Clima seco traz animais silvestres para áreas urbanas

Clima seco traz animais silvestres para áreas urbanas
Foto: Divulgação

O tempo seco é, geralmente, recebido pelos brasilienses com certo desgosto. Isso porque, a baixa umidade tende a contribuir para o ressecamento de nariz, pele e lábios, além de intensivar algumas alergias. No meio ambiente, por sua vez, as dificuldades advindas desse clima também são recebidas com contrariedade. Na seca, recursos como água e alimento são mais escassos, e forçam os animais a se deslocarem para encontrá-los”, esclarece Eduardo Bessa, doutor em biologia e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Entre janeiro e julho deste ano, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) já registrou o resgate de mais de 1.500 animais encontrados nas áreas urbanas da capital. Cobras, macacos, capivaras, aves variadas e saruês são os mais comuns. “São espécies com metabolismo mais alto”, ressalta Eduardo. Conforme compartilha o comandante do BPMA, coronel Fábio Pereira, nesta época de seca, é muito comum ver saruês andando pelas casas em busca de alimento, assim como macacos-prego comendo frutas em árvores perto do batalhão, localizado na Candangolândia. “Os bichos usualmente vêm até a área urbana atrás de abrigo, alimento ou para a proliferação da espécie”, observa Fábio.

Ao serem acionados, o comandante explica que uma equipe é enviada ao local com os equipamentos adequados para o resgate, como gaiolas, pinças de aço e redes. O objetivo, com isso, é a preservação da espécie e a sua devolução à natureza. Solicitar o trabalho da Polícia Ambiental, do IBAMA, do IBRAM ou do corpo de bombeiros é, como destaca a professora Líria Queiroz, médica veterinária na área de animais silvestres, de suma importância para garantir a integridade do bicho. “É desaconselhado que pessoas sem autorização e conhecimento técnico tentem capturar os animais, pois podem machucá-los ou se submeterem a situações de perigo”, salienta a doutora.

A ação do BPMA nesses casos consiste em, antes de tudo, olhar o animal e avaliar o seu estado físico. “Normalmente, está muito arisco diante da situação”, observa Fábio Pereira. “Se não tem qualquer lesão, ele logo é reintroduzido ao habitat natural. Se está lesionado, encaminhamos ao zoológico para recuperação. É um grande parceiro nosso”, complementa o comandante. A devolução dos animais ‘salvos’ ao seu habitat é essencial pois, como pontua Líria, na natureza, as espécies possuem sua função ecológica. A redução, ou mesmo extinção, de espécies em determinadas regiões pode causar impactos como, por exemplo, a redução de disponibilidade alimentar para seus predadores. “Algumas espécies também atuam como dispersoras de semente e a redução dessas pode trazer prejuízos ao meio ambiente”, acrescentou a professora universitária.

Como agir

Ao receber a tal visita inesperada, é necessário estar atento a algumas medidas com relação ao contato. A principal delas é, como frisa Eduardo Bessa, deixar o animal em paz. “Não perseguir, capturar e muito menos matar ou maltratar. Esses são crimes previstos na lei de proteção à fauna. Além disso, alguns desses animais podem causar ferimentos com mordidas e picadas ou mesmo transmitir zoonoses”, declara o professor de Zoologia. Protegê-los de cães e gatos domésticos é outra medida aconselhável. O especialista sublinha que restringir o acesso dos pets à fauna silvestre, ou mesmo colocar um guizo na coleira do gato já são boas formas de evitar a morte de animais silvestres. Isso porque, em um estudo publicado por ele, em 2018, conjuntamente com o francês e com o americano Daniel T. Blumstein e Benjamin Geffroy, foi possível notar que cães e gatos podem ser uma ameaça grave em áreas naturais. “Nos EUA, por exemplo, eles matam bilhões de mamíferos e aves nativas anualmente”, revela Bessa.

Relação com o homem

Na avaliação do Instituto Brasília Ambiental, esse movimento dos animais silvestres para locais habitados é crescente e explicado, além dos fatores ambientais, principalmente, pela ocupação desordenada do solo. “A expansão urbana aqui no DF gerou a ocupação de áreas que originalmente eram dos bichos. Isso gera impacto na vegetação nativa e prejudica muito os animais”, pontua o diretor de Fiscalização de Fauna da entidade, Victor Santos.

As queimadas e formação de pastos, como traz a médica veterinária Líria, são outros elementos influentes no processo. Para a professora, de modo a diminuir os efeitos dessas atividades antrópicas, alguns estudos e levantamentos podem ser feitos, pelos órgãos responsáveis, em Unidades de Conservação. A partir disso, seria possível avaliar os impactos das épocas de seca nas espécies, que ocorrem naturalmente no local, e estudar possibilidades de manejo. “Como a disponibilização de fonte hídrica e recursos alimentares que permaneçam viáveis na época de seca, para reduzir a migração e a redução de recursos para espécies de topo de cadeia alimentar”, defende Líria Queiroz.

Por Mayra Dias

Fonte: Jornal de Brasília

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