Tortura de equinos

Tortura de equinos

Por Dr. phil. Sônia T. Felipe  

“Viaja na maionese” (frase usada em um comentário ao texto anterior sobre a tortura feita aos cavalos quando se usa o bridão) quem fecha os olhos para a tortura que estes apetrechos de equitação e tração causam aos animais: freios ou bridões, rédeas, selins, esporas e chicotes.

Os cavalos não evoluíram para expressar dor. Por isso eles mastigam o que lhes causa dor: o freio; e babam, por não conseguir engolir a saliva, sinais evidentes da tortura.

Se não podem engolir a saliva, alguma coisa está ali, atravessando sua língua e impedindo os músculos da língua, das cavidades bucais e da garganta, de exercerem suas funções naturais de deglutição.

Mesmo que consigam engolir parte da saliva, quando o caso é o de cavalos comandados por ferros atravessados na boca (bridão, freio, dê-se o nome que quiser, a realidade é a mesma para eles), as glândulas parótidas vão se atrofiando, chegando em alguns casos ao ponto de o animal apenas secretar uma baba grossa, uma espuma, em vez da saliva. E, então, suas mucosas faríngeas já estão desidratando ou desidratadas.

Alexander Nevzorov diz que se víssemos nossa avó, nosso bebê, algum amigo ou colega babando uma espuma densa, chamaríamos o socorro, porque é sinal de um quadro de risco grave. Mas produzimos isso nos cavalos e cegamos para os sinais que seus corpos nos enviam, pedindo que os livremos do ferro atravessado na boca. Baba grossa já é caso de lesão das parótidas por esforço repetitivo. E babar ou mastigar o freio é a linguagem corporal equina para nos avisar que algo está machucando. Eles pedem socorro. Mas quem ali está não está nem aí para a dor e o tormento deles.

E os dentes molares são danificados com o atrito do ferro sobre eles. Mas ninguém fala disso quando mostra imagens de humanos vestidos elegantemente montando cavalos em competições e “esportes”, ou vestidos miseravelmente, sentados em boleias a puxar o freio para comandar pela tortura os movimentos do cavalo, sem distinção alguma com os atos chiques dos grandes competidores. E há os que se vestem normalmente, e fazem o mesmo com os cavalos, forçados a puxar turistas em carroças enfeitadas fotografadas como cartão postal de muitas cidades, aqui e no exterior. Para o animal, a veste do seu torturador não importa, sua dor é imensa, igual, seja lá em qual caso for.

E a puxada das rédeas, cada vez, equivale a um choque neurocranial que deixa o animal por um segundo sem consciência alguma, cego completamente, porque ali na parte inferior da mandíbula passa o nervo neurocranial, praticamente sem proteção maior contra a compressão causada sobre ele pelo puxão da rédea. E as pessoas nunca entendem como o cavalo para tão mansinho, ao simples puxão da rédea pelo boleeiro ou cavaleiro. Não entendem. Porque anatomia e fisiologia de cavalos não se ensina na escola, em casa, nem na televisão. Só se mostra a vitrine, o espetáculo, não a tortura. Igual nos rodeios, nos quais os testículos do animal são amarrados para a performance de pinotes. E fingem que esses pinotes são a expressão do desejo do animal de jogar fora quem o monta. Não. É o desespero do animal porque está com os testículos amarrados.

E tudo isso causando imensa dor, sim. Viaja na maionese quem monta um animal e afirma que isso tudo não acontece, que o animal “ama seu senhor”. Pena que não senta de vez sobre a maionese e sim sobre o lombo do animal, causando-lhe outras atrofias, dessa vez na coluna.

E quem não tem paciência de esperar por outros textos, pode pedir os livros de Alexander Nevzorov e Lydia Nevzorova, os dois maiores estudiosos da fisiologia, anatomia e psicologia de cavalos torturados pela prática da equitação e da tração.

Se eles ainda “montam” cavalos? Sim. Infelizmente. Eles não são, ainda, abolicionistas. Mas os montam sem freios, sem esporas, sem cabrestos. Usam uma corda em volta do pescoço. E os cavalos fazem tudo o que se espera deles, sem chicote, sem punições, sem tortura. Mas não montam um animal a não ser por cinco minutos por dia, no máximo, quinze. É o limite para não atritar nem inflamar os tecidos das carnes debaixo da sela, nem sequelar a coluna vertebral do animal, cujos ossos não são lá de resistência imensa.

Se um dia os Nevzorov deixarão de mostrar que os cavalos podem fazer tudo o que querem sem uso de tortura, e cuidarão dos cavalos por simplesmente amá-los e respeitá-los, sem expectativa alguma de suas performances? Não sei. Espero que sim. Enquanto isso, é do material deles que dependo para me informar e poder informar a todas as pessoas aqui no Brasil, sobre o que de fato acontece ao cavalo quando o controlam com o bridão, a espora, o chicote e os arreios. Torquemada é fichinha diante do que fazem aos cavalos em nome das competições ou alegando precisar de força animal para tração, há mais de três mil anos.

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