Cães eletrocutados: ONG pede cuidados veterinários depois que a polícia atordoou 144 animais na Nova Zelândia

Cães eletrocutados: ONG pede cuidados veterinários depois que a polícia atordoou 144 animais na Nova Zelândia
Fonte: Vania Chandrawidjaja - 1News

A Polícia tem usado tasers nos cães bem mais do que uma centena de vezes na última década e depois deixa os animais sem cuidados veterinários a despeito dos pedidos de grupos de bem-estar animal para uma mudança na política.

Imagens obtidas pela 1News mostram oficiais disparando dardos nos cães, enviando choques elétricos através de seus corpos e deixando os convulsionando de dor.

Ao todo, os oficiais dispararam os tasers em 144 cães entre 2013 e 2023.

A Polícia disse que os tasers somente são usados como um “último recurso” quando um animal representa um risco para os oficiais, o público ou outros animais.

Mas a abordagem está causando alarme no grupo de bem-estar animal mais proeminente da Nova Zelândia, o SPCA.

Seu diretor científico Arnia Dale disse que a polícia está falhando em fornecer cuidados médicos para os cães posteriormente.

Dale faz lobby por mudanças há seis anos, dizendo que os tasers podem ter impactos físicos e mentais significativos a curto e longo prazo nos animais de estimação.

Embora o uso dos tasers fosse compreensível em situações urgentes, todas as outras opções foram exauridas, os cuidados médicos foram “extremamente importantes”, ela disse. Em alguns casos, os cães podem ter sido deixados com os dardos em seus corpos.

“Os tasers estão destinados a humanos adultos e claramente aptos a subjulgar humanos adultos, então os cães são geralmente muito menos pesados e, portanto, requerem atenção veterinária urgente, acrescentou Dale.

Entretanto, não há registro de qualquer tratamento médico dado aos animais atingidos pela polícia na última década.

Arnja Dale, cientista chefe do SPCA, diz que ela tem feito lobby sobre esse problema há seis anos (Fonte: 1News)
Arnja Dale, cientista chefe do SPCA, diz que ela tem feito lobby sobre esse problema há seis anos (Fonte: 1News)

Dados fornecidos ao 1News ao abrigo da Lei de Informação Oficial mostra que a polícia usou um taser em um animal em média de 13 vezes ao ano durante um período de 11 anos de 2013-2023. Incidentes continuaram em um ritmo semelhante nos anos mais recentes.

Os detalhes ao redor são registrados na maioria dos casos, com uma descrição de como um animal impediu a polícia de intervir em um assalto. Outros descreveram como os cães estavam atacando outros cães ou rosnavam para a polícia.

Não existe referência em qualquer lista de tratamento veterinário dado aos cães depois.

O 1News procurou a polícia para comentários, mas eles se recusaram a serem entrevistados para essa história e enviaram um comunicado por e-mail ao invés disso.

O comunicado reiterou que os tasers somente são usados em animais em situações como último recurso.

“As opções táticas, incluindo taser, apoiam a atuação policial na linha de frente a prevenir danos, permitindo-os intervir efetivamente”, disse Dave Grieg, Superintendente, no comunicado.

A Associação da Polícia – um grupo independente que representa os oficiais – também se recusou a ser entrevistado, mas enviou um e-mail apontando que os cães tinham matado duas pessoas recentemente na Nova Zelândia.

Necessidade infeliz de usar taser

No centro do debate está a política oficial do taser da polícia, que orienta os policiais sobre o que podem ou não fazer com o dispositivo de choque elétrico.

Poucos críticos invejam o raciocínio da polícia para usar o taser quando um animal está atacando e a maioria vê isso como uma necessidade infeliz em algumas ocasiões.

Entretanto, o SPCA e SAFE – outro grupo de direitos dos animais – argumentam que existem outros modos de acalmar as situações que envolvem cães, e dizem que os agentes da linha de frente podem não ter o treinamento adequado para isto.

Embora eles aceitem que o uso dos tasers pode ser justificado em alguns cenários, ambos os grupos sentiram que a atual política do taser era inadequada quando se tratava de animais.

A polícia já fez mudanças nisso uma vez, em 2017, após um incidente um ano antes, onde um policial disparou o taser em uma cabra 13 vezes.

O animal estava solto e tinha fugido do controle animal, quase causando um acidente da estrada e deixando um policial lutando para capturá-lo. Ele finalmente encurralou o animal e disparou o choque nele repetidamente.

A cabra teve que ser eutanasiada e várias investigações foram realizadas, com o superintendente local aceitando que “poderia ter sido tratado de modo diferente”.

No final, a política foi alterada para dizer que um taser só poderia ser usado em um animal se ele estivesse “atacando”.

Mas isso nunca foi atualizado para incluir cuidados posteriores para os animais.

 Chefe de Investigações de SAFE Will Appelbe questiona o treinamento dado aos policiais (Fonte: 1News)
Chefe de Investigações de SAFE Will Appelbe questiona o treinamento dado aos policiais (Fonte: 1News)

Nenhuma orientação específica sobre taser nos animais

Em seu comunicado, a polícia confirmou que eles não têm orientação específica sobre o assunto, mas disseram que eles estavam abertos a discussão.

“Nós estamos sempre dispostos a considerar nossa abordagem e a receber conselhos de profissionais qualificados sobre as nossas políticas em geral”, disse um porta-voz.

Entretanto, o SPCA disse que já tinha oferecido esse tipo de conselho há seis anos.

Dale disse que ela primeiro procurou o Ministério da Justiça, que supervisiona a polícia, em 2018.

Ela continuou a pedir por mudanças nos anos seguintes, argumentando que os cães deveriam receber o mesmo nível de tratamento dado aos humanos que têm sido atingidos por taser, incluindo urgente acesso aos cuidados médicos.

“Nós temos oferecido ao Ministério da Justiça apoio especializado em inúmeros modos diferentes, incluindo participação no painel de revisão do taser quando são casos de animais”, ela acrescentou.

Essas ofertas permanecem até hoje – e ainda não foram recebidas pela polícia.

O grupo de direitos dos animais SAFE também acredita que as provisões atuais não são boas o suficiente.

O Chefe de Investigações de SAFE, Will Appelbe, disse que existe apenas uma sentença na página 29 do documento político detalhando os processos para animais.

“Há detalhes naquele documento de política sobre onde no corpo humano um taser deveria ser usado. Não há nenhum dos detalhes em relação a como um taser deveria ser usado em um animal. Isso aumenta o número de bandeiras vermelhas”, ele disse.

“Não está claro para mim se a polícia tem recebido esse tipo de treinamento do mesmo modo que eles têm recebido quando estão lidando com seres humanos que são violentos”.

Novamente a 1News solicitou uma entrevista com a polícia para discutir mais a fundo essas questões, mas foi recusado.

Em um segundo comunicado, a polícia enfatizou que os policiais têm muito com o que lidar no trabalho.

“Incidentes envolvendo ataques de animais são em geral incrivelmente rápidos e requerem decisões em frações de segundos, significando que métodos mais alternativos para controlar os animais são impraticáveis”, afirmou.

Por Thomas Mead / Tradução de Fátima C. G. Maciel

Fonte: 1News

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