Governo proíbe menores de 16 anos de assistirem a touradas em Portugal

Governo proíbe menores de 16 anos de assistirem a touradas em Portugal
Gustavo Bom / Global Imagens

O Conselho de Ministros aprovou esta quinta-feira o decreto-lei que “altera a classificação etária para assistir a espetáculos tauromáquicos, fixando-a nos maiores de 16 anos”. Desta forma, a idade mínima para assistir a uma tourada em Portugal vai passar de 12 para 16 anos.

“Esta medida surge na sequência do relatório do Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas de 27 de setembro de 2019, que defende o aumento da idade mínima para assistir a espetáculos tauromáquicos em Portugal”, explicou o Governo no comunicado com as decisões tomadas esta quinta-feira pelo Conselho de Ministros.

Os 16 anos são também a idade mínima para “o acesso e exercício das atividades de artista tauromáquico e de auxiliar de espetáculo tauromáquico”, acrescentou o Governo no comunicado.

O comité das Nações Unidas para os Direitos das Crianças tinha recomendado a Portugal a alteração da idade mínima para assistir a touradas para os 18 anos.

O aumento da idade mínima para se assistir a touradas tem sido também uma exigência de partidos como o PAN e o BE, que apresentaram no passado propostas nesse sentido na Assembleia da República e diretamente ao Governo, no caso do Pessoas-Animais-Natureza, no âmbito de negociações do Orçamento do Estado.

Por outro lado, a medida hoje aprovada pelo Conselho de Ministros constava do programa do Governo, aprovado em 2019.

A legislação até agora em vigor, um decreto de fevereiro de 2014, determina que “estão sujeitos a classificação etária os espetáculos de natureza artística e os divertimentos públicos”, sendo os tauromáquicos para maiores de 12 anos.

O aumento da idade mínima para ir a touradas tem tido a oposição pública de associações de defesa da tauromaquia e de municípios onde se realizam espetáculos tauromáquicos.

Na legislatura anterior, o tema das touradas foi um dos assuntos que motivou aberta divergência entre o Governo do primeiro-ministro António Costa e o grupo parlamentar do PS, então liderado por Carlos César.

No âmbito do Orçamento do Estado para 2019, ao contrário de outros espetáculos, o Governo recusou-se a baixar o IVA dos espetáculos tauromáquicos de 13 para 6% e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, defendeu mesmo em plenário da Assembleia da República que as touradas são “uma questão de civilização”.

No entanto, contra a vontade do Governo, do Bloco de Esquerda, do PEV e do PAN, PSD, CDS e PCP votaram a favor e aprovaram a descida do IVA dos espetáculos de 13 para 6%, independentemente de se realizarem ou não em recintos fixos e fechados, o que incluiu as touradas.

Também contra a vontade do Governo, o grupo parlamentar do PS avançou com uma proposta de alteração ao Orçamento igualmente para reduzir o IVA das touradas para 6%, mas acabou por ser reprovada, apesar de ter contado com o apoio de 43 dos seus 83 deputados.

PAN reclama “importantíssima vitória”

O PAN considerou ser uma “importantíssima vitória” do partido o aumento, de 12 para 16 anos, da idade mínima para assistir a uma tourada em Portugal, indicando que resultou da negociação do Orçamento do Estado.

“Congratulamo-nos com esta importantíssima vitória do PAN que, após diversas reivindicações, vê assim reconhecida a sua preocupação, assistindo ao Governo a dar este passo civilizacional no sentido de proteger as nossas crianças e jovens, evitando expô-las à violência da tauromaquia, tal como já tinha alertado o Comité dos Direitos das Crianças da ONU”, afirmou a porta-voz, Inês de Sousa Real.

Em comunicado, a líder do Pessoas-Animais-Natureza, congratulou-se “pelo facto de o Governo ter cumprido finalmente com o acordo que ficou estabelecido com o PAN”, apontando que esta medida decidida hoje em Conselho de Ministros, “decorre das negociações do Grupo Parlamentar do PAN – Pessoas-Animais-Natureza com o Governo no âmbito do Orçamento do Estado” de 2021.

Inês de Sousa Real notou que “a presença em espetáculos tauromáquicos passa, assim, a ser apenas para maiores de 16 anos, à semelhança do que acontece para o acesso e exercício das atividades de artista tauromáquico e de auxiliar de espetáculo tauromáquico”, salientando que “finalmente o Estado português protege as crianças e jovens da violência da tauromaquia”.

“Este é um passo revestido de uma enorme importância, tendo em conta a quantidade de denúncias que recebemos que indicam a presença de menores em praças de touros, menores que não só assistem à violência contra os animais como também sofrem inúmeros ferimentos que ocorrem durante esta atividade”, advogou também.

Inês de Sousa Real frisou ainda, no comunicado, que o PAN “continuará a defender” a abolição das touradas.

Em entrevista ao Jornal de Negócios, publicada na semana passada, a porta-voz do PAN tinha dito que “jamais” o partido iria “aprovar ou viabilizar um Orçamento do Estado na generalidade se não estiver cumprida esta medida”, indicando que “o Governo comprometeu-se com o fim da entrada dos menores de 16 anos nos espetáculos tauromáquicos”.

Na terça-feira, Sousa Real adiantou que o sentido de voto do partido na generalidade para o Orçamento do Estado para 2022 está “em aberto”, advertindo para uma “maior execução” das medidas inscritas na proposta deste ano.

Fonte: Diário de Notícias


Nota do Olhar Animal: É claro que isso não resolve nada para os touros, que continuarão sendo maltratados, abusados e mortos nestes “espetáculos” vergonhosos. Mas violência é algo que é ensinado e talvez o reconhecimento das touradas como uma atividade que não deve ser presenciada por crianças e adolescentes colabore para interromper o ciclo. De qualquer forma, a luta pelo fim destes espetáculos covardes deve permanecer intensa.

Atenção! Diferente do indicado na matéria, uma ativista pelos animais em Portugal nos informou que a medida não proíbe que crianças de 16 assistam touradas e que se trata apenas de um recomendação, lamentavelmente. Vários veículos de comunicação portugueses anunciaram a suposta proibição equivocadamente.

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