Portugal: causa animal ergue a voz contra corrida de galgos no Cadaval a 21 de abril

Portugal: causa animal ergue a voz contra corrida de galgos no Cadaval a 21 de abril
Os galgos são das raças mais velozes.

As corridas de galgos, apesar de não estarem proibidas em Portugal, são consideradas já por muitas organizações de todo o mundo como uma forma de maus-tratos a animais. Por isso mesmo, sempre que surge um evento destes no país, é repelido com veemência por toda a causa animal – e é precisamente o que está a acontecer agora com a corrida prevista para o próximo domingo, 21 de abril, na zona industrial do Cadaval – distrito de Lisboa.

A câmara municipal local está a divulgar o evento no Facebook, o que está a enfurecer ainda mais os amantes dos animais. Além disso, a foto usada no cartaz fere os mais suscetíveis, já que se vê um Galgo açaimado e de olhos vidrados. “O Cadaval recebe no próximo domingo, dia 21 de abril, uma corrida de Galgos com organização da Associação Galgueira do Centro. Esta iniciativa terá lugar na Zona Industrial do Cadaval e, para os interessados, as inscrições são feitas no dia da prova”, refere o post do município.

PAN insta Câmara a cancelar evento

O partido Pessoas-Animais-Natureza já se pronunciou, tendo feito um apelo à sociedade civil pela não realização do evento. “Tomámos conhecimento do anúncio da realização de uma corrida de galgos, na Zona Industrial do Cadaval, no dia 21 de abril de 2024, organizada pelo Município do Cadaval e da Associação Galgueira do Centro. As corridas de galgos são responsáveis por perpetuar a exploração e o sofrimento dos animais, sujeitando-os a treinos particularmente difíceis, bem como ao abandono e a condições de vida indignas”, aponta o partido liderado por Inês Sousa Real, sublinhando que “esta prática contraria inclusivamente os princípios estabelecidos pela Lei de Proteção aos Animais, Lei n.º 92/95, de 12 de setembro”.

“Considerando o reconhecimento da natureza própria e da dignidade dos animais, enquanto seres vivos sensíveis, e designadamente o seu direito à vida e à integridade física e psicológica, instamos a Câmara Municipal do Cadaval para que, dentro das competências que legalmente lhes são atribuídas, promovam o cancelamento e a não promoção do referido evento”, diz a publicação.

O PAN refere ainda que “já denunciou e questionou as entidades competentes a respeito deste evento”, mas que pode “fazer muito mais” com o apoio de quem condena esta prática, nomeadamente enviando um email a apelar para que a Câmara Municipal do Cadaval, em nome do bem-estar animal, cancele o evento. Além disso, sublinha o PAN, “já propusemos através da nossa deputada Inês Sousa Real um projeto de lei para a proibição das corridas de galgos e voltaremos ao tema nesta legislatura”.

A corrida é já no domingo.
A corrida é já no domingo.

SOS Animal e ANIMAL apelam à ação

Também a SOS Animal Portugal e a ANIMAL já vieram, numa iniciativa conjunta, condenar a corrida. “A Câmara Municipal do Cadaval está a apoiar e a fazer promoção de um evento absolutamente arcaico: uma corrida de cães (galgos, mais propriamente). Por favor, deixe os seus comentários nas redes sociais da autarquia e escreva diretamente à Câmara também, pedindo para que retire o apoio a semelhante crueldade”, apelam.

“Em 2019 a SOS Animal iniciou uma Iniciativa Legislativa Cidadã pedindo a proibição das conhecidas ‘corridas de galgos’, tendo a Iniciativa que reuniu mais de 20 mil assinaturas sido apresentada e três projetos-lei apresentados em Plenário em 2021. Um dos projetos (do PAN) chegou a baixar à 7.ª Comissão Parlamentar, mas, lamentavelmente, não se legislou a respeito”, apontam.

As corridas de cães, referem as duas organizações, “além da exploração e crueldade óbvia contra os animais que estão à vista de qualquer indivíduo minimamente empático, ainda têm a agravante de resultarem muitas vezes em ferimentos graves e/ou mortes. Estamos em 2024, é absolutamente inaceitável que se continue a ver como aceitável utilizar animais desta forma, divertir-se e ainda ganhar (por vezes bastante) dinheiro com tal barbaridade, e, por cima, ainda haver um organismo público a promover e apoiar”.

“Há um grupo de indivíduos, quase na íntegra ligados à prática da caça e similares, que se dedicam a este tipo de atividade. Criam e exploram os animais, promovem concursos e o resto é a miséria que tão bem conhecemos. Não esquecer o caso do cavaleiro tauromáquico João Moura, que é, na realidade, apenas um exemplo daquilo que é prática comum”, apontam.

Ambas as organizações deixam um apelo: “por favor, ajude-nos a pressionar a autarquia do Cadaval, sempre de forma firme e respeitosa, pois temos a razão do nosso lado. É muito importante que não deixemos de protestar contra o que apesar de ainda ser legal, é absolutamente inaceitável e deve acabar”.

Mil comentários contra a corrida de Galgos

Estes apelos têm estado a surtir efeito e o post da câmara a anunciar o evento conta já com cerca de mil comentários de repúdio. “Vergonhoso explorar assim os animais” e “É isto que o Cadaval tem para oferecer aos visitantes? Lamentável e vergonhoso! Estamos em 2024, século XXI!” são algumas das reações.

“As corridas de galgos são inerentemente perigosas para os cães envolvidos. Correr a grande velocidade nas pistas ovaladas provoca graves lesões a muitos deles e, em alguns casos, as lesões são tão graves que é necessário eutanasiar o cão”, sublinhou recentemente a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA), entidade britânica que trabalha há muitos anos com esta indústria no sentido de tentar melhorar as condições dos cães envolvidos nesta prática desportiva.

A Greyhound Board of Great Britain (GBGB) é a organização autorregulada que rege as corridas de galgos na Grã-Bretanha e os seus dados revelam que mais de 2.000 galgos morreram e perto de 18.000 ficaram lesionados em corridas entre 2018 e 2021. Por cá, o PAN, a SOS Animal e a ANIMAL têm trazido muitas vezes a lume a questão das corridas de galgos em Portugal e do desgaste que os cães sofrem com os sprints, além dos treinos muitas vezes desumanos.

A própria criação de galgos tem estado envolta nalguma controvérsia, tendo sido emblemático o caso dos 18 galgos apreendidos em 2020 ao cavaleiro tauromáquico João Moura, na sua propriedade em Monforte (Portalegre), por maus-tratos. Os animais de João Moura estavam num avançado estado de subnutrição e o processo culminou no início deste ano com a condenação do cavaleiro. Tal como a PiT noticiou, João Moura foi condenado no passado dia 24 de janeiro a uma pena de prisão de quatro anos e oito meses, com pena suspensa, na sequência da leitura da sentença no Tribunal de Portalegre, no Alentejo.

O cavaleiro estava a ser acusado de 18 crimes por maus-tratos a animais e terá de pagar ainda 3.000€ às três associações que cuidaram dos galgos recolhidos em 2020 da sua propriedade em Monforte (Portalegre). Recorde-se que um dos cães acabou mesmo por morrer – e os 17 sobreviventes foram todos adotados. Caso João Moura não pague a quantia decretada, a pena suspensa irá transformar-se numa pena efetiva.

Em Espanha também são constantemente denunciados os contornos deste tipo de corridas, que no final da “época” terminam com muitos galgos abandonados ou mortos por não terem correspondido às expectativas.

Percorra a galeria para saber mais sobre as corridas de galgos e a velocidade que alguns destes animais conseguem atingir.

Por Carla A. Ferreira

Fonte: Pets in Town / mantida a grafia lusitana original

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