Tráfico de animais silvestres e em risco de extinção inunda redes sociais em Goiás

Tráfico de animais silvestres e em risco de extinção inunda redes sociais em Goiás
Pássaros estão entre os animais mais comercializados. (Foto: Pedro Moura)

Responsável por movimentar mais de R$ 20 bilhões de dólares anualmente, o tráfico de animais é um dos comércios ilegais mais rentáveis do mundo e vem ganhando espaço nas plataformas digitais. Aves, mamíferos, anfíbios e até répteis. São desde animais comuns, exóticos, silvestres até aqueles que correm risco de extinção. Surpreende o leque de animais oferecidos por criminosos durante as enxurradas de anúncios nas redes sociais, principalmente no WhatsApp e Facebook.

Se passando por um ‘atravessador’, o repórter, por duas semanas, acompanhou os bastidores e negociou com traficantes de animais atuantes em todas as regiões do Brasil, inclusive, em Goiás. O valor dos ‘produtos’ (animais), desta que é a terceira atividade clandestina que mais gera dinheiro, atrás apenas do tráfico de drogas e armas, variam de acordo com a raridade de cada espécie. Os preços iniciais, por exemplo, vão de R$ 80 a R$ 20 mil.

“O casal de Araras Canindé consigo fazer para você por R$ 1,2 mil. O casal de Arara Azul é R$ 8 mil. O casal de Macaco Prego, R$ 10 mil. O Bugio Ruivo é R$ 7 mil, mas preciso de um prazo de 10 dias para o meu fornecedor capturar o baby. Porém, ele pede 50% do valor adiantado. Aí é com você, eu não tiro dinheiro do meu bolso nem fudend*. Esse preço é sem documento, com documento os preços mudam”, explica um dos criminosos que se identificou como Leo, morador de Itumbiara, com quem o Jornal Opção negociou.

Mais comuns

Entre as espécies mais comuns anunciadas no espaço cibernético e pelo próprio Leo estão: papagaios, pássaros de canto, tartarugas, araras vermelhas e azuis, além da famosa arara canindé e o pavão. Porém, para os clientes que procuram animais mais exóticos, há filhotes de jacaré, primatas (ameaçados de extinção), cobras (sem veneno e peçonhentas de outros países), iguanas e camaleões.

O Brasil, por ser um dos países mais riscos no quesito biodiversidade, contribui com 10% das vendas de animais silvestres em todo o mundo. Ou seja, o país está na mira dos criminosos. Por ano, 38 milhões de animais são retirados das florestas e matas. Destes, cerca de 4 milhões são comercializados. As regiões com maior índice de tráfico são: centro-oeste, norte e nordeste.

“O pangolim (africano) é o animal mais traficado do mundo. Já no Brasil, as aves estão no topo, principalmente araras, papagaios e periquitos. Todos os anos são retirados das matas milhares de animais para movimentar esse mercado, sendo esse um dos motivos para a grande destruição no que tange a fauna brasileira. Um ato ilícito e cruel, que através do sofrimento dos animais tem como objetivo a satisfação financeira dos traficantes” explica a Presidente da Comissão dos Direitos dos Animais da OAB, Pauliane Rodrigues.

Licença ilegal

Além dos animais, os criminosos também oferecem licenças ambientais falsificadas. Ao serem perguntados pelo repórter sobre procedência do documento, eles afirmam que é de ‘qualidade’, sendo feito por um servidor do próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Esse suposto servidor, seria um conhecido dos criminosos que também possui atuação no mundo do tráfico de animais.

Entretanto, a prática de venda e compra desse tipo de documento se enquadra em pelo menos três crimes, conforme o delegado Daniel José: falsificação de documento público, falsificação de documento particular e uso de documento falso, cujas penas somadas podem ultrapassar os 12 anos de prisão. Já o tráfico de animais, por outro lado, possui uma pena menor, de apenas um ano e multa.

Ainda de acordo com o investigador, todo sujeito que falsifica ou altera qualquer tipo de documento público ou particular pode ser preso, seja esse documento virtual ou físico como no caso dos atestados. Daniel diz ainda que a Internet fez com que esse tipo de crime aumentasse, assim como o tráfico de animais, devido a facilidade de obter e vender os produtos.

“A utilização da internet e das redes sociais pode gerar uma sensação no criminoso que ele está fazendo aquilo na obscuridade, mas esse tipo de crime como qualquer outro deixa vestígios, deixa a sua identidade, deixa o seu sinal”, explicou o delegado.

Todo o material levantado para fazer esta reportagem foi encaminhado à Polícia Civil (PC). A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) informou que irá investigar o caso.

Por Pedro Moura

Fonte: Jornal Opção

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