Biólogo e infoativismo salvam milhares de abelhas de serem queimadas no Ceará

Biólogo e infoativismo salvam milhares de abelhas de serem queimadas no Ceará
Foto ilustrativa / reprodução internet

Recentemente, uma matéria publicada pelo Olhar Animal chamou a atenção para um pedido desesperado do ambientalista Celso Santos, presidente do instituto que leva seu nome. O biólogo alertava sobre uma ordem de poda das árvores​ e execução das abelhas​ no​​ ​​Regional V pelo​ Corpo de Bombeiros​, que teria sido dada pelo governador​ ​Camilo Santana​, justificando a ação porque no local haveria um evento da entrega de uma delegacia após ter sido ​​reforma​da.

O caso teve um final feliz numa reviravolta surpreendente, quando, após anunciar em suas redes sociais que havia recebido uma ligação de uma inspetora informando que as abelhas haviam sido queimadas durante à noite, pouco tempo depois, Celso soube se tratar de uma “arapuca” para dissuadi-lo do salvamento.

Ao saber que as abelhas não haviam sido queimadas, o ambientalista realizou o resgate dos animais. A divulgação da ameaça de morte contra as abelhas em matéria no site Olhar Animal e a repercussão nas redes sociais impediu a queima imediata da colmeia. O ambientalista Celso Santos informou em nota que o barulho realmente inibiu os desmandos do governador do Ceará e do Corpo de Bombeiros, o que permitiu que ele tivesse tempo hábil para levar a colmeia sã e salva ao apiário ambiental – o que aconteceu no dia 4 de maio, conforme vídeo divulgado em seu perfil do Facebook.

As abelhas tiveram um bom destino, passando a viver no Campus da Universidade Federal do Ceará, mas Celso lamenta que a prática da destruição de colmeias por meio da queima ou de inseticidas é muito comum na cidade de Fortaleza. Segundo o Corpo de Bombeiros, por dia, são queimadas de 8 a 10 colmeias apenas no município. Ele alerta que, por mais que reconheçamos que a existência das colmeias e, consequentemente, destes insetos na região urbana seja problemática, é necessário ter consciência e responsabilidade para tratar da questão.

Em primeiro lugar, porque, apesar de serem​ insetos e dos possíveis transtornos ​que podem causar (especialmente para pessoas alérgicas) é necessário reconhecer que estas são protegidas pel​o ​Artigo 29 da Lei nº 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998 de Crimes Ambientais​
“Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”.

Em segundo lugar porque,​ desde o ano de 2016, as abelhas estão na lista de espécies ameaçadas de extinção, o que pode afetar não somente a cadeia alimentar e a biodiversidade local, como as plantas endêmicas da caatinga e, no âmbito nacional, as reservas de mata atlântica e de outras florestas que tem na polinização sua forma de reprodução. Além disso, as abelhas também são importantes na agricultura, devido a sua função de polinizadoras; sua extinção pode vir a acarretar prejuízos também na produção de alimentos nacional. A situação sem as abelhas pode ser tão devastadora, que os cientistas estão desenvolvendo abelhas-robô, como alternativa as abelhas convencionais para o caso de o processo de extinção se agravar.

O Brasil, como um dos signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica, estabeleceu uma “Iniciativa Internacional para Conservação e Uso Sustentável de Polinizadores” que visa promover uma ação mundial coordenada com os quatro objetivos principais:

1) Monitorar o declínio de polinizadores, sua causa e seu impacto sobre os serviços de polinização.

​2) Suprir a falta de informações taxonômicas sobre polinizadores;

3) Avaliar os valores econômicos de polinização e do impacto do declínio dos serviços de polinização​.

4) Promover a conservação, a restauração e o uso sustentável da diversidade de polinizadores na agricultura e ecossistemas relacionados.

Entretanto, reconhecemos que a urbanização em ritmo acelerado que ocorreu no Brasil, em especial entre as décadas de 1960 a 1980 tem contribuído para agravar os danos ao meio ambiente, incluindo com o a invasão de áreas antes ocupadas por vegetação nativa. Com o constante avanço das áreas urbanas, torna-se cada vez mais difícil pensar em uma relação harmoniosa (ou que cause mínimos conflitos) entre os seres humanos e os animais, especialmente a fim de garantir o bem-estar de ambos os lados. Para tal, este artigo busca procurar alternativas viáveis para a solução destes conflitos, minimizando os danos para ambos os envolvidos.

1) Existência de uma Delegacia do Meio Ambiente que possa ser acionada em casos de riscos ambientais de todo e qualquer tipo,

2) Transferência temporária (em caso de emergência) das abelhas na zona urbana, para o apiário da Universidade Federal do Ceará, do Parque Botânico ou qualquer outro apiário disponíveis para recebe-las.

3) Criação de apiários nas zonas rurais e/ou de vegetação nativa por todo o estado do Ceará.
Destaca-se ainda, a importância da substituição do plantio de Nim Indiano por espécies endêmicas da Caatinga, pois esta planta possui ação repelente não só para animais (como pequenos pássaros) como também age afastando e, por vezes, matando espécies nativas da região. É urgente que sejam feitos planos de remanejamento das colmeias em locais urbanos e que se estimule a conservação das mesmas a fim de evitar que a situação se agrave.

Por Luh Pires


Nota do Olhar Animal: Abelhas são seres sencientes tanto quanto qualquer mamífero, réptil, etc. E, portanto, merecem igual consideração moral. O sofrimento imposto a elas ao queimá-las vivas é similar ao que seriam submetidos cães, lagartos, gatos, tartarugas, cavalos e humanos se igualmente queimados.

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *