Espanha: ‘O extermínio fracassou como opção de controlar a população de gatos de rua’, diz diretor

Espanha: ‘O extermínio fracassou como opção de controlar a população de gatos de rua’, diz diretor
Sergio García Torres participou no sábado passado da I Conferência Felina de Canarias, celebrado en La Laguna, Espanha. Fran Pallero

O Diretor-Geral de Direitos dos Animais estatal, Sérgio Garcia, defende que “nos aproximemos dos criadores de galos para que sigam os criando, mas sem confrontos diretos em seus espetáculos”.

Certamente esse conhecido ativista do movimento animal nunca imaginou que acabaria sendo protagonista direto do avanço legislativo mais relevante da história da Espanha no que se refere ao reconhecimento dos direitos dos animais, principalmente quando fez os primeiros trabalhos como escultor e pintor artístico, garçom, agrimensor, negociante de arte ou assistente de arqueologia, um passado que ele nega em absoluto. Formado como Técnico Superior em Artes Aplicadas à Escultura e ‘gerente de comunidade’, confessa ao Diário de Avisos de La Laguna (onde participou da I Conferência Felina de Tenerife) que os ataques pessoais sofridos desde janeiro de 2020, quando foi nomeado diretor-geral dos Direitos dos Animais no Ministério de Direitos Sociais e Agenda 2030, acabaram de convencê-lo de que, a respeito de Sergio Garcia Torres (Madrid, 1979), sua atual etapa na linha de frente da política estatal só será um parênteses em sua trajetória de vida.

– O que prevê a nova Lei, além de acabar com a classificação jurídica dos animais como coisas?

“Esta reforma tem, por assim dizer, três eixos fundamentais, visto que o Código Civil, a Lei de Proteção Animal já existente e o Código Penal são modificados de modo a homogeneizar a normativa a respeito e, porque não lembrar, somar-nos aos países do nosso entorno neste sentido.”

– Você compreende o espanto de quem descobre que, até o mês passado, na Espanha era permitido incluir o animal de estimação na hipoteca, isso sem ir mais longe?

“(Sorri). Até então eles eram considerado coisas, de fato.”

– Antes de voltar a este tema, que impressão você tem da Conferência de La Laguna?

“Trata-se de uma iniciativa pioneira muito interessante e necessária nas Ilhas para partilhar soluções [para o problema das colônias de gatos de rua, tema central da conferência]. Ninguém quer que hajam gatos nas ruas, porque é uma vida ruim para eles, e isso requer controlar sua população com critérios éticos. Em todo o país surgem iniciativas para isso e compartilhá-las com as das Ilhas Canárias sempre agrega”.

– Não faz muito tempo que as instituições optavam pelo extermínio dessas colônias. O que mudou para que os principais municípios apliquem agora métodos como o CES (captura, esterilização, soltura)?

Além das considerações éticas, foi demonstrado que, como você diz, essa política de extermínio não dá resultados, nem nas Ilhas Canárias nem no resto do país, porque as populações dessas colônias seguem crescendo apesar de tudo, e a melhor prova disso é que o problema continua. Além disso, a sensibilização da sociedade tem crescido muito, e o interesse demonstrado por muitos mais pessoas impulsiona esse avanço municipal, onde é comprovado que os resultados da aplicação do CES são claramente superiores.

– Sua utilidade para manter os roedores longe dos ambientes justifica a sobrevivência dessas colônias?

“É indiscutível que uma colônia bem controlada cumpra funções tão práticas como essa”.

– Como pró animalista, que imagem você tem das Ilhas Canárias, pioneira em recusar as corridas de touros ao mesmo tempo em que conserva as brigas de galos?

“Como qualquer região do país, as Ilhas Canárias apresentam uns aspectos mais positivos e outros não tanto. Por isso trabalhamos pela homogeneização das normas e, de fato, o projeto da futura lei regional contempla também a proibição do uso de galos ou de qualquer outro animal em brigas”.

– Não irão pagar pelos pecados alheios esses criadores de galos que se dedicam a cuidar de seus animais, um costume acentuado estabelecido em muitos locais do Arquipélago?

“Bem, é uma questão de opinião. Além do resultado evidente, o critério científico é claro ao considerar que o uso de animais em brigas supõe maus tratos a eles. É necessário aproximar esses grupos para reunir posturas e garantir que sigam criando essas espécies e que os espetáculos para mostrar seu valor não incluam o confronto direto dos galos”.

– Minha filha, como tantos outros moradores da Ilha, tem seu gato, Kenai, cumprindo todas as regras. O que terá que fazer agora com o novo DNI animal?

“Se ela, como qualquer pessoa, o vacinou e cumpre a lei regional, não precisa fazer nada, porque este DNI animal chegará diretamente a sua casa, apesar de certas manchetes alarmantes”.

Por Tinerfe Fumero / tradução de Bina Foloni

Fonte: Diario de Avisos

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