Lagostas e camarões sentem dor. Quem come deve saber isso

Lagostas e camarões sentem dor. Quem come deve saber isso
Lagostas e camarões sentem dor. Quem come deve saber isso

Aquela lagosta enorme (e cara) do restaurante custa caro e é um dos pratos mais requintados que existem. Mas será que o consumidor pagaria seu preço alto se soubesses que esses animais são cozidos vivos, e que provavelmente quem come financia e se alimenta de dor?

Será que lagostas e outros invertebrados que a gente come sentem dor? De acordo com muitas pesquisas, SIM!

Infelizmente, para entender o que talvez seja óbvio para muitas pessoas, existem estudos que testam as respostas comportamentais destes animais a toques de força crescente em diferentes áreas do corpo deles. Isso ajuda a distinguir comportamentos que são reflexos nociceptivos simples daqueles que podem indicar dor.

Os testes visam identificar quais tipos de estímulos são nocivos aos animais, quais indicam dor, quais são simples reflexos.

Entenda:

Dor ou reflexo?

Os animais sentem dor?

Embora algumas pessoas fiquem horrorizadas com a ideia de cozinhar lagostas vivas ou caranguejos vivos, sabemos muito pouco sobre se esses animais (ou invertebrados em geral) realmente sofrem.

A indústria global de alimentos cultiva ou captura bilhões de invertebrados todos os anos.

Mas, ao contrário dos vertebrados, eles praticamente não têm proteção legal.

A dor é uma coisa difícil de testar.

Como podemos saber quando um animal está sofrendo?

Segundo Descartes: todos os animais não humanos são meros autômatos, sem autoconsciência e incapazes de sentir.

Bom, não é isso que as pesquisas indicam.

Cientistas da Queen’s University Belfast abordaram a questão concluindo:

A maioria dos organismos pode responder a um estímulo que sinaliza um evento potencialmente prejudicial.

O estudo

Receptores especiais chamados nociceptores (que detectam temperaturas excessivas, produtos químicos nocivos ou lesões mecânicas, como esmagamento ou rasgamento) são encontrados em todo o mundo animal.

Mas quando um animal responde a algo que consideramos doloroso, isso significa necessariamente que o animal está com dor?

A resposta pode ser um simples reflexo, onde os sinais não viajam até o cérebro, ignorando as partes do sistema nervoso conectadas à percepção consciente da dor.

Estudos com camarões e caranguejos mostraram: se for aplicado ácido acético ou um breve choque elétrico em uma parte de um caranguejo, ele esfregaria esse local por longos períodos com suas garras.

Às vezes, os camarões e os caranguejos contorciam seus membros em posições desajeitadas para alcançar o ferimento.

De acordo com o pesquisador Robert Elwood:

“Não são apenas reflexos. Este é um comportamento prolongado e complicado, que envolve claramente o sistema nervoso central”.

O comportamento destes invertebrados vai muito além do reflexo, conclui o pesquisador.

Lulas e polvos

Robyn Crook, neurobiologista evolucionista do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, fez muitas das mesmas perguntas aos cefalópodes, como lulas e polvos.

Crook descobriu que os polvos mostram muito do comportamento relacionado à dor visto em vertebrados, como cuidar e proteger uma parte do corpo ferida.

Eles são mais propensos a nadar e esguichar tinta quando tocados perto de uma ferida do que em outras partes do corpo.

As lulas, no entanto, podem sentir a dor de maneira muito diferente. Logo após a barbatana de uma lula ser esmagada, os nociceptores se tornam ativos não apenas na região da ferida, mas em grande parte de seu corpo, estendendo-se até a barbatana oposta.

Isso sugere que, uma lula ferida pode sentir dor por toda parte de seu corpo.

Apesar do estudo, o tema permanece controverso. Afinal, cerca de 98% de todas as espécies de animais são invertebrados.

Tanto Elwood quanto Crook com suas pesquisas estão ajudando para que o menor número possível de animais passe por sofrimentos e maus-tratos.

E eles estão pressionando os outros a fazerem o mesmo.

Crook indaga:

“Estamos ampliando nossa compreensão da dor e da nocicepção. Como isso pode não ser interessante, mesmo para os céticos?”

Quem come deve saber isso

Se você é louco por ostra, lagosta, lula, peixe, camarão, etc, saiba que cada vez mais pesquisas comprovam a senciência dos animais, ou seja, a capacidade deles sentirem e entenderem por meio dos sentidos.

Se quiser se alimentar de dor, tudo bem, mas seja consciente. Você pode fazer escolhas.

Por Lara Meneguelli

Fonte: GreenMe

Senciência

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