Filhotes de tubarão-limão, espécie ameaçada de extinção, são encontrados com anzol de pesca em Fernando de Noronha; VÍDEO
O resultado da primeira etapa da pesquisa do Projeto Tubarões e Raias com filhotes de tubarões em Fernando de Noronha foi divulgado nesta quinta-feira (15). Dos 36 tubarões-limão (da espécie Negaprion brevirostris) analisados no estudo, 22 foram capturados na Baía do Sueste e 14 no Porto Santo Antônio (veja vídeo acima). Dos animais capturados no porto, 53% estavam com anzol (seis filhotes) ou marca de anzol na boca (dois filhotes).
VÍDEO: Filhotes de tubarão-limão são encontrados com anzol de pesca em Fernando de Noronha
“Esse resultado é muito preocupante para a conservação. O tubarão-limão está atualmente ameaçado de extinção, e Noronha é um dos poucos refúgios para esses animais em águas brasileiras. Qualquer redução na população do tubarão-limão na ilha pode ser significativa para o futuro da espécie, não só em Fernando de Noronha, mas no mundo”, afirmou a coordenadora do projeto, Bianca Rangel, que também é pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).
Além desses filhotes capturados, quatro tubarões foram observados, por mergulhadores e condutores de visitantes, com anzol na boca e até mesmo no olho. A primeira etapa do estudo aconteceu entre 23 de janeiro e 5 de fevereiro de 2024. Os pesquisadores tentam descobrir os motivos da pesca irregular.
“Temos algumas hipóteses. Não sabemos se os filhotes estão sendo pescados de forma proposital. Recebemos informações que algumas pessoas realizam pesca noturna, sem muita experiência, e acabam usando o anzol de forma errada. Isso precisa ser investigado”, contou a coordenadora do Projeto Tubarões.
A pesca proposital de tubarão-limão é crime ambiental. Em janeiro deste ano, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) passou a investigar a pesca ilegal da espécie ameaçada de extinção.
Um grupo que praticava hidroginástica na Baía de Santo Antônio encontrou nadadeiras decepadas de filhotes e comunicou às autoridades. O caso também passou a ser investigado pela Polícia Federal. Até esta quinta-feira (15), os resultados das investigações não foram divulgados.
Estudo
O estudo com os filhotes tem o objetivo de avaliar a situação dos animais encontrados na área do Parque Nacional Marinho e os tubarões achados nas praias urbanas de Noronha.
“Queremos entender se a crescente urbanização e turismo em Fernando de Noronha têm algum impacto negativo na saúde, sobrevivência, movimentação, alimentação e no crescimento dos filhotes. Para isso, iremos comparar a fisiologia e o comportamento de filhotes entre as duas áreas de manejo da ilha: o Parque Nacional Marinho e a Área de Preservação Ambiental (APA)”, disse Bianca Rangel.
As capturas foram realizadas nas áreas rasas, com o uso de puçás e contaram com a colaboração voluntária de condutores de visitantes, mergulhadores e fotógrafos que fazem parte da equipe do projeto.
“A ajuda de colaboradores locais que não são cientistas é essencial para o sucesso do projeto. Além disso, esses cidadãos são multiplicadores de informações em Noronha. A participação ativa na pesquisa é muito importante para divulgarmos informações corretas dos procedimentos que realizamos no estudo”, declarou Bianca Rangel.
Ainda segundo a pesquisadora, as fêmeas de tubarões-limão têm entre 4 e 17 filhotes por gestação. O parto ocorre nas águas rasas da ilha após 11 ou 12 meses de gestação.
Os filhotes já capturados e estudados pela equipe do projeto podem ser identificados através de uma marca vermelha (tag) inserida atrás da primeira nadadeira dorsal dos animais. Após serem marcados, alguns dos filhotes podem permanecer na mesma praia ou se moverem para outros locais.
Um dos casos foi de um filhote marcado na Baía do Sueste e reavistado em uma das piscinas naturais da Praia do Leão. Os animais foram vistos por um casal de turistas que observavam a vida marinha no local.
“Desde o início da pesquisa, já tivemos muitos relatos e registros por vídeos e fotos dos filhotes marcados. A tag inserida no animal acaba gerando muita curiosidade dos visitantes e locais, o que torna uma excelente oportunidade para conversarmos mais sobre o assunto ‘tubarão’. Além disso, envolve ativamente todos na pesquisa científica dos filhotes”, declarou Bianca Rangel.
As pessoas que avistarem, fotografarem e filmarem tubarões marcados podem enviar o registro para a equipe do projeto Tubarões e Raias de Noronha no Instagram (@tubaroes.raias.noronha) ou pelo e-mail: [email protected].
Por Ana Clara Marinho
Fonte: G1