Anemia não é para veganos

Até a pouco tempo, era certo ouvirmos as pessoas falarem, quando dizíamos que não comemos nada de origem animal: “Mas você vai ficar com anemia!” Há vinte e cinco anos atrás, quando parei de comer animais, me ameaçaram de morte. Morte intelectual. Eu ficaria anêmica, meu cérebro pararia de funcionar, eu não conseguiria mais fazer pesquisas, escrever, não aprenderia mais nenhuma língua estrangeira e minha vida teria acabado no dia em que eu parasse de ingerir cadáveres. Laticínios, então, nem pensar em abandonar! Isso me foi dito por uma médica homeopática, que ordenou que eu ingerisse então pelo menos dois litros de leite por dia, já que eu não ia mais comer carnes. 

Se eu houvesse seguido tal conselho médico teria torturado as vacas por mais vinte anos e minhas artérias estariam estenosadas pelas placas provocadas pela destruição da plasmalema causada pela xantina oxidase, liberada no leite no processo de homogeneização das gorduras, e pelo excesso de cálcio solto que o leite de vaca injeta em nossos tecidos, porque sem o magnésio na proporção adequada, ele não pode entrar nos ossos. E eu teria destruído toneladas de grãos e cereais, de água potável e de florestas nativas para que as vacas pudessem secretar esse leite todo, uns 700 litros por ano, só para que eu garantisse os nutrientes que a totalidade dos frutos, das frutas, dos grãos e cereais integrais juntos não conseguiriam me dar! Por sorte, com meu espírito crítico e minha capacidade intelectual intocada pelos nutrientes obtidos dos alimentos vegetais, não caí nessa prescrição homeopática!

A preocupação das pessoas por nossa “anemia”, inevitavelmente, como todas as pessoas veganas estão cansadas de ouvir, vinha, e ainda vem, tanto de médicos quanto de pessoas sem formação acadêmica alguma, acompanhada da outra: “Mas como você faz para obter as proteínas?” Agora, depois que já começaram a ouvir que a dieta vegana é perfeita, desde que não seja a dieta junk food e sim a completa, com os alimentos comprados nas feiras e preparados para cada refeição, e não comprados em caixas, vidros e latas, as pessoas ainda temem que não comendo carnes, leites e ovos venham a ficar anêmicas.

O ferro heme, presente nas carnes, tem a fama de ser bom para a absorção. Só a fama mesmo. Tratando de uma anemia grave, causada por um medicamento (Plavix) em uma senhora de 90 anos (a anemia se foi quando o medicamento foi suspenso), um hematologista me disse que a quantidade de ferro contida em um comprimido do composto ferroso (prescrito para tentar reverter o quadro que não reverteu por mais de um ano, até que o cardiologista suspendeu o tal do Plavix), equivalia ao ferro de uns 100 kg de carne. Ele reconheceu que a carne não seria capaz de reverter a anemia.

Todas as pessoas anêmicas que conheço (algumas delas são professoras universitárias com doutorado e tudo) ainda comem carnes, leites e ovos. E sofrem de anemia. Então, se o tal do ferro heme fosse garantido na prevenção da anemia, essas pessoas não a sofreriam.

O leite e seus derivados, por sua vez, barram a absorção do ferro nos intestinos. A causa da anemia ferropriva em bebês é o fato de darem a eles o leite de vaca. As mães acham que tirando da dieta deles o leite delas e passando a dar o das vacas não vai fazer diferença, ou que até mesmo o leite de vaca é “mais forte”. Faz diferença. E para pior. Nunca para melhor.

O ferro que ingerimos das fontes vegetais é melhor absorvido se não ingerirmos alimentos derivados do leite ou mesmo o leite puro. Então, melhor lembrar disto: o leite de vaca não contém ferro na quantidade que precisamos. E, além do mais, ele atrapalha a entrada do ferro, contido nos alimentos vegetais, na corrente sanguínea. Por isso, é mais frequente a anemia em lacto-vegetarianos, do que em veganos que se alimentam de comidas vivas.

Para a vaca conseguir suprir de ferro um bebê humano, ele teria que ingerir de 28 a 31 litros de leite por dia. Esse montante basta para alertar que a natureza não previu que leite de vaca fosse um alimento capaz de fornecer ferro para humanos em qualquer idade. Anemia e consumo de leite de vaca estão associados na anemia ferropriva em bebês e crianças.

Arrisco uma explicação para o fato de que veganas e veganos que comem alimentos nutritivos (não os que se alimentam de comidas mortas, que chamo de dieta insana ou junk food), comem muitos alimentos ricos em ácido ascórbico ou vitamina C, junto com os que contêm ferro, importantíssimo para que o ferro possa ser bem absorvido, pois o ferro dos vegetais é um ferro não heme, e adora casar-se com a vitamina C antes de entrar na corrente sanguínea.

Então, lembrem-se: alimentos ricos em ferro adoram a vitamina C! Há alimentos que já contêm os dois, a uva e o figo maduro in natura, não aquele em lata, vidro ou cozido com açúcar, pois daí a vitamina C que era boa, já se foi!

Se comer outros alimentos que contenham ferro no almoço, coma pimentão, folhas verde escuro e use o limão espremido sobre eles. Pronto! Se não tem limão no restaurante ou em casa, lave e leve uma maçã e coma no almoço. A maçã (não a cozida e sim a crua) é uma espécie de coringa, combina com verduras, legumes, tubérculos e outras frutas. Ela é similar à cenoura, que, colhida da horta, combina com qualquer fruta. Pode ser comida, então, junto com outros alimentos que contenham ferro não heme (o ferro dos vegetais).

A dieta abolicionista vegana tem esses pequenos segredos ou feixes de luz, trazidos diretamente dos alimentos para nosso sangue e cérebro. O resto dos tecidos do nosso corpo e nosso espírito agradecem o que fazemos a eles, comendo coisas de acordo com seu prisma, suas nuances, sua eudaimonia (felicidade).

Dieta abolicionista vegana e viva é a dieta da felicidade. O resto é mercado de fármacos.

Adendo: Geralmente as pessoas pensam na laranja para comer com o feijão, porque estão acostumadas com a tradicional feijoada brasileira, que inclui, não é de graça, a laranja! Bem, a laranja, como o são as frutas ácidas de modo geral, melhor não comer misturada com outros alimentos. Por isso escrevi sobre o pimentão e a maçã, ambos ricos em ácido ascórbico e esquecidos por muitas pessoas. Quem come fora, pode acontecer de não ter no restaurante o limão fresco. Tem que ser o cortado pela pessoa, porque aqueles servidos já cortados em quatro perdem o ácido ascórbico com o contato com a faca e o oxigênio. Então, ou leva um limão na bolsa e corta no ato, ou uma maçã.

Fonte: Veggi e Tal


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