Mais de uma tonelada de marfim foi queimada em Angola
Uma tonelada e meia de marfim foi queimada ontem no Parque Nacional da Quiçama, em Luanda, num acto testemunhado pela ministra do Ambiente, Fátima Jardim, pelo governador provincial de Luanda, Higino Carneiro, e por membros do corpo diplomático acreditado em Angola.
“Com este acto, Angola assume o firme compromisso de continuar a desenvolver acções para preservar o Ambiente e também dizer ao mundo não à morte de elefantes, não ao comércio ilegal de animais e não à corrupção”, disse Fátima Jardim, no acto comemorativo central do Dia Mundial do Ambiente, assinalado ontem no Parque da Quiçama.
Não à corrupção, disse Fátima Jardim, sublinhando que a caça ilegal está ligada a actos de suborno por parte das pessoas envolvidas.
Segundo a ministra, o marfim queimado foi apreendido em diversos pontos do país, com maior destaque para o Aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda, e na província do Cuando Cubango, durante o ano de 2016 e princípio de 2017.
Num levantamento de dados estatísticos, a ministra indicou que em 2013 havia 415 mil elefantes, só na região de Okavango/Zambeze. Hoje, na mesma região, apenas existem 110 mil elefantes. Como se sabe, a região de Okavango/Zambeze é uma zona transfronteiriça que liga vários países.
Fátima Jardim anunciou que o Ministério do Ambiente criou uma unidade que trata dos crimes ambientais e tem vindo a desenvolver um trabalho rigoroso, que resultou em várias apreensões de marfim a traficantes. A caça furtiva, disse Fátima Jardim, continua a extinguir várias espécies de animais no continente africano, onde os caçadores clandestinos estão na base da emigração de animais, no comércio ilegal e matanças de todo o tipo de animais, como é o caso dos rinocerontes, que actualmente se encontram em vias de extinção.
Em 2013 foram abatidos mais de mil rinocerontes em diversas zonas de África. À escala mundial, o quilo do chifre e a carne de rinoceronte estimava-se, em 2013, em três mil dólares, mas em 2016 já tinha subido para 65 mil dólares.
A nível mundial, afirmou a ministra, existem redes criminosas organizadas que estão em expansão e têm causado o aumento de elefantes mortos. Nos últimos dez anos foram mortos mais de trinta mil. Actualmente, na África Austral continua a assistir-se à morte de mais de 300 animais por ano.
Angola juntou-se às iniciativas da ONU que visam a protecção e conservação da natureza, desenvolvendo acções de combate à caça ilegal e comércio de animais.
A ministra enalteceu os esforços do Ministério da Defesa, que apoia a formação do corpo de fiscais do Parque da Quiçama, bem como o trabalho da Polícia Nacional no combate aos crimes contra a natureza.
O representante da ONU em Angola, Pier Paolo Balladelli, enalteceu os esforços do Executivo na protecção e conservação do meio ambiente. Para Pier Paolo Balladelli, Angola tem desenvolvido com êxito acções visando o combate à caça ilegal e o comércio de marfim. “Hoje, estes males estão muito reduzidos. Tudo graças aos esforços feitos pelo Executivo angolano, representado pela ministra Fátima Jardim”, disse.
O Parque Nacional da Quiçama é uma referência nacional na preservação da fauna e da flora e conserva o ecossistema de mangais de planícies inundáveis, bem como diversos animais exóticos, como o peixe-boi. “No âmbito da diversificação da economia, pensamos ser urgente e necessário que este local seja transformado num pólo de atracção e promoção do ecoturismo, cuja sustentabilidade só se fará se estiverem reunidas as condições para que seja visitado por turistas”, defendeu o governador provincial de Luanda, Higino Carneiro.
Na sua mensagem, o ambientalista Vladimir Russo defendeu uma maior aposta na formação de quadros, assegurando de seguida adequadas condições de trabalho dos fiscais dos parques nacionais e áreas protegidas.
Russo acrescentou que é também necessário que a lei seja aplicada de igual forma para todos e que as entidades singulares e colectivas que agridam o ambiente devem ser criminalmente penalizadas e tais penalizações divulgadas, para inibir novos crimes ambientais.
“Por outro lado, sem o efectivo fortalecimento do sistema nacional de áreas protegidas continuaremos a ter parques e reservas apenas no papel. Aqui a sociedade civil, com a sua experiência, joga um papel importante”, disse a concluir Vladimir Russo.
Por Victorino Joaquim
Fonte: Jornal de Angola / mantida a grafia original
Nota do Olhar Animal: O ecoturismo é mais uma forma de exploração animal e comumente também causa danos a eles, como no caso do avistamento embarcado de baleias.