Pombas, veados e abutres são mortos em aeroportos da Carolina do Sul (EUA) devido à disposição geográfica

Pombas, veados e abutres são mortos em aeroportos da Carolina do Sul (EUA) devido à disposição geográfica
Um bando de pássaros voa enquanto uma aeronave se aproxima do Aeroporto Internacional de Greenville-Spartanburg International Airport. Sexta-feira, 15.11.2019 (Foto: Josh Morgan/Equipe)

Mais animais foram mortos em decolagens e aterrissagens no Aeroporto Internacional de Greenville-Spartanburg (GSP) no ano passado do que em qualquer outro ano nas últimas duas décadas, de acordo com uma análise de dados da Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA.

O maior aeroporto do norte do estado registrou 191 casos de colisões com animais selvagens desde 1999, que variam de rolas-carpideiras a cucos-de-bico-amarelo e morcegos. Trinta desses acidentes ocorreram em 2018, número três vezes maior do que a média de nove casos relatados por ano durante o período de vinte anos.

A segunda contagem mais alta no GSP foi em 2015, com 18 relatos.

As autoridades do GSP afirmam que os dados refletem relatórios mais apurados.

Segundo Tom Tyra, diretor de comunicações do GSP, administradores de aeroportos contratados recentemente deram às instalações a oportunidade de reavaliar seu plano de gerenciamento de risco da fauna e colocar mais ênfase na observação e documentação ativas de colisões com a vida selvagem. Eles disseram que melhores relatórios levam a melhores pesquisas sobre como mitigar e reduzir a quantidade de casos na pista e ao redor dela.

“O gerenciamento eficaz da fauna é benéfico para a proteção dos animais, das aeronaves e das pessoas a bordo”, declarou Mark Montgomery, diretor de operações do GSP.

Nos EUA, houve mais de 200.000 casos de colisões com animais em aeroportos nos últimos vinte anos, segundo dados da FAA, e houve mais de 16.000 no ano passado.

De 1988 a 2017, morreram 287 pessoas ao redor do mundo devido a colisões com animais selvagens que danificaram os motores, o que levou a pousos de emergência e quedas, de acordo com a FAA.

O Aeroporto Internacional de Charleston lidera de longe o índice de colisões na Carolina do Sul

Este ano, ocorreram desde 22 de novembro 13 colisões no GSP. Houve apenas três relatos em todo o ano de 1999, de acordo com a FAA, que mantém um banco de dados nacional de colisões com vida selvagem desde 1990.

“Queremos tirar o máximo de risco e incerteza possível da aviação”, disse Tyra. “Muitas pessoas estão encarregadas disso. Nosso pessoal de operações se desloca até lá duas vezes por dia. O departamento de polícia está em constante patrulha e é treinado para detectar qualquer evento… Nós monitoramos tudo.”

 

Tyra afirmou que, se os funcionários puderem identificar mais colisões com pássaros e tipos de espécies, será possível instruir melhor as autoridades do aeroporto sobre quais medidas são necessárias para manter os animais à distância.

“Estamos tentando descobrir onde há vida selvagem. Se é padrão ou se estamos tendo um aumento e precisamos adotar outra medida, ou se existe outro animal migrando que ainda não vimos”, disse Tyra.

Medidas simples como controlar a vegetação ao redor do aeroporto e cortar áreas escorregadias são algumas das adotadas pelo GSP e outros aeroportos. Outras ferramentas incluem canhões de ar e máquinas de ruído para espantar bandos de pássaros. Os dispositivos emitem sons altos para perturbar e assustá-los, forçando-os a sair da pista.

“Às vezes, é tão simples quanto dirigir até onde os pássaros estão reunidos e buzinar”, comentou Tyra.

Montgomery é um dos vários funcionários que patrulham regularmente os limites do aeroporto. Ele avistou um bando de cerca de vinte pássaros ao longo da pista 4 recentemente. O bando era da espécie borrelho-de-dupla-coleira, pequenas aves aquáticas muito comuns na América do Norte.

Depois de dirigir com o seu caminhão até elas e buzinar, ele dispersou os pássaros por um tempo, mas estes se estabeleceram nas proximidades e ainda representavam um perigo para a passagem de aviões e seus passageiros.

Então Montgomery decidiu usar pirotecnia. Ele disparou fogos de artifício no céu com uma pistola laranja e observou o bando voar apressadamente para uma distância segura, muito mais longe.

Como o GSP mantém as pistas livres de animais selvagens.

“Quando se trata de coisas assim, tentamos basicamente impedir que aconteça qualquer tipo de colisão com animais selvagens”, ele esclareceu. “É algo constante.”

“Os funcionários do GSP se deparam com esse cenário duas vezes por semana. Algumas vezes, os pássaros maiores não se assustam com as explosões, por isso são necessários tiros letais. Não é algo que gostamos de fazer, mas é um pássaro ou um avião”, informou montgomery. 

O vôo 1549 da US Airways chamou atenção nacional para as colisões com pássaros há quase 10 anos, em janeiro. Em 15 de março de 2009, o piloto Chesley “Sully” Sullenberger III e seu co-piloto Jeff Skiles pousaram com segurança um jato comercial no rio Hudson, depois de perderem os dois motores devido a uma colisão com gansos.

A aeronave Airbus A320 agora está em exibição para visitantes do Museu de Aviação, em Charlotte, de acordo com o site do museu. Atualmente, o museu está fechado, mas planeja reabrir em 2022 após a construção de uma nova instalação.

Na Carolina do Sul, houve 1.564 colisões com animais selvagens nos últimos 20 anos, com apenas um dano.

Com 191 casos no GSP, o aeroporto ocupa o quarto lugar no estado em número de casos nos últimos vinte anos. O aeroporto teve 49.927 decolagens e pousos em 2018, de acordo com o Sistema de Atividade de Tráfego Aéreo da FAA.

O Aeroporto Metropolitano de Columbia, com 52.862 decolagens e pousos em 2018, ocupa o terceiro lugar, com 262 acidentes nos últimos vinte anos. 

O Aeroporto Internacional de Myrtle Beach, com 123.323 decolagens e pousos em 2018, teve 320 colisões com animais selvagens nos últimos vinte anos. 

O Aeroporto Internacional de Charleston,  com 114.922 decolagens e pousos em 2018, teve o maior número de casos no estado, com 668.

Piloto que pousava no GSP foi atingido por um abutre e ficou ferido.

O número de colisões com animais não é uma indicação apropriada da eficácia da gestão da vida selvagem dos aeroportos, já que cada propriedade depende exclusivamente do terreno, região e habitat circundante, de acordo com o USDA.

“Só porque um aeroporto tem mais colisões, isso não significa que ele tem um risco maior”, disse Noel Myers, diretor estadual de Serviços de Vida Selvagem do Departamento de Agricultura dos EUA da Carolina do Sul. “É uma informação importante para este aeroporto em particular revisar quais são as tendências e o que precisamos fazer para analisar o que não vimos no passado”.

Mark Montgomery, um funcionário de operações do GSP, dispara uma rodada de fogos de artifício usada para assustar pássaros e outros animais das pistas na sexta-feira, 15.11.2019. (Foto: Josh Morgan/Equipe)

Apenas uma pessoa foi ferida em uma colisão com animais nos aeroportos da Carolina do Sul desde 1999. Um piloto sofreu arranhões no rosto quando um abutre colidiu com uma janela lateral de um avião particular enquanto se aproximava da pista no GSP em setembro de 2000.

“Os fones de ouvido do piloto foram arrancados e este teve cortes na face e na orelha”, segundo relatado no banco de dados da FAA. “Sangue e partes de pássaros espalharam-se pelo avião. O odor era horrível. O barulho do vento era extremo.”

Algumas colisões com animais selvagens também podem ser caras.

De 1988 a 2017, houve 263 aeronaves civis destruídas ou irreparavelmente danificadas devido a estas colisões em todo o mundo, de acordo com a FAA.

No GSP, os danos causados por colisões com a vida selvagem chegaram a US$ 392,330 desde 1999. Em todo o estado, esses casos foram responsáveis por US$ 3.2 milhões em danos a aviões.

Em 2009, um abutre-preto atingiu um avião operado pela Air Wisconsin Airlines durante a decolagem no GSP e danificou a caixa de oxigênio abaixo do pára-brisa. O custo dos danos foi de US$ 46,530.

As espécies mais comuns atingidas por aeronaves no GSP são o borrelho-de-dupla-coleira, a polícia-inglesa-do-norte e a rola-carpideira. Uma tartaruga-de-caixa-oriental, um coiote e um falcão de cauda vermelha também foram mortos no GSP.

O borrelho-de-dupla-coleira, a rola-carpideira e a andorinha-das-chaminés foram os três pássaros com maior incidência de morte em todo o estado. Animais inesperados também entraram na lista. Dois cangambás foram mortos no GSP em 2018. Uma tartaruga-de-orelha-vermelha foi morta no Aeroporto Internacional de Myrtle Beach em 2016. Um jacaré-norte-americano foi morto no aeroporto internacional de Charleston em 2016. Um coiote foi morto no Aeroporto Metropolitano de Columbia em 2008.

De acordo com a FAA, o banco de dados de colisões com animais selvagens permitiu que os fabricantes de aeronaves usassem esses dados coletados para projetar peças que possam suportar melhor os impactos.

Os dados também são usados pelos aeroportos para eliminar habitats que atraem animais selvagens perto das propriedades, segundo a FAA. Através das diretrizes da FAA, os aeroportos são obrigados a realizar avaliações de risco de vida selvagem e criar planos de gerenciamento de risco de vida selvagem.

Alguns aeroportos estão usando pirotecnia, canhões de ar, telas de LED e dispositivos de som como ferramentas para impedir que os animais entrem nas pistas e entrem no perigoso espaço aéreo. Muitos aeroportos ao redor do mundo estão implementando novas práticas e tecnologias para conter as colisões com vida selvagem, de acordo com relatos da mídia.

A PETA contesta a eficácia da prática do USDA em abater populações de animais

Alguns aeroportos americanos também usam os serviços de vida selvagem do USDA para abater populações de animais quando aves aquáticas e outros animais selvagens invadem o espaço do aeroporto. Abate de animais selvagens é a matança deliberada de animais como um meio de controle populacional.

Myers disse que o USDA geralmente ajuda os aeroportos a garantir as licenças necessárias para que as autoridades aeroportuárias possam atirar legalmente e usar métodos letais para remoção de animais dos aeroportos.

“É uma ameaça do ponto de vista de danos e também uma ameaça à segurança da aviação”, afirmou Myers. “Pessoas perderam a vida e é isso que estamos tentando evitar”.

Mark Montgomery, um funcionário de operações do GSP, dirige pelo aeroporto em busca de animais selvagens na sexta-feira, 15.11.2019. (Foto: Josh Morgan/Equipe)

Os líderes da organização ativista dos direitos dos animais People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) contestam a prática de abate do USDA como um meio de melhorar a segurança da aviação. Funcionários da PETA dizem que a ciência não apoia a ideia de que matar um número definido de animais é um meio eficaz de reduzir uma população.

“Com uma população menor no mesmo habitat, mais comida está disponível para essas espécies e esse aumento de comida leva a mais criadouros e, por fim, populações reabastecidas”, afirmou Kristin Rickman, gerente da divisão de resposta a emergências da PETA.

“Os seres humanos penetraram tão longe nas casas desses animais que os deixaram sem ter para onde ir”, disse Rickman. “A impressão é que a vida selvagem e a natureza deveriam existir apenas em parques, mas esses animais existem em todos os lugares”.

Ela disse que a PETA promove a modificação do habitat como a melhor maneira de reduzir as colisões com vida selvagem. Práticas como a instalação de barreiras às hidrovias próximas para dificultar o acesso a esses corpos de água para a vida selvagem.

Tais medidas são tomadas no GSP, disse Montgomery. Ele também afirma que, como muitos aeroportos, até as pistas são projetadas até um nível específico para impedir que a água se acumule, o que poderia atrair pássaros.

“Existem alguns aeroportos que usam uma variedade de técnicas diferentes para afastar pássaros em particular, mas também cervos e outros animais, das pistas e aeroportos”, disse Rickman.

Outros animais atingidos nos aeroportos de Carolina do Sul.

Myers disse que a opção letal é sempre secundária a outras técnicas e métodos de gerenciamento. Ele disse que mais aeroportos estão usando tecnologias mais recentes, incluindo sistemas de radar de pássaros para aeroportos maiores e redes penduradas para impedir que os pássaros construam ninhos.

“Estas são todas ferramentas de gerenciamento, apenas mais uma na sua bolsa de ferramentas”, disse Myers.

Myers liderou uma turma de estudantes da Clemson University em novembro para ensinar sobre o gerenciamento eficaz da vida selvagem, e ele planeja visitar o GSP para ter uma visão em primeira mão do problema.

“Queremos educar os próximos funcionários para que estejam melhor equipados para resolver essas coisas”, disse Myers.

Daniel J. Gross é um repórter investigativo de vigilância que se concentra na segurança pública e na aplicação da lei do The Greenville News

Por Daniel J. Gross / Tradução de Jéssica R. Beck

Fonte: Greenville Online

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