Voluntários salvam veado-campeiro em ‘campeã de atropelamentos’ no MS

Voluntários salvam veado-campeiro em ‘campeã de atropelamentos’ no MS
Veado-campeiro recebe atendimento na beira da pista: muitos outros não têm a mesma sorte — Foto: Divulgação/ICAS

Estar no lugar certo e na hora certa pode salvar uma vida. Agir com rapidez e amor faz o sucesso da empreitada ser ainda mais possível.

No último dia 27 de abril, um fazendeiro com propriedade às margens da Rodovia MS-040 – trecho entre os municípios de Campo Grande e Santa Rita do Pardo, em Mato Grosso do Sul – avisou a equipe veterinária do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) sobre um veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), ameaçado de extinção no Brasil, atropelado na via.

Apesar do acidente, o animal ainda estava vivo. Imediatamente, os responsáveis da organização acionaram a Polícia Ambiental de Campo Grande, mas as viaturas estavam atendendo outras ocorrências e o resgate do animal não seria rápido.

É inadmissível que um dos estados que mais recebe turismo para observação da fauna silvestre no País tenha rodovias tão impactantes. Perde-se a conta do número de carcaças que vão se acumulando. Antas, tamanduás-bandeira, tatus, veados, enfim… o triste retrato do modo pelo qual este estado desrespeita sua maior riqueza.”

— Débora Yogui, médica veterinária no Projeto Bandeiras e Rodovias.

Mas a ideia não era desistir. Outros profissionais foram acionados. Veterinários e biólogos que trabalham em projetos de conservação do tamanduá-bandeira (Projeto Bandeiras e Rodovias / ICAS) e anta-brasileira (INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira / IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas) foram chamados para uma iniciativa de resgate voluntário do animal.

Depois do primeiro atendimento, animal foi transportado para um centro de reabilitação em Campo Grande — Foto: Divulgação/ICAS
Depois do primeiro atendimento, animal foi transportado para um centro de reabilitação em Campo Grande — Foto: Divulgação/ICAS

“Há alguns meses, uma anta atropelada e ferida, também na Rodovia MS-040, ficou na beira da pista por mais de 24 horas sem resgate. Infelizmente não resistiu e veio a óbito. Não queríamos permitir que o mesmo acontecesse com mais uma espécie ameaçada”, lembra Ariel Canena, veterinário na INCAB-IPÊ.

Os pesquisadores contam que, ao chegar ao local da colisão, o veado foi avistado já deitado na faixa de domínio da rodovia, exposto ao sol. Com o ruído da caminhonete e a presença da equipe de resgate o animal tentou se levantar e foi impossibilitado pela evidente paralisia de seus membros posteriores.

No centro de reabilitação da Capital, o veado é mantido sob atenção contínua: espécie sob risco de extinção — Foto: Divulgação/ICAS
No centro de reabilitação da Capital, o veado é mantido sob atenção contínua: espécie sob risco de extinção — Foto: Divulgação/ICAS

Três veterinários avaliaram o caso e optaram por anestesiar o animal para examiná-lo e decidir seu destino. No mesmo dia, precisamente às 11h45, um dos horários mais quentes, o termômetro colocado no animal marcava 41,5 graus e a sua respiração estava muito acelerada devido ao calor e estresse. Durante o exame físico nenhuma fratura foi constatada, mas o animal apresentava diversas escoriações devido a colisão com o veículo.

Seguindo o protocolo, o animal foi acondicionado em caixa de transporte, ainda sedado, e encaminhado para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande para obter um diagnóstico mais acurado e receber o tratamento adequado.

“Dessa forma, o animal ainda teria alguma chance de vida”, conta Canena. Informações dadas pela coordenação do CRAS apontam que, apesar do animal estar em uma situação delicada, continua vivo e em processo de recuperação.

Lentidão

Os pesquisadores envolvidos no resgate alertam para o fato de que o socorro a casos como esse tem sido cada vez mais lento. Ainda segundo eles, a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (AGESUL) supostamente não estaria tomando as medidas necessárias e urgentes para a redução de atropelamentos de fauna nas rodovias do MS, em especial na MS-040, uma das campeãs em mortalidade de animais.

É evidente o despreparo dos órgãos de transporte em planejar estruturas e ações nas suas operações diárias que se relacionam com a fauna silvestre. A ausência de cercas e estruturas específicas para travessia segura dos animais causa acidentes, que muitas vezes também são graves para os usuários.”

— Fernanda Abra, especialista em ecologia de estradas e colaboradora da INCAB-IPÊ e ICAS

“A MS-040 corta áreas importantes para a fauna no estado do Mato Grosso do Sul e urge por soluções efetivas que evitem colisões como essa. Além de importante para a conservação da biodiversidade é importante para a segurança dos condutores que utilizam a rodovia”, ressalta Mario Alves, médico veterinário do Projeto Bandeiras e Rodovias.

Procurado via assessoria de comunicação e questionado sobre o assunto, o governo do estado do Mato Grosso do Sul não retornou com sua resposta oficial até o fechamento dessa reportagem.

Detalhe do focinho do animal: ferido e assustado, ele teria chance de ser mais um na estatística — Foto: Divulgação/ICAS
Detalhe do focinho do animal: ferido e assustado, ele teria chance de ser mais um na estatística — Foto: Divulgação/ICAS

Fonte: G1

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