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) do Ceará, em 2019, foi o menor dos últimos 10 anos. Ainda no primeiro semestre de 2019, o equipamento foi fechado, impossibilitando a entrada de alguns animais. A situação se agravou em 2020. Desde janeiro, o Centro passou a não receber nenhuma espécie “por conta de diversas restrições técnicas”, disse, em nota, o Ibama.

O Centro recebe animais apreendidos, resgatados e vítimas de tráfico. Sem local adequado para abrigar os animais, o número de apreensões caiu pela metade entre janeiro e agosto deste ano, conforme dados do Batalhão da Polícia Ambiental. Por outro lado, a ocorrência de crimes ambientais aumentou, observa o biólogo Fábio Nunes. “Além da redução nas apreensões favorecerem o tráfico, se um cidadão tiver ou achar um animal silvestre e quiser entregar para o Ibama, não tem como”, critica o especialista.

Esse impacto pode ser mensurado no total de animais que vêm deixando de entrar no Cetas. No último ano, foram registradas 4.107 entradas, sendo 3.398 aves; 571 répteis; 121 mamíferos e 17 animais exóticos. O número representa uma diminuição de 64% em relação ao ano anterior (11.486), que somou o maior número da série histórica. Do total de animais no serviço em 2019, 3.384 foram soltos após os devidos procedimentos e 1.668 morreram.

Problema recorrente

Em maio de 2019, o Ibama já havia cancelado o recebimento de psitacídeos (aves), animais com maior frequência na unidade. O biólogo Gabriel Aguiar explica que, por conta do fechamento, o resgate, mesmo voluntário, se transforma em uma verdadeira ‘saga’.

“Antes da gente resgatar, rastreamos todo o percurso até a reabilitação. Vemos se alguma clínica poderá atender, se a gente vai conseguir arcar com os custos e se os órgãos vão responder. Caso não, a gente nem consegue resgatar”, explica. O médico veterinário especializado em animais selvagens, Marcel Lucena, ressalta que, nos últimos meses, houve um aumento “exponencial” do número de pedidos de resgate. Ele realiza um trabalho voluntário de reabilitação. “Acredito que aumentou 70%. Antes, a pessoa me ligava e eu falava para encaminhar para o Cetas e o caso era resolvido. Com o fechamento, as pessoas ficam sem saber o que fazer”, detalha.

Estado

O secretário do Meio Ambiente do Ceará, Artur Bruno, explica que a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), vinculada à Sema, tem tentado assumir os serviços do Cetas, “mas ainda não houve sucesso nessa tratativa”, explica. Em nota, a Semace informou que “após o fechamento do Cetas, solicitou a cessão do equipamento, propondo a celebração de instrumento jurídico específico, que passaria a gestão do equipamento para o Estado”.

A solicitação foi apresentada em maio de 2019, “mas ainda não houve resposta” do Ibama, detalhou. Diante do impasse, a Superintendência contratou a elaboração de um projeto para a construção de um Centro no Cariri “e está em negociação com a Prefeitura de Fortaleza para viabilizar a construção de uma segunda estrutura com a mesma função nesta capital”. Na avaliação de Artur Bruno, o movimento é necessário. “A ideia é que o Estado tenha dois Cetas. Esse do Cariri serviria boa parte do interior cearense. Um Cetas é muito pouco para as necessidades do estado”.

O Sistema Verdes Mares perguntou ao Ibama se atualmente há animais nos Cetas e se há previsão para reabertura. O órgão não respondeu.

Por Rodrigo Rodrigues 

Fonte: Diário do Noroeste

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