Frajola é sinônimo de amor após adoção, mas abandono é cruel e castração é apontada como solução

Frajola é sinônimo de amor após adoção, mas abandono é cruel e castração é apontada como solução
Frajola foi acolhido em banca, ganhou "casinha" e conquistou o amor de todos

Soltos nas ruas, a maioria em situação de abandono, maus-tratos e em alguns casos, perdem a vida devido à ação humana, cães e gatos sofrem com a falta de responsabilidade social.

Boa parte desses animais é abandonada pelos seus tutores. A luta contra esse tipo de atitude vem crescendo entre as organizações não governamentais (ONGs) e as instituições brasileiras que fazem resgate e acolhimento de animais perdidos e desabrigados.

Porém, felizmente, muitos têm a sorte de encontrar pessoas que, preocupadas também com essa causa, fazem a adoção, mesmo de forma temporária até que possam encontrar um lar definitivo.

Frajola, gato de rua, é um desses sortudos. Hoje, ele é considerado o “mascote” de uma das bancas de jornais e revistas mais tradicionais da cidade, localizada na rua Frei Mariano, esquina com a Treze de Junho. A proprietária, Marileide Nunes da Costa Britto, em tom de brincadeira, diz que vai além, considera o felino como “gerente”, pois todos os dias, ao lado dela, o bichano abre a banca, chega e “fiscaliza” o local. Logo depois de suas funções, descansa não raramente sobre as revistas.

“O Frajola chegou de mansinho, percebemos que ele estava à procura de um ambiente para morar. Antes, ele era um pouco arisco, mas pouco a pouco fomos ganhando a confiança dele. Ele foi ganhando território e logo, se apossando da banca. Hoje, é meu companheiro, meu outro filho, o proprietário da banca”, disse Marileide aos risos ao Diário Corumbaense.

Frajola pertencia a um morador de rua que, ao passar por um problema, teve que se ausentar e, então, o gato ficou sozinho. Mas logo se acomodou e, há um ano, recebe amor e carinho de Marileide e de todos que ali passam. “Logo que o tutor dele, teve problema de saúde e se ausentou, Frajola encontrou aqui outro lar. Com ajuda de voluntários, que doaram ração e até ajudaram nos gastos com médico veterinário, ele foi ganhando espaço e carinho de todos. Agora o temos como nosso, pois até mesmo o antigo dono dele, já apareceu, brinca com ele, mas Frajola fica aqui com a gente”, mencionou Marileide que faz questão de agradecer aos voluntários, em especial à Marilene Escobar.

Marileide brinca: Frajola tornou o "gerente" da banca e seu segundo filho
Marileide brinca: Frajola tornou o “gerente” da banca e seu segundo filho

“Aqui, ele teve a sorte de encontrar um lar e pessoas que os adotaram também. Por isso, é importante que cada um faça a sua parte, para que possamos não apenas controlar a situação de abandono, mas também combater o sofrimento desses animais, afinal estamos lidando com vidas”, completou Marileide se referindo à responsabilidade social e também ao processo de castração, que é uma saída para o controle de natalidade e que contribui diretamente na redução de abandono animal.

Preocupada também, Luciane de Moraes Ferreira pensa da mesma forma. Ela tem sob sua responsabilidade, quatro gatos e cinco filhotes para a adoção, que foram frutos da cria de um dos animais. Todos foram resgatados por ela, pois estavam abandonados em uma das casas da vila onde morava.

“Tenho quatro gatas, a ‘Neguinha’ apareceu na frente da nossa casa, estava toda machucada, o olho dela não abria, já tinha um mês, começamos tratamento com veterinário. Aplicamos colírio, e começamos a cuidar. Lá na vila onde morava é lotado de gatos, pois as fêmeas parem e deixam os filhotes. Ela foi achada em um bueiro e colocada por vizinhos na frente de minha casa. Aí, ela foi a primeira gata que eu fiquei, não a coloquei para adoção, porque estava em tratamento. Algum tempo depois, foi a ‘Serelepe’ que apareceu na casa abandonada ao lado e a resgatamos também. Ficou com a gente, começou a brincar com a ‘Neguinha’ e evoluir juntas. Cheguei a coloca-la para adoção, mas não saiu”, contou Luciene.

Letícia busca sempre acolher os gatos, mas com cria, há cinco para adoção
Letícia busca sempre acolher os gatos, mas com cria, há cinco para adoção

Um dia depois, foi a vez da ‘Gordinha’ aparecer. A gata foi adotada pelo vizinho, mas, não resistiu aos cuidados e amor dados por Letícia e ela mesmo acabou tornando-se a sua tutora.

“Na verdade, ela nos adotou, mas ela ficou prenha. Após ‘Gordinha’, veio a ‘Pingo’, a última gata que tive e também coloquei para adoção. Mesmo com uma moça dando a castração para quem a adotasse, foi difícil e acabei ficando com ela também, mais os cincos filhotes da ‘Gordinha’ que estão para a adoção”, mencionou Luciene.

“Eu dou o lar enquanto não consigo fazer a doação. Quando eu morava em outra casa, os vizinhos ajudavam a dar ração. Mas é essencial a castração devido ao abandono que está aumentando cada vez mais. Enquanto não tiver castração gratuita, vai aumentar o índice de abandono”, avaliou.

Castração

Em meio a tanta história de animais abandonados, realmente uma das soluções é a castração. Algumas ONGs, associações ou grupos, como o GAPA (Grupo de Apoio de Proteção aos Animais de Corumbá e Ladário) realizam o procedimento gratuito com apoio da Prefeitura de Corumbá e do Ministério Público de Mato Grosso do Sul. Existe também a ACLAA (Associação Corumbaense e Ladarense de Apoio aos Animais), porém nesse caso há custo, entretanto, abaixo do que é cobrado comercialmente em clínicas, devido à cota de parcerias.

Walkiria Arruda da Silva, coordenadora da Visamb (Vigilância Ambiental), setor pertencente ao CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), informou que os procedimentos cirúrgicos de castração acontecem de terça a sexta-feira, mas somente para os gatos.

“A castração dos gatos, macho e fêmea, é feita no CCZ, numa parceria firmada entre o GAPA, Prefeitura e MPE. Em média, a cirurgia é feita entre oito e nove animais por dia. As pessoas podem procurar o GAPA, responsável pelos critérios, para agendar e, de lá, os animais saem agendados para o procedimento”, explicou Walkíria.

No entanto, mesmo com o serviço gratuito, Walkiria salienta algo que é preocupante. “A nossa maior dificuldade são as pessoas que não comparecem no dia do procedimento. A castração é feita apenas em gatos, pois vemos muitos nas vias públicas. Muitos deles são alimentados e fixam-se naquele local, procriando. Entendo que temos que alimentar, só que o animal na via pública fica sujeito a muitas coisas, entre elas, o risco de ser atropelado”, alertou.

Cinco gatinhos que estão sob responsabilidade de Letícia, estão à espera de um lar
Cinco gatinhos que estão sob responsabilidade de Letícia, estão à espera de um lar

Walkíria defende o lema: “Não alimente, adote”. “Essa é uma questão de segurança do próprio animal, de bem-estar. O animal na rua está sujeito a tantas coisas, inclusive enfermidades, que podem ser transmissíveis ao ser humano, como o caso da esporotricose (micose subcutânea). Sabemos que muitos fazem de bom coração, mas com olhar mais amplo, isso acaba colocando em risco esses animais também”, chama a atenção Walkíria.

A castração representa uma melhoria na qualidade de vida da população e dos animais, defende também a secretária da ACLAA, Valéria de Almeida Curvo.

“É a única forma de controle de natalidade desses gatos soltos nas ruas que podem causar acidentes e transmitir doenças. É um problema de saúde pública”, afirmou a dirigente da ACLAA, ao se referir ao abandono de animais na área urbana.

“Temos parcerias com clínicas veterinárias da cidade. Fornecemos o número do médico veterinário que repassa o preço de modo a ser acessível ao bolso de cada um” explicou. “Basta entrar em contato com a ACLAA para ver o procedimento”, orientou.

“Tentamos contato com a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Saúde para fechar parcerias, para conseguir ajuda, mas até agora não foi possível. As prefeituras, tanto de Corumbá como de Ladário, devem sim, oferecer esse serviço para cães e gatos, ainda mais para a população que se encontra em vulnerabilidade e que tenha interesse em castrar os seus animais. Só assim conseguiremos o controle da natalidade e amenizar o sofrimento do abandono”, finalizou Valéria.

Mitos

Todos os pets podem ser submetidos à castração, basta apenas que estejam saudáveis, devidamente vermifugados e com as primeiras doses de vacina em dia.

Existem alguns mitos em torno do processo de castração que precisam ser desmistificados. O primeiro deles: os animais não sofrem quando são castrados. Na cirurgia, recebem anestesia geral e o procedimento é rápido e simples, mas deve ser feito exclusivamente por um médico veterinário.

Outro mito é que a castração faz o animal engordar. Às vezes o pet torna-se menos ativo e se a alimentação não for ajustada o bichinho poderá ficar obeso, entretanto, o ganho de peso não é diretamente ligado ao procedimento cirúrgico. E, por fim, macho castrado não perde a masculinidade, apenas deixa de ter o instinto de reprodução e reduz a demarcação de território.

Por Leonardo Cabral

Fonte: Diário Corumbaense

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