Veterinário pede apoio para evitar mortes de animais silvestres em São João da Boa Vista, SP

Veterinário pede apoio para evitar mortes de animais silvestres em São João da Boa Vista, SP
Na avenida: quati morto às margens do campus Mantiqueira do UniFEOB (Fotos: Divulgação/Plínio Aiub)

O quati morto no meio fio da avenida dr. Octávio da Silva Bastos, próximo ao campus Mantiqueira do UniFEOB, e o gato do mato pequeno encontrado nas imediações da Vila Zanetti, em São João da Boa Vista, são exemplos de que os animais silvestres têm aparecido com mais frequência na zona urbana e, por isso, precisariam de sistemas de proteção contra atropelamentos ou outros tipos de ataques.

No entanto, para o médico veterinário e especialista em cirurgia de pequenas animais, Plínio Bruno Aiub, o apoio do Poder Público, no sentido de disponibilizar ferramentas aliadas à biologia para diminuir o número de acidentes com animais silvestres, sempre foi insuficiente. Segundo ele, ações de educação ambiental, conscientização, instalação de placas orientativas, construção de passagens subterrâneas e aéreas para a fauna poderiam ser favoráveis aos bichos.

À reportagem do O MUNICIPIO, Aiub explicou que o aparecimento de bichos tem gerado conflito de fauna urbana nos últimos anos em São João. “Sempre houve um conflito na região que chamamos de sinantrópica que seria nossa interface com áreas vegetadas e seus impactos implícitos. Então, um gambá, um ouriço, um sapo cururu, um morcego, uma ratazana, entre muitos outros, sempre passaram pelos nossos quintais, até mesmo no centro da cidade. Porém, agora, esses aparecimentos têm ganhado mais notoriedade”, afirmou o veterinário.

O professor pontuou um dos motivos para a aproximação dos bichos em áreas urbanas. “O aparecimento de animais como o lobo-guará ou o tamanduá-bandeira — bichos de vida livre que não eram comumente vistos perdidos pelas cidades — pode indicar uma pressão no bioma Cerrado do Centro Oeste (habitat mais comum dessas espécies), forçando-os a descer para o bioma de transição (Mata Atlântica / Cerrado) como o nosso. E com eles também outros bichos e outros tipos de conflito acabam aumentando, como por exemplo, ataques a criações e pets”, explicou.

A ‘boa-fé’ dos munícipes em querer o bem dos animais nem sempre surte os resultados positivos. “Creio que seja um reflexo de uma população mais preocupada com a fauna, muito em virtude do trabalho do terceiro setor e também do Legislativo, que lança um respeito a mais pelos animais, o que repercute na compaixão das pessoas ao ponto de chegar a querer ajudar os animais silvestres com oferta de alimentos, o que acaba atraindo-os para zona de conflito. Mas isso não é só São João da Boa Vista, isso é mundial”, afirmou o médico veterinário.

Espécies

Aiub citou que a maritaca, gambá, pomba, ouriço, teiú, seriema, cachorro-do-mato, quati, irara, mão-pelada, tucano-toco, gavião-carcará, capivara, macaco-prego, sagui, sapos, serpentes, morcegos e até mesmo os artrópodes como escorpião e insetos como pernilongos são os mais registrados em conflitos na região de São João. “Sem contar as zonas de predação por ataques de onças, jaguatiricas em cordeiros e gados, dos galinheiros por raposa ou cachorro-do-mato, o javali nas plantações e as lontras em pesqueiros. Com certeza, muitos outros em menor escala como tatu ou periquito-do encontro-amarelo”, destacou o especialista.

Gato do Mato: encontrado nas imediações da Vila Zanetti
Gato do Mato: encontrado nas imediações da Vila Zanetti

Para amenizar os acidentes de conflito com a fauna seriam necessárias ações básicas como educação ambiental, conscientização e conhecimento da vida selvagem. Desta forma, segundo o veterinário, a alimentação dos bichos poderia ser fácil e o tráfego deles em segurança, sem a necessidade de interação humana. “Além dessa consciência é importante que as conexões entre as áreas verdes da zona urbana sejam preservadas, especialmente aquelas compostas por mata ciliar que são naturais corredores de fauna. Exemplo de um corredor de fauna clássico em nossa cidade são as margens do Rio da Prata, que ao chegar à zona urbana consegue se ramificar pelas áreas de reservas dos condomínios e bairros locais, fazendo uma conexão através do campus Mantiqueira do UniFEOB com o parque linear que dá acesso ao Bosque Municipal ‘Gavino Quessa’, e que, por sua vez, através dos bairros bem florestados como Jequitibás, Clube Mantiqueira e o Jardim Santarém chegam ao acesso da mata ciliar do Córrego São João”, apontou Aiub.

Sugestões

Uma das ideias de Plínio seriam as passagens subterrâneas e aéreas para a fauna, que poderiam diminuir os atropelamentos. “Em frente ao campus Mantiqueira já foi pedido à prefeitura uma passagem de fauna subterrânea após a constatação de rica biodiversidade em trânsito levantada pelas turmas do curso de Biologia da UniFEOB. A partir do campus, atravessando para o Jardim Alvorada, sempre temos registros de atropelamentos, e este dispositivo seria muito bom, associado com placas de identificação e conscientização da população local”, reforçou o veterinário.

A revitalização do bosque, por exemplo, com acompanhamento técnico, além de proteção das áreas verdes urbanas contribuiriam para amenizar a situação, mas necessitariam de esforço. “Porém, entendemos que tais medidas não são prioridades, como a educação e saúde, por exemplo. Sabemos também que o orçamento é sempre justo e, por isso, nossa pauta fauna, no âmago do assunto (conservação e manejo) fica em segundo, e, às vezes, em terceiro plano. E, enquanto isso não se resolve, vamos perdendo a nossa biodiversidade”, lamentou Aiub.

Por Marcelo Gregório

Fonte: O Município

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