Ninho de tuiuiú foi queimado em incêndio persistente na Serra do Amolar, em MS

Ninho de tuiuiú foi queimado em incêndio persistente na Serra do Amolar, em MS

O fogo, provocado intencionalmente, na Serra do Amolar, no Pantanal, continua destruindo o bioma. Desta vez, a equipe do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), que atua incessantemente para combater as chamas e preservar vidas, tanto animal quanto vegetal, depararam com um ninho de tuiuiú completamente destruído pelas chamas. Ao O Pantaneiro, integrantes da equipe revelaram que não encontraram vestígios de que as aves tenham sido mortas pelo fogo.

Nessa luta, estão o biólogo Wener Hugo Moreno e o veterinário Geovani Tonolli, deram início a um monitoramento na região, que vem sofrendo com incêndios registrados a partir de 27 de janeiro de 2024, e que persistem com focos isolados. Todo esse trabalho é amparado por monitoramento de câmeras, como explica o biólogo Wener Hugo Moreno.

“Subimos para a região da Serra do Amolar, onde a gente atua com monitoramento através de câmeras, para a análise exploratória. Entendermos como o fogo está afetando, neste 2024, a fauna na região, como ela está se comportando, quais são as rotas de fuga podem ser usadas. É um mapeamento preliminar. Temos já estudos sobre a influência do fogo nas populações de onça-parda, onça-pintada e esses dados que a gente veio buscar coletar nesta campanha serão importantíssimos para entendermos como a fauna comporta aqui na região da Serra do Amolar perante ao fogo”.

As chamas na Serra do Amolar foram registradas a partir de 27 de janeiro de 2024, e persistem com focos isolados. Segundo informações, um proprietário rural da região pode ter começado o fogo na tentativa de limpar o baceiro (vegetação flutuante que pode aglomerar-se e formar pequenas ilhas que impedem o acesso a corixos ao longo do rio Paraguai), que estava no acesso para a propriedade. Ele chegou a ser informado sobre o início das chamas, após a constatação do caso na central de monitoramento que o IHP possui em Corumbá. A Polícia Militar Ambiental também foi informada sobre o registro do início do incêndio para atuar na fiscalização.

Equipamentos especiais para identificar o início do incêndio

Diante da gravidade desde a quarta-feira, 7 de fevereiro, ambientalistas do IHP estão na região para ajudar no combate e levantar indícios do impacto do fogo na fauna.

Dados do Painel do Fogo (uma plataforma Web que disponibiliza informações sobre incêndios e queimadas no Brasil) foram destruídos quase 2,7 mil hectares do território de Patrimônio Natural da Humanidade. As ações dos envolvidos no combate e na investigação do fogo, levou a Polícia Militar Ambiental de Corumbá–MS autuar um empresário (que não teve o nome revelado pela PMA) em R$ 9,6 milhões por iniciar o fogo que se alastrou pela Serra do Amolar no fim de janeiro.

O Instituto Homem Pantaneiro utilizou um sistema chamado Pantera, feito pela startup Um Grau e Meio e operado na sede do Instituto em Corumbá–MS, para rastrear a origem do incêndio.

O HIP permanece na região e se utiliza de equipamentos especiais para monitorar os focos, bem como se há necessidade de acionar resgate de algum animal.

“Nós chegamos aqui justamente para acompanhar e identificar possíveis espécies que estão procurando locais mais seguros em decorrência dos incêndios que estão ocorrendo aqui na região. A gente está com a equipe de brigadista, a Brigada Alto Pantanal, que fez uma primeira avaliação e identificou a situação da fauna. Nós trouxemos alguns equipamentos que podem auxiliar e complementar esse trabalho de monitoramento, e, se preciso, acionar apoio para fazer resgate”, revela o veterinário Geovani Tonolli.

Na região da Serra do Amolar já foram identificados:

  • 132 espécies de aves;
  • 11 espécies ameaçadas segundo a lista do MMA 2022 e IUCN (mamíferos e aves);
  • 14 espécies da herpetofauna registradas (jacaré, lagartos, sapos, rãs, etc.);
    30 espécies de mamíferos identificadas (monitoramento de biodiversidade-visualização, câmera trap, vestígios ou por vocalização).

Os ambientalistas do IHP contam que são 800 espécies levantadas até o momento para a Rede do Amolar: sendo 42 de abelhas, aproximadamente 82 de aranhas, 62 de borboletas, 120 de formigas, 420 de besouros, 24 de libélulas, 71 de percevejos e 40 espécies de vespas.

As espécies ameaçadas envolvem: onça-pintada, anta, queixada, tamanduá-bandeira, tatu-canastra, mutum-de-penacho, ariranha, gato-mourisco.

Vídeos mostram que enquanto a Brigada Alto Pantanal, mantida pelo IHP, fazia o combate, puderam deparar com animais tentando esconder-se do fogo. Imagens revelam uma iguana e um jacaré. A equipe conseguiu controlar as chamas e os animais fugiram do local.

Serra do Amolar, o oásis do Pantanal

A região da Serra do Amolar, que está dentro do Pantanal, no município de Corumbá–MS, compreende um território de grande biodiversidade, é área de Reserva da Biosfera, além de ser um Patrimônio Natural da Humanidade. O território é formado por 80 km de extensão de morrarias que chegam a ter quase 1 mil de altitude. Essa área fica a cerca de 700 km de Campo Grande, a partir de Corumbá e por via fluvial. Só é possível chegar nesse local por ar ou pelo rio Paraguai.

Devido a várias particularidades, incluindo os seus elementos naturais, geográficos e ecológicos, a região tem potencial de abrigar espécies de plantas e animais de exclusividade da Serra do Amolar. Por ali, há interações de fatores geográficos, climáticos e ecológicos que criam ecossistemas particulares que não são encontrados em outras partes do Pantanal.

Além disso, trata-se de um território considerado uma barreira natural para o fluxo das águas, que se difere completamente do restante do bioma. Ali existe uma variedade de terrenos e paisagens, áreas com características de Mata Atlântica, do Pantanal, da Amazônia, o que resulta na sua riqueza de biodiversidade.

Apesar das chuvas pontuais que caíram na região Pantaneira de Corumbá, não foram o suficiente para ajudar no combate e o trabalho continua intenso na região e novos focos nos locais onde já tinha sido queimado ressurgiram. O fogo não terminou por completo e ainda há muita fumaça no local.

 

 
 
 
 
 
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Por Hélio Tinoco

Fonte: O Pantaneiro

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