Stolen babies – Sobre o terror e a ternura de nascer!

Stolen babies – Sobre o terror e a ternura de nascer!

Por Sônia T. Felipe

Há uma voz, sem palavras, um som produzido pelo corpo, uma vibração que, para os animais formatados em culturas palavreadas, passa despercebida. O que por primeiro nos ensinam é a desaperceber as mensagens corporais. Seguimos no campo repleto de vibrações emitidas pelos corpos dos outros. Mas delas não tomamos ciência.

Ao nascer, o primeiro som, o grito de pavor, vem do bebê humano. Nascer é uma experiência pavorosa. Não é possível entrar na vida senciente com autonomia sem que se tenha rompido o cordão umbilical que une mãe e bebê. Nascer é o primeiro ato de liberdade animal. Seu preço é alto: o risco de morrer de fome, de frio, ou de medo.

Fome, frio e medo são três sensações básicas de orientação para a vida no espectro senciente. Cada animal as tem ao modo possível à sua espécie e a seu modo singular. Quem por primeiro está no campo e dá resposta protetiva às três emoções básicas da vida é a mãe. Afinal, foi seu calor, foram seus nutrientes e foi a sua proteção contra ameaças ambientais predatórias que promoveram a vida em seu estágio gestacional.

Quem está apta a decifrar a mensagem sem palavras da fome, do frio e do medo, do bebê, a não ser sua mãe? O cuidado da mãe ensina a ele como se cuidar e como preservar-se vivo. Nada disso ocorre quando o bebê é extraído à força do campo no qual sua mãe o protege e nutre, o campo amoroso. Nós não ouvimos seus gritos de pavor. Suas mães os ouvem ternamente. Emprestando sua voz aos bebês não humanos, Jully, no clipe “Stolen babies”, que vai ser lançado à zero hora do dia 12 de outubro, pelo Youtube, no canal jullymusik, ajuda-nos a aprender como ouvi-los.

Stolen Babies

Ao sequestrar os bebês no momento de sua maior fragilidade, o humano desfaz o vínculo amoroso de preservação da vida. Rompendo o campo de vibração da voz sem palavras, o campo da comunicação senciente entre mãe e filho, o humano rouba dos animais o direito emocional fundamental de estar na vida em plena contenteza por ter esse fazer e levar adiante esse saber, o de ser exatamente quem se é por ter nascido.

No sistema de produção de animais para diversão, experimentação, ornamentação e alimentação, roubamos os bebês de suas mães. Acima de tudo, roubamos deles a vida singular que seu desenho específico prometeu a eles ao nascer. Roubando sua contenteza de viver, nós os tornamos aquilo que nenhum animal – dotado de sensibilidade, emoções, inteligência e consciência – veio ser no planeta Terra: objetos, matérias descartáveis. E, com isso, roubamos do planeta Terra a presença viva e consciente da alegria e contentamento daquele animal.

A matança de animais em experimentações, em divertimentos e para comilança, nada mais é do que zooinfanticídio. As carnes são sempre músculos de bebês, ou de equivalentes em idade ao que seria a matança de bebês e de crianças humanas. Elas sabem a sangue, a sangue vermelho, porque com ele foram nutridas antes do nascimento, e a sangue branco, a leite, do qual foram nutridas após o nascimento.

Nascer é um ato de expressão da força da vontade de viver em determinada espécie. Seguir vivo, protegido da fome, do frio e de todo tipo de predação, dá ao pequeno animal a contenteza por estar vivo, que ele vai aprender com sua mãe a preservar por conta própria, até estar tão contente que tenha reservas para repassar aos seus próprios bebês.

Neste vídeo de extrema beleza – Stolen babies –, Jully reúne mães e seus bebês, e nos mostra o desespero delas e deles com o fato não natural, brutal, da privação de presença vibracional do amor. Com sua voz doce, Jully expressa a profunda tristeza de uma alma que foi forçada a nascer em um corpo levado para o desamparo e a morte, um destino que contraria o propósito do viver. Por fim, o que resta às mães e aos seus bebês é o desespero, a tristeza e a loucura. A vida no formato senciente nasce para a liberdade e a longevidade próprias dele. Sem perspectiva de realizar as duas promessas, resta o grito dolorido dos pequenos: “Mamãe, mamãe, onde está você? Roubaram-me a alma”. O pequeno não sabe, mas nós o sabemos: na sequência, eles serão degolados e seus músculos devorados por humanos mais do que bem providos de proteínas.

Animastê!

Jully
Conheça mais do trabalho de Jully em https://www.jullymusik.com.br/

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