Vídeo mostra momento em que Naja é deixada em shopping de Brasília, DF

Vídeo mostra momento em que Naja é deixada em shopping de Brasília, DF

Imagens do circuito de segurança do Shopping Píer 21 mostram o momento em que Gabriel Ribeiro, 24 anos, deixa a Naja kaouthia no estacionamento do estabelecimento. A gravação a qual o Metrópoles teve acesso com exclusividade também registra a apreensão da serpente, feita pelo Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) da PMDF.

O vídeo indica que os policiais chegaram cerca de um minuto depois que o jovem saiu do local.

O caso foi investigado pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama), após Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22, ser picado pela cobra, de origem asiática. A partir desse fato, os policiais colheram provas de que Pedro estaria envolvido com tráfico de animais, maus-tratos e que teve ajuda de familiares e amigos para ocultar as evidências e atrapalhar as investigações.

O vídeo, conforme o Metrópoles havia antecipado, colocou policiais do BPMA na investigação. Segundo o relatório final do inquérito, os militares agiram para proteger Gabriel e evitar a prisão em flagrante. A versão foi corroborada pelo depoimento do próprio jovem. À PCDF, ele admitiu que teve a “garantia” dos militares de que se entregasse o animal não seria preso.

Segundo os registros, o jovem chega ao local em uma caminhonete, às 18h14 de 8 de julho, um dia após Pedro ter sido atacado pelo animal. Gabriel desce rapidamente do veículo e deixa uma caixa de plástico, próximo a um barranco, nas redondezas do Píer 21, no Setor de Clubes Sul.

Ele estaciona o carro por volta às 18h15 e se dirige a uma escada. O rapaz fica mexendo no celular, enquanto espera. Ele fica exatamente 30 segundos aguardando. Menos de um minuto depois, a viatura da PM aparece e recolhe a Naja.

Pedro Krambeck chegou a ser preso pela Polícia Civil do DF. Rafaela Felicciano/Metrópoles
Na ocasião, ele estava no apartamento onde mora com a mãe e o padrasto, no Guará. Rafaela Felicciano/Metrópoles
O estudante de veterinária foi picado pela Naja que criava ilegamente. Foto: Reprodução
O rapaz chegou a ficar em coma após a picada da serpente. Reprodução
Nas redes sociais, ele ostentava fotos com diversos tipos de animais silvestres. Arquivo/Metrópoles
A polícia investiga a suspeita de que o rapaz tenha envolvimento com o tráfico de animais no DF. Arquivo/Metrópoles
Pedro foi detido no apartamento onde mora, no Guará. Arquivo/Metrópoles
Policiais na casa de Pedro na manhã do dia 29 de julho. Rafaela Felicciano/Metrópoles
No Brasil, não há Najas, logo, o soro que combate o veneno desse tipo de serpente é raro. Material Cedido ao Metrópoles
Ela costuma viver em regiões da África e da Ásia. Material Cedido ao Metrópoles
A Naja não é uma cobra típica do Brasil. Foto: Reprodução
Zoológico de Brasília fez ensaio fotográfico com cobra que picou estudante. Ivan Mattos/Zoológico de Brasília/Reprodução
Brasil não tem soro para o animal. Ivan Mattos/Zoológico de Brasília/Reprodução

A serpente não é natural de nenhum habitat brasileiro. Ivan Mattos/Zoológico de Brasília/Reprodução
Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília
A Naja foi transferida para o Butantan, em SP. Ivan Mattos/Zoológico de Brasília/Reprodução
Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília

No Zoo de Brasília, serpente ganhou espaço próprio para sua espécie. Ivan Mattos/Zoológico de Brasília/Reprodução  

Afastamento

O comando do BPMA foi afastado após as suspeitas. A PMDF também instaurou um inquérito militar para apurar a conduta dos profissionais. Entre eles, o ex-comandante do batalhão major Joaquim Elias Costa Paulino. Em 7 de agosto, durante uma entrevista ao Metrópoles, o major se defendeu. Afirmou que não sabia do curto lapso temporal e que tomou todos os cuidados para tentar prender o jovem.

“Eu sempre pedia para que ele ficasse perto da caixa para evitar que alguém pegasse. O meu objetivo com essa orientação era para evitar um novo acidente e, também, prendê-lo em flagrante. É claro que eu queria fazer essa prisão. Tomei todos os cuidados, ao chegar no shopping desligamos todas as luzes da viatura”, detalhou.

O policial reforça: “Eu sabia que se ele tivesse por perto poderia acabar se assustando com a sirene. Como estava de noite, era mais fácil chegar sem chamar atenção. Só pedi para o motorista ligar o farol quando fui pegar a caixa. Estava na dúvida se o animal realmente estava la dentro. Também, em um primeiro momento, não tive certeza se era mesmo uma Naja. Só confirmei após identificar as manchas características que ela tem nas costas”.

Major Elias foi indiciado por prevaricação, fraude processual, associação criminosa e coação no curso do processo.

No dia seguinte à apreensão da Naja kaouthia, os policiais militares retornaram à 14ª DP com mais 16 serpentes. Todos os animais pertencem a Pedro Henrique e não tinham documentação. Estavam escondidos dentro de uma baia de cavalo em um haras do núcleo rural Taquara, em Planaltina.

“Mais uma vez, a PMDF apresentou os animais arrecadados sem conduzir ninguém à delegacia. Sendo que, coincidentemente, após poucos instantes, compareceu a esta circunscricional ‘espontaneamente’ o filho do dono do haras e também amigo de Pedro Henrique e Gabriel Ribeiro”, diz o inquérito conduzido pela Polícia Civil. O rapaz foi ouvido e confirmou ter permitido que Gabriel escondesse as serpentes de Pedro no local.

PMDF/Divulgação
BPMA identificou o local
Foram 16 no total. PMDF/Divulgação
BPMA identificou o local. . PMDF/Divulgação
Elas estavam guardadas em caixas. PMDF/Divulgação
Dentro de uma baia de cavalo. PMDF/Divulgação
PMDF/Divulgação
PMDF/Divulgação

Hierarquia

Segundo o depoimento dos policiais militares que apreenderam os animais, a empreitada ocorreu após a equipe receber denúncia anônima. Os PMs narram que receberam um ponto de referência e acabaram encontrando um haras.

No imóvel, foram recebidos por um capataz, que indicou o local onde estavam as cobras. Os militares alegaram que não foi preciso conduzir a testemunha até a delegacia “pelo fato de residir ricamente naquele local”.

“Diante desse cenário, percebe-se que, desde o início da investigação, a autoridade policial responsável pela apuração vem encontrando severas dificuldades no tocante à obtenção de provas, o que decorre, lamentavelmente, da conduta praticada por policiais militares, especialmente o padrasto de Pedro, coronel Clovis Condi, e os policiais lotados no BPMA/PMDF comandado pelo major Elias Costa”, diz um dos trechos dos relatórios.

Condi é irmão do subcomandante-geral da corporação, Claudio Fernando Condi, e padrasto de Pedro Henrique. Assim como a mãe do rapaz, Rose Meire, ele também foi indiciado na Operação Snake.

Com relação ao coronel Clovis Eduardo Condi, embora ele tenha negado que tivesse conhecimento das serpentes encontradas com o enteado, há elementos que o ligam aos crimes, ainda segundo a PCDF. Os investigadores tiveram acesso a imagens do elevador do condomínio residencial da família e da casa de Gabriel Ribeiro, divulgado com exclusividade pelo Metrópoles.

As gravações mostram o militar ajudando a esconder cobras clandestinas. Condi, acompanhado por seu filho menor, retirou as serpentes do interior da residência da família e mandou, juntamente com Rose Meire, que Gabriel “desse sumiço” nos animais.

Confira todos os indiciados e os crimes:

  • Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl: tráfico de animais, associação criminosa e exercício ilegal da medicina.
  • Rose Meire dos Santos Lehmkuhl: fraude processual, corrupção de menores, tráfico de animais, maus-tratos e associação criminosa.
  • Clovis Eduardo condi: tráfico de animais, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa.
  • Gabriel Ribeiro: posse ilegal de animal silvestre, maus-tratos, fraude processual e corrupção de menores
  • Julia Vieira: posse ilegal de animal silvestre e corrupção de menores
  • Fabiana Sperb Volkweis: fraude processual
  • Raynner Leyf: posse ilegal, fraude processual e associação criminosa
  • Major Joaquim Elias: prevaricação, fraude processual, associação criminosa, coação no curso do processo.
  • Silvia Queiroz: fraude processual
  • Luiz Gabriel: favorecimento real
  • Gabriel Moraes: associação criminosa e maus-tratos

Por Mirelle Pinheiro 

Fonte: Metrópoles 

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