Grande Belém tem 900 animais de tração, diz UFRA; resgate de potras reacende debate sobre a prática

Grande Belém tem 900 animais de tração, diz UFRA; resgate de potras reacende debate sobre a prática
Veterinário residente da Ufra, Caio Rezende. (Igor Mota / O Liberal)

O resgate de duas potras (fêmeas jovens de cavalos) abandonadas na avenida José Bonifácio, no bairro do Guamá, na segunda-feira (26), com uma delas tendo ingerido uma sacola plástica, reacendeu o debate sobre animais de tração no Pará. Pela Lei Estadual nº 9.646, de 29 de junho de 2022, alterando a Lei Estadual nº 9.593, de 13 de maio de 2022, no artigo 12, a tração animal de veículos somente é permitida em zona rural. No entanto, a prática é encontrada corriqueiramente na Grande Belém. Segundo o médico veterinário Djacy Ribeiro, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e coordenador do Projeto Carroceiro, que acolheu as potras encontradas na segunda-feira, ainda existem cerca de 900 animais de tração na Região Metropolitana.

Dessa maneira, com a vigência desse código, as cidades paraenses se adaptam a esse novo processo, de vez que impacta na fonte de sustento de pessoas que vivem do transporte em tração animal, ou seja, os carroceiros. A recém-criada Secretaria Municipal de Proteção e Defesa dos Animais, da Prefeitura de Belém, já busca mecanismos de atuação nesse sentido, como a assinatura em breve de um convênio com a UFRA, envolvendo o Projeto Carroceiro. “Esse número reduziu bastante nos últimos anos. O Lixão do Aurá, na divisa entre Belém e Ananindeua, tema a maior aglomeração. No ano passado, fizemos uma ação itinerante lá e em cinco horas atendemos 50 animais”, observa o professor Djacy.

O professor Djacy Ribeiro informa que cerca de 300 animais equinos foram atendidos na sede do Carroceiros na UFRA e também de forma itinerante em Belém, Ananindeua e Algodoal (no nordeste do Pará), entre 2022 e 2023, em uma variação de 150 a 180 animais a cada ano. Em dois meses de 2024 (janeiro e fevereiro), o projeto já atendeu 25 equinos. “Muitas vezes, o tutor solta o animal na rua para ele ir atrás de alimento”, contextualiza o professor Djacy.

Urgência

Ele informa que na segunda-feira (26) o projeto atendeu a três animais – as duas potras e mais um cavalo de um carroceiro do bairro da Terra Firme. Esse também havia ingerido uma sacola plástica, o que provoca cólica obstrutiva. “Nesse período de 2022 e 2023, são 11 casos de sacolas plásticas, sendo 6 em 2022 e 5 em 2023, e mais 3 casos em 2024, esses dois de segunda-feira e mais um do bairro do Marco, anteriormente”, ressalta o professor. Deste total de 14 animais, 2 animais vieram a óbito pela necessidade de cirurgia, serviço específico não disponível na sede do projeto.

Ainda nesta terça-feira (27), um cavalo foi encontrado abandonado, desde sábado (24) na passagem Horta, na esquina com a avenida Independência, no bairro Icuí-Guajará, no município de Ananindeua. O animal encontra-se com uma ferida na cabeça. Moradores se condoeram com a situação do equino e buscaram ajuda para o resgate e tratamento dele.

O professor relata que a potra de menor tamanho resgatada na segunda-feira (26) tem seis meses de idade. A outra tem oito meses. A menor apresentava cólica obstrutiva e um ferimento profundo em uma pata dianteira. “Foi feito um plantão de 24 horas de atendimento, e, ao final, a potra expeliu a sacola plástica”.

“Sacola plástica é lixo de rua, mas como esses animais herbívoros não têm o que comer nesse espaço, sem capim, eles acabam comendo lixo, como a sacola plástica, que obstrui o intestino, e muitos deles morrem. No caso das potras, estão sendo tratadas e, depois, vamos procurar por um tutor para elas”, afirma o professor Djacy.

Para seu bem-estar, um cavalo desses precisa estar vacinado, vermifugado, bem alimentado e com vitaminas. Para trafegar em ruas, têm de estar ferrageados, com a carroça adaptada ao tamanho e peso do animal, o peso da carga com essas mesmas medidas, isso tudo estabelecido em legislação. Mas, em muitos casos, isso não é obedecido pelos tutores dos animais.

“Então, só por esses animais estarem soltos nas ruas já são maus-tratos, porque você não está permitindo que esse animal tenha atendimento nas suas necessidades básicas, principalmente a alimentação e água, de forma adequada”, enfatiza o professor. Além do Código de Proteção aos Animais do Pará, existem duas leis de proibição de tração animal em região urbana, uma de Belém e outra de Ananindeua.

Um equino abandonado, sem medicação em dia, pode transmitir doenças aos seres humanos, como a raiva, o mormo, encefalites e alguns problemas de pele. Entretanto, o cavalo não é o animal mais importante na transmissão de zoonoses aos seres humanos. Mas, podem poluir o meio ambiente de várias formas, dado que estão largados em espaços públicos. Ainda na tarde desta terça-feira (27), o médico veterinário Caio Rezende, do Projeto Carroceiro, tomava conta das duas potras resgatadas, no campus da UFRA, no bairro da Terra Firme.

Por Eduardo Rocha

Fonte: O Liberal

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