Retalhado, jacaré morto com ovos ao lado expõe atropelamentos na BR-262

Retalhado, jacaré morto com ovos ao lado expõe atropelamentos na BR-262
Jacaré fêmea e seus ovos na BR-262, próximo ao trecho conhecido como Buraco das Piranhas. Foto: Direto das Ruas

O que era uma jacaré fêmea se preparando para botar ovos e dar continuidade à espécie no Pantanal sul-mato-grossense virou mais um corpo de animal retalhado no asfalto da BR-262, após atropelamento. A rodovia corta o município de Corumbá e passa por dentro do bioma.

A imagem foi feita nas proximidades do trecho conhecido como Buraco das Piranhas e enviada ontem (16) ao Campo Grande News. Hoje (17), a PMA (Polícia Militar Ambiental) confirmou ter recolhido outros jacarés mortos na mesma região, mas disse não ter encontrado a que aparece na foto.

Os atropelamentos desses animais acabam sendo mais frequentes nas épocas em que há seca e eles tendem a se deslocar em busca de água, explicou a PMA. Esse episódio, no entanto, ocorreu em pleno mês de chuvas. O período de secura no Pantanal habitualmente começa em maio.

Trecho crítico – Médico veterinário no IHP (Instituto Homem Pantaneiro), organização que desenvolve trabalhos de preservação no bioma, Geovani Tonolli alerta que o comportamento de animais selvagens, que podem atravessar a pista, exige a atenção dos motoristas para evitar mortes dos bichos e também de pessoas.

“Os caminhoneiros são os motoristas que mais transitam nesse trecho e estão diariamente na via. Mas veículos de passeio podem ter o perigo aumentado, pois o tamanho do carro é menor e uma colisão pode gerar um grave acidente, com lesionados ou morte”, afirma.

Trecho da BR-262, com vegetação à beira. Foto: Arquivo/Marcos Maluf
Trecho da BR-262, com vegetação à beira. Foto: Arquivo/Marcos Maluf

Ele ressalta que o trecho entre Corumbá e Miranda, onde a jacaré ovada foi vista, é um dos pontos mais trágicos para a vida selvagem. “A preocupação é maior porque tem áreas com registro de mata nas margens, onde pode haver maior incidência de animais atravessando a pista. Nesses locais, o motorista deve reduzir a velocidade para aumentar a capacidade de reação”, orienta.

“Além da morte de um animal, isso pode deixar um filhote sem os pais, pode ocasionar um desequilíbrio futuro que atrapalha até mesmo o espalhamento de parasitas e doenças. Temos que entender o Pantanal e suas conexões e buscar conservar”, finaliza Geovani.

Providências – No ano passado, o Campo Grande News mostrou protesto contra a falta de ações do poder público para evitar acidentes envolvendo animais e pessoas na BR-262.

Protesto com cadáveres de animais em frente à sede do Dnit em Campo Grande. Foto: Arquivo/Marcos Maluf
Protesto com cadáveres de animais em frente à sede do Dnit em Campo Grande. Foto: Arquivo/Marcos Maluf

Após, mostrou que um plano do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) começou a ser executado com essa finalidade. Ele inclui derrubada de árvores, cercamento e implantação de túneis subterrâneos para passagem.

1,4 mil mortes em 7 meses – Monitoramento mais recente do Icas (Instituto de Conservação de Animais Silvestres) identificou 1.456 animais mortos por colisões veiculares no trecho da BR-262 que começa em Campo Grande e vai até a ponte do Rio Paraguai, em Corumbá.

O número soma os corpos encontrados entre maio e dezembro do ano passado, sete meses. Foram monitorados aproximadamente 400 quilômetros de extensão.

Por Cassia Modena e Gabriela Couto

Fonte: Campo Grande News

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