Tutores de animais denunciam hospital veterinário por maus-tratos e negligência em Maceió, AL
Tutores de cachorros que faleceram no Hospital Veterinário do Trabalhador (HVT), localizado no Barro Duro, em Maceió, denunciam que as mortes aconteceram por maus-tratos e negligência. Nesta quarta-feira (5), viralizou nas redes sociais um vídeo gravado por um destes tutores mostrando o corpo de Lock, um Husky Siberiano de apenas 7 meses que estava internado com uma pata quebrada.
Vídeo: Tutor mostra cão morto em clínica veterinária de Maceió; acusação é de negligência.
Em contato com o G1, o HVT informou que realizou os procedimentos necessários para garantir o bem-estar dos animais. “Temos câmeras de segurança desde o internamento do animal, que comprova que o animal foi limpo, o cliente vinha todo dia, teve o contato com o dono do hospital e, infelizmente, aconteceu essa fatalidade. O nosso objetivo como hospital é salvar vidas (leia a nota na íntegra ao final do texto).
Ronald Mickael é o tutor de Lock. No vídeo, dá pra ouvi-lo chorando pela perda do animal. Ele conta que Lock foi internado no HVT no dia 17 de abril, após uma fratura na tíbia em decorrência de um acidente doméstico. O veterinário de plantão examinou o animal, constatou a fratura e, no dia seguinte, o levou para uma cirurgia.
“Depois de 8 a 10 dias com a primeira cirurgia realizada, o cão começou a ficar com um cheiro podre de carne. O ambiente do hospital também estava sujo, mistura de xixi e fezes que estavam há muito tempo por lá. O médico deixou ele [o cão] internado lá e foi para casa da família, em Sergipe, e sem nenhum acompanhamento. No total paguei R$ 2.888 pela cirurgia, efetuei o pagamento e os funcionários recomendaram não levar o cachorro para casa porque ele poderia piorar, e que eu ia ser o responsável pela morte dele”, relatou o tutor do animal.
Os dias passaram e, na terça (27), o quadro de saúde de Lock voltou a piorar. Ele teve que passar por uma segunda cirurgia no sábado (1º). Nesse período o médico já estava novamente em Maceió. Mickael relatou que o animal estava sempre molhado, com mau cheiro e defecou sangue.
“Quando fui lá no hospital ver o Lock, eu senti um fedor de podre, vi uma cena deplorável, o cachorro estava sempre úmido. Na hora que peguei ele no colo vi que ele tinha defecado sangue nas minhas pernas. Foi nesse momento que achei um absurdo”, disse.
O médico veterinário que fez a cirurgia disse ao tutor do animal que tinha feito um exame e que ele estava com uma bactéria no estômago chamada Parvovirose canina. Segundo Mickael, o ambiente era pequeno, fazia calor a todo momento, não tinha refrigeração e o local onde Lock estava depois da cirurgia estava com fezes no chão de outros animais, que tinham outros tipos de doenças.
Nessa terça (4), o cirurgião ligou informando a morte do animal. No vídeo cedido ao G1 por Mickael, é possível ver o animal em uma mesa de cirurgia já morto. Também é possível ouvir o pai de Mickael gritando, cobrando explicações.
“Eles [os funcionários] estavam supondo que o cachorro teve Pavorvirose, uma bactéria no estômago. Eles fizeram exame na segunda-feira, mas até agora não tive acesso a essa documentação. Eu não tenho confiança lá. O filho do dono também estava lá [no hospital] e disse que a gente fosse procurar nossos direitos, debochando. Um absurdo”, disse.
Outros casos
Outra cliente do hospital também relatou à reportagem sobre o caso da sua cadela que fazia tratamentos no local. Nina, como era chamada, foi resgatada da rua em 2017 por Ilda Lourenço e sua família.
Em março deste ano, o animal começou a apresentar um inchaço na barriga e a família achou que ela estava prenhe. Nina foi levada para o HVT no dia 26 de março, onde os médicos disseram que ela precisava passar por uma cirurgia com urgência por causa de um inchaço no útero. A clínica cobrou quase R$ 2 mil pelo procedimento.
A clínica recomendou suplementos para o animal, mas ela foi piorando e, segundo Ilda, chegou a ficar fraca, desorientada e com tosse.
“Ela passou cerca de 10 dias na clínica e recebeu alta. Eles [funcionários da clínica] não cuidavam direito da cachorra. Minha mãe tinha que ir todo dia dar de comer pro animal, cuidar dela porque os funcionários não faziam isso. Depois de 1 semana ela deu entrada novamente, pois estava fraca. La eles informaram que ela estava com doença do carrapato. Ela passou mais alguns dias e recebeu alta. No dia da alta meu pai questionou ao veterinário sobre a tosse que ela estava apresentando. Ele só passou um xarope e não falou mais nada. Não fez mais exames e nem teste para saber o motivo da tosse”, contou Ilda.
Ilda relatou que depois de ter recebido alta do hospital, Nina ficou pior. A família da Nina a levou dia 29 de abril para outra clínica, onde fizeram novos exames e constataram que ela estava com imunidade baixa, muito fraca e que não poderia ter feito a cirurgia que foi realizada no HVT.
“A gente levou Nina para outra clínica para saber a verdadeira causa. A veterinária falou que ela não estava em condições nenhuma de fazer cirurgia porque ela estava com imunidade baixa. A médica falou que ela estava em um estágio avançado, com Cinomose, e o quadro dela era irreversível. Para não deixar ela sem andar e correr, optamos por realizar a eutanásia”, contou Ilda, emocionada.
No vídeo postado na internet pelos tutores de Lock, diversas pessoas comentaram que passaram ou que conheciam alguém que passou pela mesma situação no HVT.
Vídeo: Polícia Civil e OAB investigam denúncias contra o HVT.
Nesta quarta, o delegado Leonam Pinheiro, da Polícia Civil, também informou à reportagem que a polícia recebeu denúncias sobre o hospital e disse que vai apurar o caso, analisar e responsabilizar os proprietários do local. O dono do local foi intimado.
“A gente vai abrir um procedimento investigativo, o boletim de ocorrência já foi instaurado, os tutores do animal já foram ouvidos, como também outras pessoas foram ouvidas. O dono do local já foi intimado. A gente vai apurar as condutas do hospital”, disse o delegado.
A advogada da Comissão do Bem-estar Animal da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Alagoas (OAB-AL), Rosana Jambo, informou à reportagem que recebeu mais denúncias de pessoas que passaram pelas mesmas situações de Lock e Nina.
“Inúmeros casos já nos chegaram e nós informamos ser necessário registrar a queixa na polícia e também iniciar o processo ético disciplinar contra o médico (dono do hospital). Formalmente, quem tem os dados são o Conselho Regional de Medicina Veterinária e a Polícia. Tenho vídeos e relatos diversos de animais cirurgiados sem anestesia. Animais que vieram a óbito sem tratamento, maltratados”, disse Rosana Jambo.
Rosana também disse que o responsável pela clínica pode ser processado por crime de maus-tratos, com pena de 2 a 5 anos de prisão. Além disso, ele pode responder por erro médico, negligência, e receber um processo ético disciplinar do CRMV-AL.
Leia a íntegra da nota do HVT
Sobre o vídeo do animal que está circulando nas redes sociais, informamos que o animal já estava com a patinha quebrada, o animal era um paciente jovem, bebê e, portanto, inquieto. A placa do osso estava fora do local e é normal. Não foi culpa do dono, nem do animal, nem do hospital. Foi refeita essa cirurgia, após essa cirurgia o animal teve esse quadro de saúde.
Estamos aguardando o alvará do nosso advogado para nos posicionarmos sobre os casos. Temos câmeras de segurança desde o internamento do animal, que comprova que o animal foi limpo, o cliente vinha todo dia, teve o contato com o dono do hospital e, infelizmente, aconteceu essa fatalidade.
O nosso objetivo como hospital é salvar vidas e nosso local é um ambiente limpo. Ontem a gente só não conseguiu falar com o filho e o pai dele porque estavam exaltados e agitados. Eles chamaram o dono do hospital de assassino. Entendemos a dor do tutor do animal, mas o modo como ele agiu com os funcionários do hospital não foi bom.
A gente propôs fazer exame necrópsia, mas eles não quiseram. O cliente só teve um gasto único.
No HVT há 14 funcionários, 24 horas por dia e sempre disponíveis. Temos a parte do canil e gatil, mais de 50 cães e em média 20 gatinhos. Todos os animais têm ficha de protocolo. No local há um médico plantonista, um para atendimento e outro para acompanhamento.
Fonte: G1