Polícia investiga esquema de venda de animais silvestres em grupos de mensagem

Polícia investiga esquema de venda de animais silvestres em grupos de mensagem
Animais silvestres são vendidos em grupos de redes sociais e feiras clandestinas no estado do Rio de Janeiro. Divulgação

A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) investiga grupos em redes sociais e feiras clandestinas que realizam tráfico de animais silvestres no estado do Rio de Janeiro. Em um dos grupos de aplicativo de mensagem investigado, intitulado “Vende Tudo RJ”, criminosos comercializam ilegalmente filhotes de macaco-prego, macaco mão-de-ouro, onça-parda, araras e papagaios por preços que variam entre R$ 5 mil a R$ 16 mil. O local de venda deste grupo acontece, em sua maioria, próximo ao Complexo do Alemão e na Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Além de animais, prints de mensagens mostram que até armamento e drogas são vendidos no grupo. Um fuzil, por exemplo, é anunciado pelo preço de R$ 60 mil. Veja as trocas de mensagens abaixo:

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A Polícia Civil registrou aumento no número de ocorrências relacionadas ao tráfico de animais silvestres no estado do Rio de Janeiro por conta do período de reprodução de algumas espécies. Somente neste ano, cerca de 2 mil animais foram apreendidos em ocorrência de vendas ilegais e encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS). Além disso, 144 criminosos foram presos, de acordo com dados do Comando de Policiamento Ambiental (CPAM).

Segundo o delegado Wellington Pereira Vieira, titular da DPMA, há diversas investigações em andamento na especializada, tendo como alvo quadrilhas especializadas. “Nesse período as ocorrências de apreensões aumentam porque os traficantes fazem a extração nos ninhais e trazem para o estado do Rio de Janeiro filhotes com poucos dias de vida. Muitos não sobrevivem”, explica Vieira.

Ao DIA, o biólogo e coordenador do Projeto Onças Urbanas, Izar Aximoff apresentou uma estimativa que gera danos graves à fauna silvestre. Segundo o especialista, para um animal vendido, nove morrem porque são transportados em situações de risco, como em pequenas gaiolas, sem água, debaixo de lonas e em altíssimas temperaturas. Para a captura, os pais desses animais também são mortos no processo. Ainda de acordo com Aximoff, o tráfico de animais, dentro das três tipificações – armas, drogas e animais – geram uma receita de cerca de 10 bilhões de dólares no mundo todo.

O macaco-prego é nativo do estado do Rio de Janeiro, no entanto, o macaco Mão de Ouro, que também é vendido no grupo “Vende Tudo RJ”, é do Norte e Nordeste do Brasil, tendo como agravante o fato de serem soltos fora do ambiente natural e viram pragas na natureza. “Esse também é o caso dos saguis. Esses animais que vemos na cidade do Rio de Janeiro, por todo lado, são animais exóticos e não são da Mata Atlântica. Ele causa sérios problemas. Todos esses animais são alvos do comércio ilegal”, explica.

De acordo com as investigações, os criminosos agem, em sua maioria, em duas frentes. São elas: através de anúncios em grupos de Whatsapp e Facebook, e também em feiras ilegais. O monitoramento dessas frentes de atuação é acompanhado pela DPMA. Em alguns casos, informações de inteligência de outros órgãos, como a Polícia Militar Ambiental e a Polícia Federal, ajudam na localização desses animais.

O caso mais recente foi da onça-parda resgatada na comunidade Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio, na última quarta-feira (14), por agentes da Polícia Federal (PF). Informações de inteligência da PF, com apoio das polícias Civil e Militar, fizeram com que os agentes chegassem até o animal silvestre, que estava sendo comercializado por R$ 20 mil. A onça-parda chegou ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Seropédica, na Baixada Fluminense, no dia seguinte.

A Polícia Civil também realiza também a ‘Operação Liberdade’, cujo objetivo é combater maus-tratos a animais, tráfico de animais silvestres e outros crimes ambientais. A operação está na 10ª fase, sendo a mais recente realizada em Japeri, na Baixada Fluminense, em agosto deste ano. Na ocasião, os agentes encontraram em um galpão um torneio de canto clandestino de pássaros silvestres. Ao todo, 15 pessoas foram presas e 32 aves apreendidas.

O coordenador do Projeto Onças Urbanas detalha que todo o processo realizado pelos criminosos para a venda de animais silvestres é ilegal. “A pessoa que caça, transporta, vende e compra está cometendo crime A fase do transporte, inclusive, tem um agravante, pois comete maus tratos”, explica.

No Brasil, a venda de animais silvestres é proibida por lei, com pena de seis meses a um ano e multa, podendo ser dobrada em casos específicos como espécies em extinção ou durante período de proibição de caça. No entanto, o biólogo Aximoff alega que a lei é muito branda com o crime ambiental. “Às vezes acaba valendo a pena para o criminoso, pois ele vende o animal por um preço alto e a multa que ele precisa pagar é baixa. Ou seja, o crime acaba compensando”, critica.

Para comprar um animal silvestre, é preciso que ele seja vendido através de um criadouro autorizado pelo Ibama e que forneça nota fiscal. “Nessas feiras os animais são vendidos e as notas fiscais entregues são notas frias, totalmente irregulares. É uma pena porque a fauna silvestre sofre muito. É importante que as pessoas se sensibilizem e comprem apenas em locais autorizados, ou melhor, que admirem o animal na natureza. Criar não é simples, esses animais têm necessidades alimentares específicas, podem adquirir problemas de saúde e até de crescimento”, aponta o biólogo.

A população pode denunciar o tráfico de animais silvestres por meio do Linha Verde, que é um programa do Disque Denúncia do Rio de Janeiro exclusivo para recebimento de informações sobre crimes ambientais, através do número 0300 253 1177.

Por Thalita Queiroz

Fonte: O Dia

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